Dias Gomes

Dias Gomes nasceu em 19 de outubro de 1922, em Salvador, no estado da Bahia. Aos quinze anos de idade, escreveu sua primeira peça — A comédia dos moralistas. Era o início de uma carreira bem-sucedida como dramaturgo. Porém, além de peças teatrais, escreveu também para o rádio e para a televisão. Como autor de telenovelas, teve grande sucesso com Saramandaia (1976) e Roque Santeiro (1985). Sua peça O pagador de promessas (1959) foi adaptada para o cinema. O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1962.

As obras do escritor são caracterizadas pela temática sociopolítica e crítica à religião. Por isso, durante o período da Ditadura Militar (1964-1985), ele foi perseguido pela censura e se viu obrigado a usar pseudônimos em suas obras. Dias Gomes, que faleceu em 18 de maio de 1999, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 1991.

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Biografia

Da esquerda para a direita: Raphael de Almeida (de óculos), Ellen de Lima, Zezé Gonzaga e Dias Gomes, em 1958. |1|

Dias Gomes é o nome artístico de Alfredo de Freitas Dias Gomes, dramaturgo baiano, nascido em Salvador, no dia 19 de outubro de 1922. Com apenas quinze anos de idade, ele escreveu seu primeiro texto dramático, intitulado A comédia dos moralistas. Contudo, sua estreia como profissional de teatro ocorreu em 1942, com Pé de cabra, uma comédia censurada durante o regime ditatorial de Getúlio Vargas (1882-1954).

No ano seguinte, Dias Gomes começou a estudar Direito, mas não terminaria a faculdade. Assim, em São Paulo, na década de 1940, fez adaptações teatrais para a rádio Pan-Americana. Na década seguinte, trabalhou nas rádios Tupi, Tamoio, Clube do Brasil e Nacional, no Rio de Janeiro. Mas acabou sofrendo perseguição pelo fato de ser filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo demitido da rádio Clube do Brasil.

O escritor passou a usar pseudônimos nos textos que escrevia para a televisão, como uma forma de fugir da censura. Em 1959, sua peça O pagador de promessas fez grande sucesso e acabou sendo adaptada para o cinema, com a direção de Anselmo Duarte (1920-2009). O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1962, e foi o primeiro filme brasileiro a ser indicado ao Oscar. A obra também recebeu outros prêmios teatrais e cinematográficos, a saber:

  • Prêmio Nacional de Teatro (1960);

  • Prêmio Governador do Estado (1960) — São Paulo;

  • Melhor Peça Brasileira (1960);

  • Padre Ventura (1962);

  • Melhor Autor Brasileiro (1962);

  • Prêmio Governador do Estado da Guanabara (1962);

  • Festival de São Francisco (1962) — Estados Unidos;

  • Festival de Edimburgo (1962) — Escócia;

  • Festival da Venezuela (1962);

  • Festival de Cartagena (1962) — Colômbia;

  • Laureado no Festival de Acapulco (1962) — México;

  • Prêmio Saci (1962);

  • Prêmio Governador do Estado (1962) — São Paulo;

  • Prêmio Cidade de São Paulo (1962).

Com o golpe militar de 1964, seus textos teatrais foram bastante censurados. Para sobreviver, trabalhou na revista Civilização Brasileira, a partir de 1965. Até que foi contratado pela TV Globo, empresa para a qual escreveu muitas telenovelas desde o ano de 1969. Assim, o autor, que faleceu em 18 de maio de 1999, em São Paulo, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 1991.

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Estilo literário

As obras de Dias Gomes estão vinculadas à literatura contemporânea. Portanto, apresentam as seguintes características:

  • crítica social, política e religiosa;

  • sátira;

  • valorização da cultura popular;

  • realismo mágico ou fantástico;

  • temática regional e folclórica;

  • linguagem popular;

  • alegorias;

  • personagens caricatos;

  • ausência de utopia;

  • nacionalismo crítico;

  • fragmentação da narrativa;

  • apologia da liberdade;

  • oposição ao autoritarismo.

Obras

Capa do livro O pagador de promessas, de Dias Gomes, publicado pela editora Bertrand Brasil, do Grupo Editorial Record.

Literatura

  • Duas sombras apenas (1945)

  • Um amor e sete pecados (1946)

  • A dama da noite (1947)

  • Quando é amanhã (1948)

  • A tarefa ou Onde estás, Castro Alves? (1967)

  • Sucupira, ame-a ou deixe-a (1982)

  • Odorico na cabeça (1983)

  • Derrocada (1994)

  • Decadência (1995)

Teatro

  • A comédia dos moralistas (1939)

  • Esperidião (1939)

  • Ludovico (1940)

  • Amanhã será outro dia (1941)

  • Pé de cabra (1942)

  • João Cambão (1942)

  • O homem que não era seu (1942)

  • Sinhazinha (1943)

  • Zeca Diabo (1943)

  • Eu acuso o céu (1943)

  • Um pobre gênio (1943)

  • Doutor Ninguém (1943)

  • Beco sem saída (1944)

  • O existencialismo (1944)

  • O bom ladrão (1951)

  • Os cinco fugitivos do juízo final (1954)

  • O pagador de promessas (1959)

  • A invasão (1960)

  • A revolução dos beatos (1961)

  • O bem-amado (1962)

  • O berço do herói (1963)

  • O santo inquérito (1966)

  • O túnel (1968)

  • Amor em campo minado (1969)

  • As primícias (1977)

  • O rei de Ramos (1978)

  • Campeões do mundo (1979)

  • Olho no olho (1986)

  • Meu reino por um cavalo (1988)

Televisão

  • A ponte dos suspiros (1969)

  • Verão vermelho (1969-1970)

  • Assim na terra como no céu (1970-1971)

  • Um grito no escuro (1971)

  • Bandeira 2 (1971-1972)

  • O espigão (1974)

  • Saramandaia (1976)

  • Sinal de alerta (1978-1979)

  • Expresso Brasil (1987)

  • O boi santo (1988)

  • Noivas de Copacabana (1993)

  • O fim do mundo (1996)

Adaptações

  • O pagador de promessas — cinema (1962)

  • O bem-amado — telenovela (1973)

  • O bem-amado — seriado (1979-1984)

  • O rei do Rio (adaptação de O rei de Ramos) — cinema (1985)

  • Roque Santeiro (adaptação de O berço do herói) — telenovela (1985-1986)

  • O pagador de promessas — minissérie (1988)

  • Amor em campo minado — cinema (1988)

  • Decadência — minissérie (1994)

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O pagador de promessas

Na obra mais famosa de Dias Gomes — O pagador de promessas —, Zé do Burro é o personagem principal. Ele é casado com Rosa e dono do burro Nicolau, que, ferido na cabeça, fica à beira da morte. Zé, que tem muita afeição pelo animal, acaba fazendo uma promessa a Santa Bárbara. Se o burro sobreviver, Zé dividirá suas terras com os lavradores mais pobres do que ele e levará uma cruz nas costas, como Jesus, até a Igreja de Santa Bárbara.

Porém, a promessa é feita, em um terreiro de candomblé, a Iansã (equivalente a Santa Bárbara nessa religião). Assim, já que Nicolau sobreviveu, Zé do Burro, em companhia da esposa, leva a cruz nas costas até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. Sua intenção é entrar na igreja, com a cruz, e se ajoelhar em frente ao altar. Mas, para isso, ele precisa convencer o padre Olavo.

Sacristão dirige-se apressadamente à igreja. Para na porta, ante o olhar intimidador de Padre Olavo. É um padre moço ainda. Deve contar, no máximo, quarenta anos. Sua convicção religiosa aproxima-se do fanatismo. Talvez, no fundo, isto seja uma prova de falta de convicção e autodefesa. Sua intolerância — que o leva, por vezes, a chocar-se contra princípios de sua própria religião e a confundir com inimigos aqueles que estão ao seu lado — não passa, talvez, de uma couraça com que se mune contra uma fraqueza consciente.

Postado na escadaria da igreja, Zé do Burro quer cumprir sua promessa, mas é impedido por padre Olavo, o qual afirma que Zé fez promessa a Iansã, e não a Santa Bárbara: “Não é Santa Bárbara! Santa Bárbara é uma santa católica! O senhor foi a um ritual fetichista. Invocou uma falsa divindade e foi a ela que prometeu esse sacrifício!”. Enquanto isso, Rosa é seduzida pelo cafetão Bonitão, e um repórter sem escrúpulos decide se aproveitar da ingenuidade de Zé do Burro, que declara que só sai dali morto.

Créditos das imagens

|1| Domínio Público / Arquivo Nacional

|2| Reprodução / Editora Bertrand Brasil - Grupo Record 

Publicado por Warley Souza
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