Jane Austen
Jane Austen é uma escritora inglesa nascida em 16 de dezembro de 1775. Foi criada em um ambiente rural e clerical, mas no qual a arte e o conhecimento eram valorizados. Começou a escrever textos literários por volta dos 12 anos de idade. E com a idade de 20 anos, já tinha atingido certa maturidade artística.
Suas obras apresentam características de transição entre o Romantismo e o Realismo, falando sobre o amor e o casamento, mas sem idealizações, de forma que a realidade social da mulher de sua época, dependente financeiramente dos homens, é evidenciada. Aliás, por ser mulher, a autora publicou suas obras de forma anônima. Por isso, só depois de sua morte, em 18 de julho de 1817, o público ficou ciente de que era ela a autora de romances que caíram no gosto popular, como, por exemplo, Orgulho e preconceito.
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Biografia de Jane Austen
Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, Inglaterra. Seu pai, o clérigo George Austen (1731-1805), incentivava os oito filhos, inclusive as duas meninas, a estudarem. A mãe da escritora, Cassandra Austen (1739-1827), escrevia versos satíricos. Desse modo, Jane estava inserida em um universo rural e clerical, mas cercada também pela arte e pelo conhecimento.
Em 1787, Jane Austen começou a escrever, como atestam alguns de seus manuscritos. Mas foi em 1795 que ela iniciou a escrita do seu primeiro grande romance — Razão e sensibilidade. Entre 1796 e 1797, escreveu Orgulho e preconceito. Seu pai encaminhou tal obra a uma editora, mas ela foi recusada.
A escritora nunca se casou, mas, em 1802, aceitou o pedido de casamento do jovem Harris Bigg-Wither (1781-1833). Porém, no dia seguinte, mudou de ideia. No mais, pouco se sabe sobre a vida sentimental da escritora. Ao que consta, sua irmã Cassandra (1773-1845), após a morte de Jane, destruiu algumas de suas cartas e eliminou trechos de outras, com o intento, ao que parece, de preservar a privacidade de sua irmã.
Em 1803, seu romance intitulado A abadia de Northanger foi aceito por um editor, mas, por motivo desconhecido, a publicação não ocorreu. Com a morte do pai, em 1805, a escritora, juntamente com a mãe e a irmã, foi morar em Southampton. Quatro anos depois, em 1809, mudaram-se para a vila de Chawton. Foi por essa época que seu irmão Henry (1771-1850) entrou em contato com editores na tentativa de publicar as obras da irmã.
Assim, em 1811, Razão e sensibilidade foi publicado pela primeira vez, mas de forma anônima, isto é, sem o nome de sua autora. Em 1813, o livro Orgulho e preconceito foi publicado e se tornou bastante popular. Desse modo, em 1814, quando da publicação de Mansfield Park, as obras da autora faziam sucesso, eram bem-vistas pela crítica e, inclusive, receberam elogios de George IV (1762-1830), o príncipe regente.
No entanto, continuavam sendo publicadas de forma anônima, pois, na época, as mulheres não eram respeitadas, na sociedade, por sua capacidade intelectual. Assim, o nome Jane Austen era desconhecido quando, em 1816, a escritora experimentou os primeiros sintomas da doença de Addison, que causou sua morte em 18 de julho de 1817, em Winchester. Só então a autoria de seus romances foi divulgada, e Henry se encarregou de fazer isso.
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Características literárias de Jane Austen
Apesar de Jane Austen ser considerada, por alguns estudiosos, uma escritora romântica, devido ao seu período de produção, suas obras, na verdade, possuem características de transição entre o Romantismo e o Realismo inglês.
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Enredos irônicos
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Crítica social
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Protagonismo feminino
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Frustração amorosa
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Realismo doméstico
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Personagens burgueses e seu cotidiano
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Temáticas principais:
- amor;
- casamento;
- dependência feminina.
Obras de Jane Austen
- Amor e amizade (1790)
- Lady Susan (1794)
- Razão e sensibilidade (1811)
- Orgulho e preconceito (1813)
- Mansfield Park (1814)
- Emma (1815)
- A abadia de Northanger (1818)
- Persuasão (1818)
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Orgulho e preconceito
Orgulho e preconceito, publicado pela primeira vez em 1813, é o livro mais famoso de Jane Austen. Ele conta a história de amor entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy. Tudo começa quando o Sr. Bingley vai passar uns dias na propriedade vizinha à dos Bennet. O jovem, suas duas irmãs (Caroline e Louisa), seu cunhado (o Sr. Hurst) e um amigo (o Sr. Darcy) tornam-se a novidade na cidadezinha de Meryton.
Todos gostam de Bingley; porém, o jeito reservado de Darcy faz com que antipatizem com ele. A irmã de Elizabeth — Jane — e Bingley acabam se envolvendo amorosamente, mas as irmãs do rapaz não veem com bons olhos o relacionamento, pois consideram Jane integrante de uma família socialmente inferior. Dessa família, vale destacar o personagem Sr. Bennet, pai de Elizabeth, um homem inteligente e irônico.
Ele é descrito como “uma mescla tão estranha de tiradas rápidas, humor sarcástico, reserva e capricho”. Enquanto sua esposa é “uma mulher de compreensão medíocre, pouca informação e de temperamento incerto”, cujo sentido da vida é casar as filhas. Por isso, quando sabe da chegada de Bingley, quer logo que o marido faça uma visita ao rapaz. O Sr. Bennet então declara sobre suas filhas:
“Nenhuma delas pode recomendá-las muito”, ele replicou; “são todas bobas e ignorantes como as outras garotas; mas Lizzy [Elizabeth] tem um quê de agilidade mais do que suas irmãs”.
“Sr. Bennet, como pode falar mal de suas filhas a esse ponto? Você tem prazer em me irritar. Não tem compaixão pelos meus pobres nervos.”
“Você me interpreta mal, minha querida. Tenho muito respeito pelos seus nervos. Eles são meus velhos amigos. Ouço você mencioná-los com consideração nos últimos vinte anos, pelo menos.”
“Ah, você não sabe o quanto eu sofro.”
“Mas espero que você supere e viva para ver muitos jovens com quatro mil por ano chegarem à vizinhança.”|1|
Em uma festa, Darcy se mostra indiferente a Elizabeth, que tem o orgulho ferido. Essa personagem é uma jovem inteligente, sagaz, que logo se antipatiza com Darcy. Assim, ela se torna amiga de Wickham, inimigo do rapaz. Ela não sabe que o reservado Darcy, na verdade, começa a nutrir “sentimentos” por ela. Contudo, o Sr. Collins, primo de Elizabeth, precisa escolher uma esposa entre uma de suas primas e fica dividido entre as duas irmãs, que não gostam dele, pois é um tipo arrogante.
Bingley vai embora para Londres, para sofrimento de Jane, que acreditava que ele pediria sua mão em casamento. A atitude de Bingley é resultado da influência das irmãs e de Darcy, que convencem o rapaz de que Jane não o amava. Assim, Bingley confunde a timidez da moça com indiferença. Elizabeth, então, toma as dores da irmã, e seu ódio em relação a Darcy aumenta ainda mais. Porém, ao conhecer melhor o rapaz, ela descobre ser ele um homem honrado e justo.
Elizabeth descobre que Wickham seduziu e abandonou Georgiana, a irmã de Darcy, quando ela estava com 15 anos. E o pior acontece, pois a outra irmã de Elizabeth — Lydia — foge com Wickham. Darcy é quem ajuda a família Bennet e resgata a honra de Lydia ao fazer com que Wickham se case com ela. A essa altura, Elizabeth já está apaixonada por Darcy, que pede sua mão em casamento. Além disso, Bingley e Jane também se entendem e logo se casam.
Desse modo, a jovem protagonista Elizabeth, uma mulher inteligente, de personalidade forte, com pensamento independente, precisa vencer o orgulho e o preconceito para encontrar a felicidade. Assim, como pano de fundo para a história de amor, Jane Austen mostra a dependência das mulheres de sua época em relação ao casamento, já que não tinham autonomia financeira, e o preconceito de classe daquela sociedade.
Nota
|1| Tradução de Marcella Furtado.
Crédito da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)