Whatsapp icon Whatsapp

13 de maio – Dia da Abolição da Escravatura

 O dia 13 de maio tem uma grande importância no Brasil, pois nessa data, em 1888, foi assinada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão. Com a assinatura dessa lei, aproximadamente 700 mil escravos foram libertos de sua condição. A abolição da escravatura foi um processo lento e gradual conduzido pelas elites do Brasil de uma maneira conservadora. Os negros libertos não receberam nenhum tipo de auxílio para sua integração na sociedade brasileira.

Leia também: 19 de abril - Dia do Índio

Processo abolicionista

O processo de abolição da escravatura no Brasil, politicamente falando, aconteceu a partir da década de 1870 em diante. Os grupos abolicionistas começaram a se estruturar logo após a Guerra do Paraguai, e um efeito prático do fortalecimento dessa causa no Brasil foi o decreto da Lei do Ventre Livre.

O processo de abolição no Brasil, no entanto, foi extremamente gradual e conduzido de maneira muito conservadora pelas elites políticas do nosso país. A lentidão desse processo foi uma prática do Brasil desde logo após a independência, uma vez que até a proibição do tráfico negreiro foi conduzida da maneira mais lenta possível.

A abolição do trabalho escravo no Brasil aconteceu de forma lenta e conservadora e só se concretizou em 1888
A abolição do trabalho escravo no Brasil aconteceu de forma lenta e conservadora e só se concretizou em 1888
  • Leis abolicionistas

Inicialmente, foi aprovada em 1831 uma lei que decretava a proibição do tráfico negreiro. Porém, o tráfico continuou existindo clandestinamente no Brasil durante as décadas de 1830 e 1840. Foi preciso a intervenção da Inglaterra a partir do Bill Aberdeen (lei em que os ingleses autorizavam seus navios a abordar navios negreiros no Atlântico) para que o Brasil tomasse ações práticas no sentido de pôr fim ao tráfico negreiro.

Isso se concretizou de fato a partir da Lei Eusébio de Queirós, que foi decretada no ano de 1850 e consolidou o fim do tráfico negreiro no Brasil. Com isso, a quantidade de escravos que vinham para o país caiu drasticamente de um ano para o outro. No entanto, o historiador Luiz Felipe de Alencastro afirma que o fim do tráfico negreiro foi acompanhado de um conchavo das elites com os traficantes, de forma que eles estavam prevenidos de que isso aconteceria |1|.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

A partir daqui se iniciou um processo que estendeu por 38 anos e foi acompanhado de muita disputa nos quadros políticos do Brasil. A intenção das elites escravocratas do Brasil, conforme mencionado, era conduzir essa transição da maneira mais lenta possível, de forma a minimizar as suas “perdas” com o fim da escravidão.

A intenção das elites de estender a escravidão tanto quanto fosse possível encontrou forte oposição com o fortalecimento da causa abolicionista. Após a Guerra do Paraguai, essa pauta tomou conta do debate político nacional e organizações abolicionistas começaram a se estruturar no país, criando uma tensão latente entre escravocratas e abolicionistas.

Essa tensão preocupava membros do governo monárquico, pois o exemplo norte-americano havia mostrado de maneira clara as consequências de um possível acirramento desse debate. A Guerra de Secessão, que aconteceu nos EUA entre 1861 e 1865, foi motivada, em grande parte, por conta da disputa política travada entre norte e sul do país.

Outro ponto que preocupava o governo monárquico era a imagem internacional do Brasil, uma vez que a escravidão não era mais uma instituição aceita dentro dos padrões civilizacionais das grandes nações. Isso acontecia, principalmente, porque a escravidão em determinados locais era vista como um entrave para o desenvolvimento do capitalismo. A imagem negativa do Brasil foi reforçada com o fim da escravidão na Rússia (1861) e nos EUA (1863).

O primeiro grande indício do fortalecimento do abolicionismo no Brasil deu-se com a Lei do Ventre Livre, em 1871. Essa lei decretava que todo escravo nascido a partir de sua vigência seria considerado livre, devendo seus “senhores” alforriá-los aos 8 anos (com indenização ao “senhor” do escravo) ou aos 21 anos (sem indenização). Essa lei foi recebida com desconfiança pelos abolicionistas, e os efeitos práticos dela foram mínimos.

  • Retomada do movimento abolicionista

Na década de 1880, o movimento abolicionista retomou sua força. Importantes organizações – como a Sociedade Brasileira contra a Escravidão e a Confederação Abolicionista – surgiram nesse período. Além disso, multiplicaram-se as publicações em defesa da causa por meio de livros, produção de panfletos ou na veiculação de jornais.

O movimento abolicionista contou com a adesão de pessoas de todos os espectros da sociedade brasileira. Os escravos, por vezes, eram incitados por abolicionistas a se rebelar, e as fugas tornaram-se uma prática comum na década de 1880. Quilombos cresceram e espalharam-se por diversos locais do Rio de Janeiro e de São Paulo.

À medida em que o abolicionismo se fortalecia no país, uma flor se tornou símbolo da causa: camélia branca. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling fazem uma observação a esse respeito:

“A associação da flor com a Abolição foi uma bela jogada de propaganda executada pelo movimento abolicionista. A camélia era uma flor ainda muito rara no Brasil e, diziam os abolicionistas, em sua fragilidade assemelhava-se à liberdade que os escravos ambicionavam conquistar: necessitava de cuidados e abrigo especial, além do manejo de técnicas complexas de cultivo que dependiam, é claro, do trabalhador livre, e não da mão de obra escrava, condenada a desaparecer por criminosa e obsoleta. O simbolismo delicado das flores foi parar no centro da vida pública do Império. Portar uma camélia na botoeira do paletó ou cultivá-la no jardim de casa era gesto político: significava declarar princípios e indicava disposição para ação. Usar flor era declaração de adesão à causa da Abolição e sinal de apoio e proteção para cativos fugidos” |2|.

Veja também: 20 de novembro - Dia Nacional da Consciência Negra

  • Reação dos escravocratas

Mas o fortalecimento da causa abolicionista no Brasil veio acompanhado de uma resposta conservadora. A reação das elites brasileiras no período pode ser exemplificada a partir de duas leis: a Lei Saraiva, de 1881, e a Lei Saraiva-Cotejipe (ou Lei dos Sexagenários), de 1885.

A primeira (Lei Saraiva) promoveu a reorganização do nosso sistema eleitoral e criava mecanismos para impedir o voto do analfabeto – uma maneira de impossibilitar que os futuros negros libertos tivessem participação no processo político. Já a Lei dos Sexagenários decretou que todo escravo que possuísse mais de 60 anos conquistaria a sua independência após um período de trabalho de três anos. A lei foi tida como uma derrota para o abolicionismo, pois era considerada conservadora e com o objetivo único de retardar a abolição.

Dentro do seu objetivo geral – atrasar a abolição –, a Lei dos Sexagenários falhou. A causa abolicionista fortaleceu-se a partir de 1885. A luta pelo abolicionismo contou com personalidades negras importantes da sociedade brasileira, como André Rebouças, Luís Gama e José do Patrocínio. O abolicionismo foi uma causa que teve ampla adesão.

“O fato é que conviviam modalidades, muitas vezes concomitantes, de luta abolicionista: a ação dos próprios escravos, a movimentação dos abolicionistas e a batalha política em nível nacional. O abolicionismo se convertia, portanto, em outra grande causa forjando o sentimento e a imaginação dos brasileiros” |3|.

Lei Áurea e o fim da escravidão no Brasil

Em 1888, a manutenção da escravatura no Brasil era inviável para aqueles que a defendiam. As revoltas de escravos e o fortalecimento político forçaram o decreto da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. A lei, no entanto, não foi um ato de benevolência. Ela representou uma tentativa da monarquia de se salvar politicamente e, também, uma estratégia dos grandes proprietários no Brasil para abafar o debate da reforma agrária, que começava a surgir junto à causa abolicionista.

O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Uma vez abolida a escravidão no país, o negro liberto não recebeu nenhum tipo de auxílio do governo para que pudesse sobreviver e, com a falta de oportunidades – fruto do racismo –, o quadro de desigualdade perpetuou-se em nosso país e gera reflexos até os dias atuais.

Notas

|1| Abolição da escravidão em 1888 foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz historiador. Para acessar a notícia completa, clique aqui.
|2| SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 309.
|3| Idem, p. 310.
 

Publicado por Daniel Neves Silva
Assista às nossas videoaulas

Artigos Relacionados

05 de setembro – Dia da Amazônia
Entenda por que o dia da Amazônia é comemorado em 05 de setembro e aprenda um pouco mais sobre esse importante bioma.
10 de dezembro – Dia Internacional dos Direitos Humanos
Clique aqui e saiba mais sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos, sua importância e o contexto de sua criação. Veja como a data é comemorada.
1º de maio – Dia do Trabalho
Clique aqui e entenda o que é comemorado no Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador, celebrado anualmente no 1º de maio.
20 de novembro - Dia Nacional da Consciência Negra
Clique e veja o que é o Dia da Consciência Negra, quanto foi criado e sua importância. Veja quem foi Zumbi e como o racismo está presente no nosso cotidiano.
5 de maio – Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona
Conheça mais sobre o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona: quem o criou e por qual motivação, e os países que o comemoram.
A política do Segundo Reinado
Segundo Reinado, Brasil no século XIX, política no Segundo Reinado, a questão escravista, a política conciliatória de Dom Pedro II, o movimento abolicionista, a ascensão dos militares o fim do governo imperial.
Causas da Guerra do Paraguai
Neste link você terá acesso a informações que abordam especificamente as causas da Guerra do Paraguai e os novos estudos realizados sobre esse assunto.
Dia do Fico
Acesse o site e veja como o Dia do Fico marcou decisivamente o processo de independência do Brasil. Observe como Dom Pedro fortaleceu sua liderança no Brasil.
Dia dos Povos Indígenas
Acesse o texto para conhecer a origem e a importância do Dia dos Povos Indígenas, anualmente celebrado em 19 de abril, no Brasil.
Limitações da Lei Áurea
Clique e acesse este texto que trata das limitações da Lei Áurea. Entenda como ficou a vida dos ex-escravos após a abolição da escravidão.
Proclamação da República
Acesse o site e veja as causas da Proclamação da República em 1889. Conheça também os principais líderes que colaboraram para a derrubada do Segundo Reinado.
video icon
Escrito"Civilização Micênica" Próximo ao Fresco de uma mulher Micênica.
História
Grécia Antiga: Civilização Micênica
Assista à nossa videoaula para conhecer a história da civilização micênica. Confira também, no nosso canal, outras informações sobre a Grécia Antiga.

Outras matérias

Biologia
Matemática
Geografia
Física
Vídeos
video icon
Pessoa com as pernas na água
Saúde e bem-estar
Leptospirose
Foco de enchentes pode causar a doença. Assista à videoaula e entenda!
video icon
fone de ouvido, bandeira do reino unido e caderno escrito "ingles"
Gramática
Inglês
Que tal conhecer os três verbos mais usados na língua inglesa?
video icon
três dedos levantados
Matemática
Regra de três
Com essa aula você revisará tudo sobre a regra de três simples.