Contracultura

Contracultura é um movimento de questionamento e negação da cultura vigente que visa quebrar tabus e contrariar normas e padrões culturais que dominam uma determinada sociedade. Em geral, as ações de contracultura surgiram de jovens descontentes com a vida e os padrões estabelecidos por seus pais. O auge desse movimento deu-se nos Estados Unidos, com o movimento hippie, na década de 1960, em covergência ao ápice da Guerra Fria, e estendeu-se para a década de 1970, na Inglaterra, com o movimento punk.

O que é contracultura?

A essência da contracultura encontra-se na contrariedade de normas e padrões estabelecidos socialmente. As sociedades sempre criaram hábitos, costumes e padrões considerados como a normalidade da ação das pessoas, criando assim uma cultura. Dentro de uma sociedade, a cultura tende a tornar-se hegemônica, ou seja, a estabelecer-se como um padrão de comportamento que deve ser seguido por todos. Nesse sentido, a contracultura vem para questionar as normas hegemônicas como forma de indicar que algo na cultura está errado e deve ser modificado.

Multidão de jovens no Festival de Woodstock, um marco da contracultura em 1969. [1]

Em geral, as ações de contracultura foram produzidas por jovens, por conta do cansaço enfrentado por eles em relação às regras que eles mesmos não criaram, mas que eram obrigados a seguir. Assim, os movimentos de contracultura questionaram não só os padrões de comportamento social, mas a religião, o sexo, as instituições sociais (como a família, o casamento, a Igreja, a escola, o Estado, a polícia, o exército e o trabalho) e os padrões estéticos.

A rebeldia é marcante nas ações de contracultura, pois ela é a arma pela qual as pessoas passaram a lutar contra as imposições. A não aceitação dos padrões é essencial para que se tenha uma eficaz mudança de comportamento social e indica que os movimentos de contracultura lutavam, no fundo, por mais liberdade.

Estiveram associados à contracultura temas como o feminismo (que se intensifica a partir dos anos de 1960, engendrando a segunda fase do feminismo, a qual visava questionar padrões de comportamento feminino e lutar pela liberdade sexual da mulher); a cultura da paz em oposição às guerras, como a Guerra do Vietnã; o rock and roll como movimento musical de contestação dos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade; e a contestação política contra a opressão social, por classe social, gênero ou cor, estabelecida por grupos de lutas pelos direitos de igualdade.

Esse movimento também foi fundamental para o desenvolvimento de protestos contra o autoritarismo político que ocorreram, em maio de 1968, em vários países, como França, Estados Unidos e Brasil (o nosso país vivia, em 1968, os anos mais repressores da Ditadura Civil-Militar, 1964 a 1985).

Cultura e contracultura

O conceito de cultura é, em geral, um conjunto de saberes, técnicas, artes, religiões, hábitos e costumes de um povo. Normalmente, esse conjunto torna-se uma regra social dentro da comunidade em que está inserido, e tudo aquilo que se desvia dele é considerado estranho e anormal. A contracultura é o movimento de contestação da cultura que tenta desafiar os padrões de comportamento estabelecidos pela sociedade.

Ao contrariar os padrões estabelecidos, a contracultura tenta mostrar que há uma falha cultural que deve ser identificada e corrigida, a fim de estabelecerm-se novos modos de vida e novas maneiras de encarar o mundo.

Guerra Fria

Um dos fatores decisivos para a revolta dos jovens contra o sistema cultural hegemônico foi a Guerra Fria. O mundo estava polarizado em dois blocos econômicos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética. Dentro do bloco capitalista, havia a promoção de um modo de vida burguês baseado no consumo e no respeito às instituições.

Contraditoriamente, o modo de vida burguês pregava também uma ideia de liberdade, que, para a maioria dos jovens de classe média, não fazia sentido. Esses eram estimulados a estudar, trabalhar em empregos que reproduzem a lógica capitalista, constituir família e consumir. O que era feito fora desse ciclo era considerado anormal.

Para os jovens da década de 1960, isso não era liberdade, visto que eles não podiam expressar-se e levar a sua vida livremente. Do mesmo modo, as mulheres ainda eram vistas como peças secundárias em uma sociedade extremamente sexista. Era papel da mulher apenas ser uma boa esposa e mãe.

A Guerra no Vietnã levou os jovens dos Estados Unidos a rebelarem-se contra a cultura americana. A tradução da placa diz: Tire o inferno do Vietnã.

No campo político, os jovens norte-americanos revoltavam-se com uma guerra sem sentido, a Guerra do Vietnã, que visava apenas mostrar a superioridade do bloco capitalista sobre o bloco socialista (o Vietnã passava por um governo socialista).

Nesse evento, vários vietnamitas inocentes foram mortos e vários jovens norte-americanos foram convocados para a guerra, sendo que muitos deles voltaram com sequelas físicas e psicológicas ou morreram lá. Tudo isso contribuiu para uma revolta contra o sistema cultural e político vigente.

Movimento hippie

O movimento hippie tem seu embrião e sua principal inspiração num movimento, iniciado nos Estados Unidos no período pós-guerra, chamado movimento beat ou beatnik. Os beatniks eram poetas e escritores defensores da liberdade criativa, da busca pelo prazer (hedonismo) e da contrariedade aos padrões sociais e culturais vigentes. Eles buscaram uma vida nômade, sem raízes certas, e buscaram no consumo de drogas e no sexo livre uma escapatória para a aparente falta de sentido da vida cotidiana burguesa.

Os escritores beat buscaram na filosofia existencialista o fundamento para os seus escritos: a ideia de que não há essência humana, pois o ser humano faz-se enquanto vive. Dentre os nomes da geração beat, podemos destacar três: William Burroughs, Allen Ginsberg e Jack Kerouac.

Inspirados pelo hedonismo beat, pela ideia de liberdade e pela falta de sentido da vida burguesa cobrada por seus pais, associada ao capitalismo e à opressão política, muitos jovens começaram a viver de maneira nômade, praticando o sexo livre e a contrariedade às normas sociais. Eles pregavam a liberdade total: viver como quiser, onde quiser, sem amarras, desde que haja respeito pela liberdade do outro. Encontravam nas drogas e no sexo o prazer que buscavam e pregavam o respeito e o contato com a natureza.

O movimento feminista ganhou força no meio hippie por conta da busca pela liberdade sexual feminina. Do mesmo modo, movimentos negros, como as Panteras Negras, que lutavam contra a política de segregação racial, ganharam destaque por conta da ideia de igualdade entoada pelo movimento hippie.

Jimi Hendrix

O rock and roll, estilo musical que surgiu na década de 1950 inspirado pelo rhythm and blues e pelo jazz, virou o hino dos hippies. Nesse cenário, destacaram-se nomes, como a cantora Janis Joplin, o guitarrista e cantor Jimi Hendrix, a banda The Doors, o guitarrista Santana, dentre outros. Joplin, Hendrix e Santana participaram do grande festival Woodstock.

  • WoodstockFestival

A cantora Janis Joplin foi uma das atrações do festival e um importante símbolo para o movimento hippie.

O Woodstock Music and Art Fair (Feira de Música e Arte Woodstock) foi um festival de música que aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, em uma fazenda na cidade de Bethel, no estado de Nova York. A organização do festival preparou uma estrutura para receber 50 mil pessoas, no entanto, compareceram cerca de 500 mil pessoas no festival.

O objetivo do festival era reunir pessoas com um mesmo ideal: a promoção da paz e da liberdade e a divulgação do rock. Centenas de milhares de hippies foram para Woodstock na intenção de expressar a sua liberdade, tornando o festival um marco na promoção da contracultura no mundo.

Créditos de imagem

[1] Flominator/Commons

Publicado por Francisco Porfírio
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