25 de julho – Dia Nacional do Escritor
No dia 25 de julho, comemora-se o Dia Nacional do Escritor, data escolhida para homenagear esses profissionais indispensáveis para o desenvolvimento da aprendizagem e da cultura. Sejam livros didáticos, de ficção, histórias fantásticas, narrativas breves, crônicas, análises não ficcionais do passado ou do presente, todas têm em comum uma característica: foram escritas por alguém.
Aprendemos a ler e a escrever ainda na infância, atividades que exerceremos ao longo de toda a vida, mas algumas pessoas dedicam-se profissionalmente a elaborar histórias e poemas, textos que nos entretêm e que nos ensinam. Por trás de todo texto existe alguém, tantas vezes invisível quando estamos imersos em um livro: o escritor.
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Como surgiu o Dia Nacional do Escritor?
O Dia Nacional do Escritor foi instituído em 25 de julho de 1960, data da realização do I Festival do Escritor Brasileiro, uma iniciativa da União Brasileira de Escritores (UBE). À época, a UBE era presidida por Jorge Amado e João Peregrino Júnior, que propuseram a oficialização anual da data como celebração desses profissionais.
Objetivo do Dia Nacional do Escritor
O objetivo de reservar no calendário oficial um Dia Nacional do Escritor é dar mais visibilidade ao trabalho desses homens e mulheres que se dedicam a narrar histórias, tecer universos poéticos, analisar o cotidiano, entreter e ensinar por meio da palavra escrita.
A profissão de escritor é, ainda nos dias de hoje, pouco reconhecida e valorizada: muitos escritores contemporâneos não conseguem sobreviver financeiramente apenas com os direitos autorais de suas obras e, frequentemente, dividem seu tempo entre aulas, palestras e outras atividades. Assim, a celebração do Dia Nacional do Escritor procura nos lembrar dessa profissão essencial para a cultura, a ciência e a memória de um povo.
Cinco grandes escritores brasileiros
A literatura brasileira é múltipla e repleta de talentos da prosa, da poesia e da não ficção. Destacamos apenas cinco entre os diversos artistas da palavra que se dedicaram a criar mundos em verso e prosa.
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Machado de Assis (1839-1908)
Considerado o grande patrono da literatura brasileira e até hoje aclamado como o maior dos escritores nacionais, Joaquim Maria Machado de Assis escreveu poemas, romances, peças de teatro, contos e crônicas. Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Seus textos em prosa são mais célebres graças ao estilo simples e bem-acabado das narrativas, cuja linguagem literária guarda ironia, críticas sociais mordazes, humor e leveza, mas também um rico trabalho com o foco narrativo e com os traços psicológicos de suas personagens.
Machado foi um dos precursores do Realismo no Brasil, mas seu modo de narrar foi além das simples características desse movimento: o autor inaugurou uma literatura realista que lançava mão da inverossimilhança. É o caso do aclamado romance Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), narrado por um defunto autor – ou seja, por um Brás Cubas já morto, que rememora sua vida, repleta dos vícios de um Brasil escravocrata, elitista e patriarcal. Também Quincas Borba (1892) e Dom Casmurro (1899) são obras importantes do autor.
Para saber mais sobre a vida e a obra desse importante escritor brasileiro, acesse: Machado de Assis.
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Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Natural de Itabira, cidadezinha do interior de Minas Gerais, que foi diversas vezes rememorada em seus escritos, Drummond escreveu contos, crônicas e principalmente poemas. Sua lírica inquieta trabalhou no verso as questões profundas e sem resposta da humanidade, como a vida, a morte, o sofrimento e o amor, e também reverberou as questões de seu próprio tempo, como a guerra, o mundo polarizado, a aceleração do capitalismo financeiro e o Brasil urbano e rural. “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, diz o poeta, e assim se mostra, às vezes seco e conciso, às vezes leve e bem-humorado.
Modernista da Geração de 30, Drummond é dono de um lirismo radical, que traz à tona os mergulhos na própria consciência (individual e social) e na própria maneira de fazer poesia. Para conhecer mais informações sobre esse importante poeta brasileiro, leia: Carlos Drummond de Andrade.
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João Guimarães Rosa (1908-1967)
Guimarães Rosa foi considerado o maior escritor brasileiro do século XX, graças à maneira como reinventou a língua portuguesa em seus contos longos e novelas. Foi médico, diplomata e exímio narrador, mas foi da experiência do Brasil rural, do universo do causo e do pensamento mítico-mágico que extraiu a matéria-prima da sua literatura.
Poliglota e pesquisador incansável, Rosa fez uma catalogação da fauna e flora do cerrado brasileiro – cenário que é praticamente personagem de suas histórias. Plantas e bichos, gente e sonhos desse “Brasil de dentro”, afastado dos grandes centros e tantas vezes esquecido são o canal por meio do qual expressa temas universais, como o bem e o mal, a injustiça, o amor, o poder etc.
Foi sobretudo pelo trabalho poético da linguagem que Rosa ganhou destaque entre os escritores de sua época. Sua intenção era desfazer a linguagem de uma função meramente utilitária, recuperando seu componente imaginativo e poético, juntando vocábulos, desfazendo as ordens sintáticas, em busca de uma revitalização da língua. Conheça mais detalhes da vida e obra do autor dos neologismos, lendo o texto: João Guimarães Rosa.
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Clarice Lispector (1920-1977)
Nascida na Ucrânia mas naturalizada brasileira, Clarice Lispector escreveu uma obra em prosa aclamada por sua profundidade psicológica e por seu estilo inovador. Autora de crônicas, contos e livros infantis, Lispector ocupa hoje uma posição central na literatura nacional.
Muitas vezes tida como inclassificável, a obra da autora tem uma característica própria: a sensorialidade. São as sensações provocadas pelos eventos que guiam o fio narrativo lispectoriano e criam uma nova sintaxe, uma nova gramática, um mergulho no que há de mais enigmático na existência humana.
As personagens das narrativas de Lispector são comuns, nada extraordinárias, mas frequentemente mergulham em si e nas situações em que se encontram, perscrutando aquilo que muitas vezes passa desapercebido. Evocam sensações e percepções do inconsciente e são muitas vezes acometidas de epifanias, isto é, momentos de revelações ou experiências extraordinárias que provém de dentro de si. É uma literatura intimista, psicológica e por vezes vertiginosa. Aprenda mais detalhes da trajetória da escritora da epifania e do fluxo de consciência, acessando: Clarice Lispector.
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Conceição Evaristo (1946-)
Professora doutora, poeta e prosadora, Conceição Evaristo é um dos maiores talentos literários da contemporaneidade. Escreve contos, novelas, romances, poesia e textos críticos, teve sua obra traduzida para o francês e o inglês e é dona de um estilo literário próprio, que batizou de escrevivência, um realismo poético que mistura situações verídicas e ficcionais, em uma recriação da realidade.
As protagonistas das histórias de Evaristo são, na maioria das vezes, mulheres, uma herança de sua própria biografia: a autora ouvia as histórias de sua avó, da mãe, das tias. A oralidade da contação de histórias e a percepção poética e consciente do mundo são constantes em seu texto.
Militante, Evaristo narra o mundo circundante a partir de sua própria condição de mulher negra, que viveu na pele a discriminação, o trabalho precarizado e a invisibilidade nos meios culturais. Leia mais detalhes sobre a obra dessa escritora que é um dos principais nomes da literatura atual, lendo o texto: Conceição Evaristo.
Frases
“A escrita é um dos processos mais avançados da mente humana. É a maneira como as pessoas se comunicam, se expressam, deixam legados” (Ana Miranda)
“Ninguém pode apagar as palavras que eu escrevi” (Carolina Maria de Jesus)
“A minha escrevivência e a escrevivência de autoria de mulheres negras se dá contaminada pela nossa condição de mulher negra na sociedade brasileira” (Conceição Evaristo)
“Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e autorrisco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever” (Clarice Lispector)
“Escrever é estar no extremo de si mesmo” (João Cabral de Melo Neto)
“Eu escrevo para me livrar da carga difícil de uma pessoa ser ela mesma” (Clarice Lispector)
“Escrevo. E pronto./ Escrevo porque preciso/ preciso porque estou tonto./ Ninguém tem nada com isso” (Paulo Leminski)
“Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas de suas inquietações, seus problemas íntimos, que os projetou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada. Mesmo porque não havia analista no meu tempo, em Minas” (Carlos Drummond de Andrade)
“Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito; o momento não conta” (João Guimarães Rosa)
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[1] Diego Grandi / Shutterstock