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Derivação imprópria

Derivação imprópria é um tipo particular de derivação, caracterizado pela mudança de classe gramatical de uma palavra, sem que aconteça a alteração em sua forma primitiva. 

Desse modo, quando a palavra “porém”, originalmente uma conjunção, é utilizada como substantivo, ocorre um caso de derivação imprópria, como nesta frase, em que o substantivo “porém” é usado como sinônimo de “obstáculo”: “Não fique tão animado, pois, na vida, há sempre um porém”.

Leia também: Composição – processo de formação de palavras que consiste na união de radicais

Definição de derivação imprópria

O processo de derivação imprópria permite mais de uma função ou sentido para uma mesma palavra.
O processo de derivação imprópria permite mais de uma função ou sentido para uma mesma palavra.

O conceito de “derivação” está relacionado à “formação de palavras”. Assim, uma palavra derivada tem origem em outra palavra, chamada de “primitiva”. Nesse processo de derivação, a palavra primitiva pode receber um prefixo (infeliz) ou um sufixo (maldade), mas também pode receber um prefixo e um sufixo ao mesmo tempo (ajoelhar), ou mesmo perder um afixo (ajuda, do verbo “ajudar”), de forma a originar uma nova palavra.

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A derivação imprópria é um tipo particular de derivação, já que é caracterizada não pelo acréscimo ou supressão de afixos, mas pela mudança de classe gramatical de uma palavra, sem que ocorra alteração em sua forma primitiva. Portanto, só é possível perceber esse fenômeno a partir do contexto no qual determinado vocábulo é utilizado.

Exemplos de derivação imprópria

EXEMPLO 1

Palavra primitiva

Classe gramatical

Contextualização

NÃO

Advérbio

Ela não pode comparecer ao evento.

Palavra derivada

Classe gramatical

Contextualização

NÃO

Substantivo

O não é bastante educativo.

EXEMPLO 2

Palavra primitiva

Classe gramatical

Contextualização

BOM

Adjetivo

Artur é um bom menino.

Palavra derivada

Classe gramatical

Contextualização

BOM

Substantivo

O bom de tudo isso é que posso descansar.

EXEMPLO 3

Palavra primitiva

Classe gramatical

Contextualização

PODER

Verbo

Ele não vai poder fazer isso.

Palavra derivada

Classe gramatical

Contextualização

PODER

Substantivo

O poder sobe à cabeça dos fracos.

EXEMPLO 4

Palavra primitiva

Classe gramatical

Contextualização

BAIXO

Adjetivo

Era um homem baixo e magro.

Palavra derivada

Classe gramatical

Contextualização

BAIXO

Advérbio

Fala baixo para não acordar a criança.

EXEMPLO 5

Palavra primitiva

Classe gramatical

Contextualização

VIVA

Verbo

Espero que você viva muito tempo.

Palavra derivada

Classe gramatical

Contextualização

VIVA

Interjeição

Viva! Ele voltou.

EXEMPLO 6

Palavra primitiva

Classe gramatical

Contextualização

MONSTRO

Substantivo

Havia um monstro no armário.

Palavra derivada

Classe gramatical

Contextualização

MONSTRO

Adjetivo

Hoje enfrentei um engarrafamento monstro!

Leia também: Quais são os tipos de desinências?

Exercícios resolvidos

Questão 1 – Analise os termos destacados, nos enunciados a seguir, e marque a alternativa em que se verifica uma derivação imprópria.

A) Todos sabíamos que não tinha mais como desfazer aquele enorme mal-entendido.

B) A festa aconteceu no terraço do luxuoso apartamento da mulher mais rica do país.

C) Era um homem que já foi vítima da deslealdade, e, por isso, sempre recorria a ela.

D) O prefeito não pôde justificar a compra de um carro caríssimo com dinheiro público.

E) Minha professora disse que os franceses valorizam bastante a própria cultura.

Resolução

Alternativa E. Os termos destacados são, respectivamente, resultado de derivação prefixal (desfazer), sufixal (terraço), prefixal e sufixal (deslealdade), regressiva (compra, do verbo “comprar”) e imprópria (franceses). Portanto, o adjetivo “franceses” se transforma em substantivo, caracterizando, assim, a derivação imprópria.

Questão 2 – (Unimontes)

Ponto de vista

(Luis Fernando Verissimo)

Avolumam-se, com suspeito sincronismo, as denúncias na imprensa sobre a prática do nepotismo entre os políticos brasileiros. Como um dos atingidos pela nefasta campanha, que visa a denegrir a imagem do servidor público no Brasil, a mando de interesses inconfessáveis, me senti no dever de responder publicamente às insidiosas insinuações, na certeza de que assim fazendo estarei defendendo não apenas minha honra — apanágio maior de uma vida toda ela dedicada à causa pública e à tradição familiar que assimilei ainda no colo do meu saudoso pai, quando ele era prefeito nomeado da nossa querida Queijadinha do Norte e eu era o seu secretário particular, depois da escola — mas também a honra de toda uma classe tão injustamente vilipendiada, a não ser quando pertence a outro partido, porque aí é merecido. A imprensa brasileira, em vez de cumprir seu legítimo papel numa sociedade democrática, que é o de dar a previsão do tempo e o resultado da Loteria, insiste em perscrutar as ações dos políticos, como se estes fossem criminosos comuns, não qualificados, e em difamá-los com mentiras. Ou, em casos de extrema irresponsabilidade e crueldade, com verdades. Outro dia, depois de ler uma reportagem em que um órgão da nossa grande imprensa me fazia acusações especialmente levianas, virei-me para meu chefe de gabinete e comentei: “Querida, por que eles fazem isto comigo?”. Mas ela apenas resmungou alguma coisa, virou-se para o outro lado e continuou a dormir, obviamente perplexa. As hienas da imprensa não medem as consequências das suas infâmias. Tive que proibir aos meus filhos a leitura de jornais, para poupá-los. Como a função dos quatro no meu gabinete é unicamente a de ler jornais e eventualmente recortar algum cupom de desconto, o resultado é que passam o dia inteiro sem ter o que fazer e incomodando a avó, que serve o cafezinho. Não me surpreenderei se algum jornal publicar este fato como exemplo de ociosidade nos gabinetes governamentais à custa do contribuinte. O cinismo dessa gente é ilimitado.

Mas enganam-se as hienas se pensam que me intimidaram. Não viro a cara para meus acusadores, embora eles só mereçam desprezo, mas os enfrento com um olhar límpido como minha consciência e um leve sorriso no canto da boca. Minha vida como parlamentar é um livro ponto aberto, imaculadamente branco. Como ministro, não tenho o que esconder. E, mesmo que tivesse, não haveria mais lugar nos bolsos. As acusações de nepotismo são tão fáceis de responder que até meu secretário de imprensa, o Gedeão, casado com a mana Das Mercês, e que é um bobalhão, poderia se encarregar disto. Mas eu mesmo o farei.

Não, não vou recorrer a subterfúgios e alegar que o nepotismo é antigo como o mundo, existe desde os tempos bíblicos e está mesmo nas origens do cristianismo. Quando Deus Todo-Poderoso, que era Deus Todo-Poderoso, quis mandar um salvador para a Terra, quem foi que escolheu? Um filho! Nem vou responder à infâmia com a razão, denunciando a hipocrisia. Vivemos numa sociedade que dá o mais alto valor à lealdade e aos sentimentos de família. Enaltecemos o bom filho, o bom pai, o bom marido — e o bom cunhado, como acaba de me lembrar o Gedeão, aqui do lado —, e, no entanto, esperamos que o político, abjetamente, deixe de dar um emprego para alguém do seu sangue e dê para o parente de outro, às vezes um completo estranho, cuja única credencial é ser competente ou ter passado num concurso. Também não vou usar o argumento do pragmatismo, perguntando o que é melhor para a nação, o governante ser obrigado a roubar para sustentar um bando de desocupados como a família da minha mulher ou transferir os encargos para os cofres públicos, com suas verbas dotadas, e regularizar a situação? Neste caso, o nepotismo é profundamente moralizante. Com a vantagem de estarmos proporcionando a um vagabundo treinamento no emprego. Meu menino mais velho, por exemplo, poderia ocupar a cadeira de ministro de Estado a qualquer instante, pois, como meu assessor, aprendeu tudo sobre o cargo, menos a combinação do cofre, que eu não sou louco.

Mas não vou dar aos meus difamadores a satisfação de reconhecer a pseudoirregularidade. No meu caso, ela simplesmente não existe. “Nepotismo” vem do italiano “nepote”, sobrinho, e se refere às vantagens usufruídas pelos sobrinhos do papa na Corte Papal, em Roma. Bastava ser sobrinho do papa para ter abertas todas as portas do poder, sem falar de bares e bordéis.

“Sobrinho” não era um grau de parentesco, era uma profissão e uma bênção. A corte eclesiástica era dominada pelos “nepotes”, e, neste caso, a corrupção era evidente. Qual o paralelo possível com o que acontece no Brasil hoje em dia? Só na fantasia de editores ressentidos, articulistas mal-intencionados e repórteres maldizentes as duas situações são comparáveis. Desafio qualquer órgão de imprensa a vasculhar meus escritórios, meus papéis, minha casa, meu staff, minha vida e encontrar um — um único! — sobrinho do papa entre meus colaboradores. Não há sequer um sobrenome polonês!

Exijo retratação.

O boné e outras crônicas, Editora Ática.

Com base nas informações do próprio texto, pode-se afirmar que a palavra “Nepotismo” foi formada pelo processo de derivação:

A) prefixal.

B) sufixal.

C) imprópria.

D) parassintética.

Resolução

Alternativa B. De acordo com o irônico texto de Luis Fernando Verissimo, a palavra “nepotismo” “vem do italiano ‘nepote’, sobrinho, e se refere às vantagens usufruídas pelos sobrinhos do papa na Corte Papal, em Roma”. Segundo a argumentação do personagem da crônica, o sentido original da palavra não é o favorecimento de amigos e parentes no serviço público, mas apenas de sobrinhos do papa. Dessa forma, temos a falsa sensação de que o vocábulo é resultado da derivação imprópria, já que o seu sentido original foi alterado. No entanto, não ocorreu mudança na classe gramatical. Portanto, o correto é entender que houve uma derivação sufixal, pois o vocábulo “nepote” recebeu o acréscimo do sufixo “-ismo”, de maneira a formar a palavra “nepotismo”.

Publicado por Warley Souza
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