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Haroldo de Campos

Haroldo de Campos, ao lado de outros intelectuais, fundaram, no Brasil, a poesia concreta ou concretismo. Essa vertente da poesia brasileira revolucionou o fazer poético ao potencializar os aspectos visuais e sonoros do poema.

Além disso, Campos foi um renomado tradutor, responsável pela inserção de diversos clássicos da literatura ocidental na cultura brasileira, além de ter teorizado sobre esse ofício, o que contribuiu para a formação de outros tradutores no país.

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Biografia de Haroldo Campos

Haroldo de Campos subverteu a forma tradicional do poema, potencializando seu aspecto visual ao máximo.[1]
Haroldo de Campos subverteu a forma tradicional do poema, potencializando seu aspecto visual ao máximo.[1]

Haroldo Eurico Browne de Campos, conhecido como Haroldo de Campos, nasceu em 19 de agosto de 1929, na cidade de São Paulo. Foi poeta, tradutor, ensaísta e crítico literário, sendo um dos principais nomes da poesia concreta brasileira. Formou-se, em 1952, em Direito, pela Universidade de São Paulo (USP). Nesse mesmo ano, fundou, com o irmão Augusto de Campos e com Décio Pignatari, o grupo Noigandres de poesia concretista.

Seu primeiro livro, O auto do possesso, de 1950, porém, foi publicado antes da criação desse grupo, sendo fruto de sua participação no Clube da Poesia, grupo ligado à geração de 45, que se empenhava em fazer uma poesia que retomava as formas clássicas e a valorização de temas universais, portanto, ainda não tinha traços concretistas, marca principal de sua poesia.

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Durante 10 anos, o Noigandres publicou uma revista que levava o nome do grupo. Além da disseminação da produção poética por meio da escrita, eles também expuseram sua produção literária em outros lugares, como na Exposição Nacional de Arte Concreta, ocorrida no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956, e no Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, em 1957.

Em 1962, Campos escreveu o famoso ensaio Da tradução como criação e como crítica, texto em que defendeu a necessidade de certas alterações semânticas no trabalho de tradução em relação ao poema original. Seu trabalho de tradução foi dinâmico, tendo traduzido variados autores, de variados idiomas, como os escritores modernos e contemporâneos Octavio Paz, Giuseppi Ungaretti e Konstantinos Kaváfis, além de autores clássicos, como Dante e Goethe.

No final da década de 1960, Haroldo de Campos teve contato com o movimento tropicalista, vindo a trabalhar com Caetano Veloso e com Gilberto Gil, além de também ter estabelecido parceria com os cineastas Júlio Bressane e Ivan Cardoso, e com o artista plástico Hélio Oiticica.

Haroldo de Campos morreu em 18 de agosto de 2003, na cidade onde nasceu, São Paulo. Seu rico acervo encontra-se na Casa das Rosas, no espaço cultural que leva seu nome, situada na famosa Avenida Paulista, em São Paulo.

Veja também: Cora Coralina – autora goiana que não se filiou a nenhum movimento literário

Prêmios e homenagens de Haroldo de Campos

  • Sua biografia foi incluída na Enciclopédia Britânica, em 1997.
  • Recebeu o título de doutor honoris causa, concedido pela Universidade de Montreal, Canadá, em 1996.
  • As universidades de Yale e de Oxford organizaram conferências sobre sua obra em comemoração de seus 70 anos, em 1999.
  • Prêmio Octavio Paz de Poesia e Ensaio, no México, em 1999.
  • Prêmio Jabuti em 1991, 1992, 1993, 1994, 1999, 2002 e 2003.
  • Menção honrosa do Prêmio Jabuti (2004).
Casa das Rosas, situada em São Paulo, onde funciona o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. [2]
Casa das Rosas, situada em São Paulo, onde funciona o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. [2]

Estilo literário de Haroldo de Campos

  • Presença de aliterações e de assonâncias;
  • Rimas internas;
  • Relações sonoras entre palavras por meio de paranomásias e trocadilhos;
  • Mescla de prosa e poesia;
  • Presença de metalinguagem;
  • Poema concebido como um objeto a ocupar o espaço da página;
  • Disposição não linear das palavras.

Obras de Haroldo de Campos

  • Auto do possesso (1950)
  • A arte no horizonte do provável (1972)
  • Morfologia do Macunaíma (1973)
  • Xadrez de estrelas (1976)
  • Signância: quase céu (1979)
  • Galáxias (1984)
  • A educação dos cinco sentidos (1985)
  • Transblanco (1986) com Octávio Paz
  • Crisantempo (1998)
  • A máquina do mundo repensada (2001)
  • Hagoromo de Zeami (2005) - publicação póstuma
  • Metalinguagem & outras metas (2010)
  • Transcriação (2015)

Poemas de Haroldo de Campos

Nesse famoso poema visual de Haroldo de Campos, o autor expressa as principais características da poesia concreta: o diálogo com as artes plásticas, o que se observa na forma com que o poema apresenta-se na disposição da página, e a potencialização dos aspectos sonoros das palavras, o que se concretiza por meio das aliterações e assonâncias.

de sol a sol
soldado
de sal a sal
salgado
de sova a sova
sovado
de suco a suco
sugado
de sono a sono
sonado

sangrado
de sangue a sangue

Nesse outro poema, a repetição das consoantes “s” e “v”, procedimento alcançado por meio da figura

de linguagem aliteração, contribui para o enfoque sonoro do poema, o que, por sua vez, contribui para a ampliação dos sentidos da mensagem expressa ao longo dos versos: a aproximação entre “sol”, “sal”, “sova”, “suco”, “sono” e “sangue” cria uma sequência semântica, o que possibilita ao leitor inferir sentidos ao poema.

Acesse também: Cinco poemas de Augusto de Campos

poesia em tempo de fome
fome em tempo de poesia

poesia em lugar de poesia
nome em lugar de pronome

poesia de dar o nome

nomear é dar o nome

nomeia o nome
nomeia o homem
no meio a fome

nomeia a fome

Nesse poema, uma importante característica do fazer poético de Haroldo de Campos, que também foi crítico literário, é expressa a metalinguagem. O poeta faz de seu poema um espaço para refletir sobre os próprios limites da poesia.

Créditos das imagens

[1] Editora Iluminuras (reprodução)

[2] Alf Ribeiro / Shutterstock 

Publicado por Leandro Guimarães

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