Coroação de Napoleão Bonaparte

A coroação de Napoleão Bonaparte aconteceu no dia 2 de dezembro de 1804, sendo um evento de muito luxo em que Napoleão coroou a si mesmo como imperador da França. Esse evento foi resultado de toda a ação do militar francês para ampliar o seu poder. Napoleão procurou se espelhar em símbolos do passado, como os carolíngios.

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Contexto: Consulado

A ascensão de Napoleão Bonaparte deu início a um período de 15 anos que é conhecido como período napoleônico. A subida de Napoleão ao poder se deu por meio de um golpe, que foi planejado por ele e pelo abade Sieyès. O golpe começou a ser pensado no final da década de 1790, e o objetivo era garantir as conquistas da Revolução Francesa, ao mesmo tempo que atendia ao projeto de poder de Napoleão.

A coroação de Napoleão Bonaparte aconteceu em Paris, em dezembro de 1804, e foi parte do projeto de poder do militar francês.

O golpe ficou conhecido como Golpe de 18 de Brumário, foi realizado em novembro de 1799 e tornou Napoleão um dos governantes da França. Nessa altura, Napoleão já era um militar reconhecido em seu país, pois liderava tropas francesas contra as nações que lutavam contra os princípios revolucionários da França.

Depois do golpe, foi estabelecido um novo governo, que ficou conhecido como Consulado. Esse governo era formado por três cônsules, e Napoleão Bonaparte era um deles. Os outros cônsules eram Emmanuel Sieyès e Roger Ducos e, dentre os três, aquele que acumulava mais poderes era o próprio Napoleão.

Isso acontecia porque Napoleão ocupava o posto de primeiro-cônsul, cargo esse que tinha as maiores prerrogativas de poder no Consulado. Como maior autoridade do país, Napoleão idealizou uma série de reformas para a França e também reforçou a sua propaganda, visando garantir a conquista de mais poder.

Ele negociou a paz com a Inglaterra e realizou reformas na economia, justiça, educação, mexeu em áreas do governo e promoveu outras mudanças. Napoleão também investiu pesado na propaganda de sua imagem, a fim de tornar-se uma figura cada vez mais popular na sociedade francesa.

Uma das classes mais beneficiadas por essas reformas foi a burguesia francesa, que viu os privilégios da nobreza serem combatidos. Os burgueses foram os que mais prosperaram com a revolução e com as reformas de Napoleão. Assim, para essa classe, uma possível restauração do absolutismo e dos privilégios da nobreza seria desastrosa.

Desse modo, os interesses burgueses se alinharam com os interesses de Napoleão. Ele queria ampliar o seu poder e os burgueses queriam mantê-lo no poder para impedir que o absolutismo e os privilégios da nobreza fossem restaurados. A saída encontrada foi a de tornar Napoleão cônsul vitalício.

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Como Napoleão foi transformado em imperador?

Napoleão explorou a ideia de que a sua perpetuação no poder tornaria mais difícil o retorno dos Bourbon à França. Ser cônsul vitalício não era o suficiente, Napoleão queria mais poder. Assim, ele propôs a perpetuação do poder em sua família. A propaganda napoleônica também explorou as tentativas de assassinato que ele sofreu.

A Catedral de Notre-Dame foi o local onde aconteceu a cerimônia de coroação de Napoleão. Bonaparte.

O clima de medo sobre a ameaça de restauração monárquica criou um cenário propício para que Napoleão pudesse seguir em frente com seu projeto de ampliar seus poderes. Ele queria criar um império e obteve o apoio do Senado, em maio de 1804, para a possibilidade de conversão dele em imperador. Em novembro de 1804, foi a vez do povo de manifestar seu apoio ao projeto de Napoleão. Um plebiscito foi organizado e o resultado final foi positivo para o militar.

Coroação

A coroação de Napoleão como imperador aconteceu no dia 2 de dezembro de 1804, sendo um evento grandioso e realizado em um grande luxo. A cerimônia foi realizada na Catedral de Notre-Dame, localizada em Paris, e a escolha do local já demonstrava uma ruptura. Napoleão não quis ser coroado na Catedral de Reims, local onde os reis absolutistas franceses costumavam ser coroados.

Além de demonstrar essa ruptura com os reis absolutistas, Napoleão procurou explorar símbolos que o remetessem a dois grandes impérios: o Romano e o Carolíngio. Esses dois impérios eram vistos como símbolos de poder por Napoleão Bonaparte. Por fim, ele procurou demonstrar sua autonomia em relação à Igreja Católica.

A cerimônia contou com a presença do papa Pio VII, que realizou um sermão na ocasião. No entanto, o papa não coroou Napoleão, como era tradicionalmente feito nas cerimônias de coroação real. Napoleão Bonaparte coroou a si mesmo, uma demonstração de que ele não se subordinaria à Igreja Católica.

Depois de coroar a si mesmo, Napoleão coroou a sua esposa, Josefina, e fez um juramento em nome do Evangelho e dos princípios da Revolução Francesa. Ao todo, a cerimônia durou cerca de três horas.

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Imagens da coroação

Depois da coroação, Napoleão procurou preservar sua cerimônia como um dos grandes eventos da história e, para isso, deu a ordem para que Jacques-Louis David produzisse uma pintura que registrasse o momento (imagem a seguir). A pintura ficou pronta em 1807 e tinha 6 metros de altura por 9 metros de largura.

Coroação de Napoleão Bonaparte por Jacques-Louis David.[1]

É interessante notar, além das vestimentas e outros adornos presentes na obra, que o pintor francês pretendeu retratar o momento em que Napoleão tomou a coroa e a colocou com suas próprias mãos sobre sua cabeça. Napoleão havia conseguido negociar a ida do papa Pio VII a Paris para, dessa forma, reatar os laços entre o Estado francês e a Igreja, rompidos após a Revolução Francesa.

Como mencionado, de acordo com os rituais de consagração régia, a entidade religiosa era quem colocava a coroa na cabeça de um rei. Com sua atitude, Napoleão Bonaparte pretendeu se colocar acima do poder religioso. Esse ato também foi diferente do que foi feito pelo imperador carolíngio, Carlos Magno, séculos antes. Observe a imagem abaixo:

Carlos Magno, rei do Império Carolíngio nos séculos VIII e IX, foi coroado pelo papa Leão III.[1]

Na imagem, Carlos Magno é retratado ajoelhado frente ao papa Leão III e recebendo deste a coroa, em uma clara postura de submissão. Outra diferença diz respeito ao fato de que não foi o papa que se dirigiu à corte do imperador carolíngio, mas sim Carlos Magno que se dirigiu a Roma para ser coroado e estabelecer os laços com a instituição cristã.

Apesar de Napoleão tentar estabelecer uma ligação com o antigo imperador carolíngio, ele procurava colocar-se acima dele, tendo o papa como apenas um de seus convidados à cerimônia. O poder temporal estava, nesse momento, acima do poder religioso, contrariamente ao que mostrou a coroação de Carlos Magno.

A soberba de Napoleão não passaria despercebida por seus inimigos. Tendo os ingleses como principais inimigos em sua política de expansão imperial, Napoleão Bonaparte foi alvo de chacota por parte de um chargista inglês, James Gillray (1756-1815). Veja a imagem abaixo:

Obra de James Gillray que ridiculariza a coroação de Napoleão Bonaparte.[1]

Gillray era financiado pelo governo inglês para realizar seus trabalhos e, na obra “A grande procissão da coroação de Napoleão I, imperador da França”, exposta acima, ele pretendeu realizar uma paródia do quadro de Jacques-Louis David. Napoleão foi retratado como um rei de ópera-bufa, e os demais chefes de Estado da Europa foram colocados como maltrapilhos. O papa Pio VII estava aparentemente aborrecido com a situação na qual se via envolvido.

As imagens servem para que possamos pensar os fatos históricos de uma perspectiva que sai das fontes escritas, possibilitando apreender universos mais amplos que os sugeridos pelos historiadores.

Créditos da imagem

[1] Commons

Publicado por Daniel Neves Silva , Tales dos Santos Pinto
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