Foco narrativo

O foco narrativo é o ponto de vista do narrador. Ele pode ser de primeira ou de terceira pessoa e está associado a um narrador personagem, observador ou onisciente.
O foco narrativo é o ponto de vista do narrador.

Foco narrativo é como chamamos o ponto de vista do narrador de uma história. Ele pode ser de primeira pessoa, quando o narrador é um personagem e, portanto, participa da ação. Mas também pode ser de terceira pessoa, quando o narrador não participa da ação. Nesse caso, o narrador é observador ou onisciente.

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Resumo sobre foco narrativo

  • O foco narrativo é a perspectiva do narrador de uma história.

  • Existem dois tipos de foco narrativo: o de primeira pessoa e o de terceira pessoa.

  • O foco narrativo é o que define o tipo de narrador de uma história.

  • O narrador pode ser personagem, observador ou onisciente.

O que é foco narrativo?

O foco narrativo é a perspectiva daquele que narra uma história, seja ela um conto, uma novela ou um romance. Isso porque o narrador conta uma história a partir de seu ponto de vista. Por exemplo, o narrador pode ser um personagem da história e, portanto, ter um conhecimento limitado dos fatos.

Ou ele pode estar de fora, apenas observando. E quando se observa algo, sem se envolver nos acontecimentos, a visão acerca dos fatos é mais ampla. Essa visão do observador ou do personagem que narra é o que chamamos de foco narrativo. Esse foco é ainda mais extenso se considerarmos um narrador que vê muito além da simples observação.

Quais são os tipos de foco narrativo?

Foco narrativo de primeira pessoa

O foco narrativo de primeira pessoa ocorre quando o narrador conta a história e também participa dos acontecimentos narrados. Esse tipo de foco narrativo não permite um conhecimento amplo por parte do narrador, pois ele está limitado somente àquilo que ele vivencia:

Márcia era a loura dos assaltos. Mais tarde, conheci outra loura dos assaltos, muitas louras dos assaltos. Cheguei mesmo a ter a impressão de que todas eram a loura dos assaltos! Coloquemos assim: Márcia era a loura dos assaltos à disposição de minha fantasia. Não a conhecia diretamente. Quando entrava em minha casa, seu amigo me pedia que virasse as costas e eu o fazia com exatidão: o suficiente para capturar sua silhueta em movimento e o suficiente para não reconhecê-la jamais.

Nesse trecho do livro O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira, o narrador participa da história. Isso é evidenciado pelo uso da primeira pessoa em, por exemplo: “conheci”, “cheguei”, “minha casa” etc.

Foco narrativo de terceira pessoa

O foco narrativo de terceira pessoa ocorre quando o narrador conta a história sem participar dos fatos narrados. Esse tipo de foco narrativo é usado tanto pelo narrador observador quanto pelo narrador onisciente. O observador é aquele que narra apenas o que ele observa:

[...], por volta das nove horas da noite, a hora do silêncio nas ruas, dois senhores chegaram à moradia de K. De sobrecasaca, pálidos e gordos, com cartolas aparentemente irremovíveis. Depois de uma breve formalidade à porta do prédio para ver quem entrava primeiro, a mesma formalidade se repetiu em dimensões ainda maiores à porta de K. [...], K. estava sentado em uma cadeira nas proximidades da porta, igualmente vestido de preto, e calçava devagar luvas novas, bem ajustadas aos dedos, na postura de alguém que espera convidados.

Nesse trecho do romance O processo, de Franz Kafka, percebemos que o narrador apenas conta aquilo que vê. Já o narrador onisciente possui um conhecimento mais amplo, sabe inclusive fatos do passado e do futuro dos personagens, além de conhecer seus pensamentos e desejos mais íntimos:

Se era inteligente, não sabia. Ser ou não inteligente dependia da instabilidade dos outros. Às vezes o que ele dizia despertava de repente nos adultos um olhar satisfeito e astuto. Satisfeito, por guardarem em segredo o fato de acharem-no inteligente e não o mimarem; astuto, por participarem mais do que ele próprio daquilo que ele dissera. Assim, pois, quando era considerado inteligente, tinha ao mesmo tempo a inquieta sensação de inconsciência: alguma coisa lhe havia escapado. A chave de sua inteligência também lhe escapava. Pois às vezes, procurando imitar a si mesmo, dizia coisas que iriam certamente provocar de novo o rápido movimento no tabuleiro de damas, pois era esta a impressão de mecanismo automático que ele tinha dos membros de sua família: ao dizer alguma coisa inteligente, cada adulto olharia rapidamente o outro, com um sorriso claramente suprimido dos lábios, um sorriso apenas indicado com os olhos, [...].

Nesse fragmento do conto Miopia progressiva, de Clarice Lispector, o narrador onisciente conhece intimamente as motivações dos personagens e as sensações vivenciadas por eles.

Veja também: Quais são os elementos da narrativa?

Foco narrativo x narrador

O narrador é aquele que conta uma história, ou seja, a voz literária que relata os fatos ocorridos em uma narrativa. Por sua vez, o foco narrativo é o ponto de vista desse narrador que conta determinada história. Assim, para sabermos qual é o seu ponto de vista, precisamos perguntar:

  • De que lugar ele narra?

  • Ele participa ou não da história narrada?

Dessa forma, o foco narrativo define o tipo de narrador de uma história. Como exemplo, vamos ler o seguinte trecho do conto Enterro da barata, de Geni Guimarães:

Quando eu perguntava que cor era o céu, me respondiam o óbvio: bonito, grande, azul etc. Não entendiam que eu queria saber do céu de dentro. Eu queria a polpa, que a casca era visível. Por isso foi que eu resolvi manter contato com as pessoas só em casos de extrema necessidade.

Note que a narradora é também personagem da narrativa, pois ela participa da história narrada. Portanto, ela narra de dentro da narrativa, esse é o lugar que ela ocupa, isto é, o seu ponto de vista é o de uma personagem, não o de uma simples observadora.

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura brasileira: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2015.

GABEIRA, Fernando. O que é isso, companheiro? São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.

GUIMARÃES, Geni. Enterro da barata. In: GUIMARÃES, Geni. Leite do peito. São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura, 1988.

KAFKA, Franz. O processo. Tradução de Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2012.

LISPECTOR, Clarice. Miopia progressiva. In: LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

PINHEIRO, Mírian Moema Filgueira. A TV como objeto de leitura da imagem no contexto escolar: uma pesquisa-ação com alunos do ensino médio. 2012. 424 f. Tese (Doutorado) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

Publicado por Warley Souza
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