Contracultura
Contracultura é um movimento de questionamento e negação da cultura vigente que visa quebrar tabus e contrariar normas e padrões culturais que dominam uma determinada sociedade. Em geral, as ações de contracultura surgiram de jovens descontentes com a vida e os padrões estabelecidos por seus pais. O auge desse movimento deu-se nos Estados Unidos, com o movimento hippie, na década de 1960, em covergência ao ápice da Guerra Fria, e estendeu-se para a década de 1970, na Inglaterra, com o movimento punk.
O que é contracultura?
A essência da contracultura encontra-se na contrariedade de normas e padrões estabelecidos socialmente. As sociedades sempre criaram hábitos, costumes e padrões considerados como a normalidade da ação das pessoas, criando assim uma cultura. Dentro de uma sociedade, a cultura tende a tornar-se hegemônica, ou seja, a estabelecer-se como um padrão de comportamento que deve ser seguido por todos. Nesse sentido, a contracultura vem para questionar as normas hegemônicas como forma de indicar que algo na cultura está errado e deve ser modificado.
Em geral, as ações de contracultura foram produzidas por jovens, por conta do cansaço enfrentado por eles em relação às regras que eles mesmos não criaram, mas que eram obrigados a seguir. Assim, os movimentos de contracultura questionaram não só os padrões de comportamento social, mas a religião, o sexo, as instituições sociais (como a família, o casamento, a Igreja, a escola, o Estado, a polícia, o exército e o trabalho) e os padrões estéticos.
A rebeldia é marcante nas ações de contracultura, pois ela é a arma pela qual as pessoas passaram a lutar contra as imposições. A não aceitação dos padrões é essencial para que se tenha uma eficaz mudança de comportamento social e indica que os movimentos de contracultura lutavam, no fundo, por mais liberdade.
Estiveram associados à contracultura temas como o feminismo (que se intensifica a partir dos anos de 1960, engendrando a segunda fase do feminismo, a qual visava questionar padrões de comportamento feminino e lutar pela liberdade sexual da mulher); a cultura da paz em oposição às guerras, como a Guerra do Vietnã; o rock and roll como movimento musical de contestação dos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade; e a contestação política contra a opressão social, por classe social, gênero ou cor, estabelecida por grupos de lutas pelos direitos de igualdade.
Esse movimento também foi fundamental para o desenvolvimento de protestos contra o autoritarismo político que ocorreram, em maio de 1968, em vários países, como França, Estados Unidos e Brasil (o nosso país vivia, em 1968, os anos mais repressores da Ditadura Civil-Militar, 1964 a 1985).
Cultura e contracultura
O conceito de cultura é, em geral, um conjunto de saberes, técnicas, artes, religiões, hábitos e costumes de um povo. Normalmente, esse conjunto torna-se uma regra social dentro da comunidade em que está inserido, e tudo aquilo que se desvia dele é considerado estranho e anormal. A contracultura é o movimento de contestação da cultura que tenta desafiar os padrões de comportamento estabelecidos pela sociedade.
Ao contrariar os padrões estabelecidos, a contracultura tenta mostrar que há uma falha cultural que deve ser identificada e corrigida, a fim de estabelecerm-se novos modos de vida e novas maneiras de encarar o mundo.
Guerra Fria
Um dos fatores decisivos para a revolta dos jovens contra o sistema cultural hegemônico foi a Guerra Fria. O mundo estava polarizado em dois blocos econômicos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela União Soviética. Dentro do bloco capitalista, havia a promoção de um modo de vida burguês baseado no consumo e no respeito às instituições.
Contraditoriamente, o modo de vida burguês pregava também uma ideia de liberdade, que, para a maioria dos jovens de classe média, não fazia sentido. Esses eram estimulados a estudar, trabalhar em empregos que reproduzem a lógica capitalista, constituir família e consumir. O que era feito fora desse ciclo era considerado anormal.
Para os jovens da década de 1960, isso não era liberdade, visto que eles não podiam expressar-se e levar a sua vida livremente. Do mesmo modo, as mulheres ainda eram vistas como peças secundárias em uma sociedade extremamente sexista. Era papel da mulher apenas ser uma boa esposa e mãe.
No campo político, os jovens norte-americanos revoltavam-se com uma guerra sem sentido, a Guerra do Vietnã, que visava apenas mostrar a superioridade do bloco capitalista sobre o bloco socialista (o Vietnã passava por um governo socialista).
Nesse evento, vários vietnamitas inocentes foram mortos e vários jovens norte-americanos foram convocados para a guerra, sendo que muitos deles voltaram com sequelas físicas e psicológicas ou morreram lá. Tudo isso contribuiu para uma revolta contra o sistema cultural e político vigente.
Movimento hippie
O movimento hippie tem seu embrião e sua principal inspiração num movimento, iniciado nos Estados Unidos no período pós-guerra, chamado movimento beat ou beatnik. Os beatniks eram poetas e escritores defensores da liberdade criativa, da busca pelo prazer (hedonismo) e da contrariedade aos padrões sociais e culturais vigentes. Eles buscaram uma vida nômade, sem raízes certas, e buscaram no consumo de drogas e no sexo livre uma escapatória para a aparente falta de sentido da vida cotidiana burguesa.
Os escritores beat buscaram na filosofia existencialista o fundamento para os seus escritos: a ideia de que não há essência humana, pois o ser humano faz-se enquanto vive. Dentre os nomes da geração beat, podemos destacar três: William Burroughs, Allen Ginsberg e Jack Kerouac.
Inspirados pelo hedonismo beat, pela ideia de liberdade e pela falta de sentido da vida burguesa cobrada por seus pais, associada ao capitalismo e à opressão política, muitos jovens começaram a viver de maneira nômade, praticando o sexo livre e a contrariedade às normas sociais. Eles pregavam a liberdade total: viver como quiser, onde quiser, sem amarras, desde que haja respeito pela liberdade do outro. Encontravam nas drogas e no sexo o prazer que buscavam e pregavam o respeito e o contato com a natureza.
O movimento feminista ganhou força no meio hippie por conta da busca pela liberdade sexual feminina. Do mesmo modo, movimentos negros, como as Panteras Negras, que lutavam contra a política de segregação racial, ganharam destaque por conta da ideia de igualdade entoada pelo movimento hippie.
O rock and roll, estilo musical que surgiu na década de 1950 inspirado pelo rhythm and blues e pelo jazz, virou o hino dos hippies. Nesse cenário, destacaram-se nomes, como a cantora Janis Joplin, o guitarrista e cantor Jimi Hendrix, a banda The Doors, o guitarrista Santana, dentre outros. Joplin, Hendrix e Santana participaram do grande festival Woodstock.
-
WoodstockFestival
O Woodstock Music and Art Fair (Feira de Música e Arte Woodstock) foi um festival de música que aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, em uma fazenda na cidade de Bethel, no estado de Nova York. A organização do festival preparou uma estrutura para receber 50 mil pessoas, no entanto, compareceram cerca de 500 mil pessoas no festival.
O objetivo do festival era reunir pessoas com um mesmo ideal: a promoção da paz e da liberdade e a divulgação do rock. Centenas de milhares de hippies foram para Woodstock na intenção de expressar a sua liberdade, tornando o festival um marco na promoção da contracultura no mundo.
Créditos de imagem
[1] Flominator/Commons