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Naturalismo no Brasil

Naturalismo no Brasil surgiu, em 1881, com a publicação do romance “O mulato”, de Aluísio Azevedo, trazendo uma visão determinista e antirromântica da realidade brasileira.
“A mendiga”, obra do pintor realista-naturalista Almeida Júnior (1850-1899).
“A mendiga”, obra do pintor realista-naturalista Almeida Júnior (1850-1899).

O naturalismo no Brasil surgiu em 1881, quando o escritor Aluísio Azevedo publicou seu romance O mulato. Além dessa obra, o autor escreveu O cortiço, seu livro naturalista mais famoso e que apresenta as principais características do estilo, ou seja, o determinismo e a zoomorfização.

Autores naturalistas brasileiros como Raul Pompeia, Adolfo Caminha e Júlio Ribeiro, influenciados pelo positivismo europeu, escreveram obras como: O Ateneu, Bom-crioulo e A carne respectivamente. O naturalismo brasileiro ocorreu no mesmo período em que a monarquia entrava em decadência e os movimentos abolicionistas ganham notoriedade.

Leia mais: Realismo — movimento estético do qual o naturalismo se desdobrou

Resumo sobre naturalismo no Brasil

  • A decadência da monarquia e o fortalecimento dos movimentos abolicionista e republicano fizeram parte do contexto histórico do naturalismo no Brasil.

  • As principais características do naturalismo no Brasil foram: determinismo e zoomorfização.

  • Aluísio Azevedo, Raul Pompeia e Adolfo Caminha foram os principais escritores naturalistas do país.

  • As principais obras brasileiras desse estilo de época foram: O cortiço, O Ateneu e Bom-crioulo.

Características do naturalismo no Brasil

O naturalismo, estilo de origem europeia, foi introduzido no Brasil a partir da publicação do romance O mulato, de Aluísio Azevedo, em 1881. O naturalismo brasileiro, portanto, recebeu as influências do movimento que nasceu na Europa; assim, estava centrado em uma visão cientificista da realidade.

Essa supervalorização da ciência gerou teorias como o determinismo, que trouxe a ideia de que os indivíduos eram influenciados pelo meio em que viviam e também pela raça e época a que pertenciam. Desse modo, os autores criavam seus personagens com base nessa premissa.

As motivações biológicas dos personagens eram mais valorizadas do que as psicológicas. Isso porque o indivíduo era entendido como animal irracional sujeito aos instintos, sobretudo o sexual. Assim, os autores recorriam à zoomorfização, que consiste em atribuir características animais a seres humanos.

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No entanto, os escritores tinham uma preferência por personagens marginalizados ou oriundos da classe baixa, que eram analisados “cientificamente”. Além disso, nessas obras, são visíveis os preconceitos, tidos como “científicos”, quando as mulheres são tratadas como histéricas, as pessoas negras como inferiores e os homossexuais como criminosos ou doentes.

No mais, as obras naturalistas valorizam a objetividade da linguagem e, por meio da ficção, buscam analisar e compreender os problemas da sociedade, além de apontar as suas causas. Nessa perspectiva, são narrativas antirromânticas, pois não realizam qualquer tipo de idealização e, por isso, mostram a realidade sem retoques.

Videoaula sobre naturalismo

Autores do naturalismo no Brasil

Contexto histórico do naturalismo no Brasil

O surgimento do naturalismo na Europa estava relacionado à publicação, em 1859, da obra A origem das espécies, de Charles Darwin (1809-1882), que provocou uma revolução científica ao demonstrar que o ser humano e outras espécies, em estado natural, passam por um processo de adaptação e consequente evolução.

Esse livro colocou em evidência o poder da racionalidade e da ciência. Desse modo, correntes filosóficas como o positivismo ganharam força na segunda metade do século XIX. Assim, sob a influência de seu tempo, os escritores passaram a usar teorias científicas na construção de seus personagens.

Essas ideias chegaram ao Brasil em um contexto de mudanças políticas e sociais. A monarquia estava em decadência, enquanto os movimentos abolicionista e republicano ganhavam força. Desde a aprovação da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, outras leis contra a escravidão surgiram, como a Lei do Ventre Livre, em 1871, e a Lei dos Sexagenários, em 1885.

Três anos depois, em 13 de maio de 1888, ocorreu a abolição da escravatura e, no ano seguinte, a proclamação da república, em 15 de novembro de 1889. Era o fim da monarquia, que representava o conservadorismo e também era responsável pela crise econômica em que se achava o país.

Leia mais: Luís Gama — grande defensor da abolição da escravatura no Brasil, além de poeta e advogado

Obras do naturalismo no Brasil

Capa do livro “O cortiço”, de Aluísio Azevedo
Capa do livro “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, publicado pela editora L&PM.[1]
  • O mulato (1881), de Aluísio Azevedo

  • Casa de pensão (1884), de Aluísio Azevedo

  • Um homem gasto (1885), de Ferreira Leal

  • O Ateneu (1888), de Raul Pompeia

  • A carne (1888), de Júlio Ribeiro

  • O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo

  • Bom-crioulo (1895), de Adolfo Caminha

  • A falência (1901), de Júlia Lopes de Almeida

Videoaula sobre O cortiço

Exercícios sobre naturalismo no Brasil

Questão 01 (UEFS)

Bem! Vê lá! Isso já me vai cheirando mal!... Ora dizes uma coisa; ora dizes outra!... O mês passado respondeste-me na varanda: “Pode ser” e agora, às duas por três, dizes que não! Sabes que só quero a tua felicidade... Não te contrario... Mas tu também não deves abusar!...

Mas, gentes, o que foi que eu fiz?...

Não estou dizendo que fizeste alguma coisa!... Só te aviso que prestes toda a atenção na tua escolha de noivo!... Nem quero imaginar que serias capaz de escolher uma pessoa indigna de ti!...

Mas, como, papai?... Fale claro!

Isto vai a quem toca! Não sei se me entendes!...

Ora, seu Manuel! — exclamou Maria Bárbara, levantando-se e pousando no chão o enorme cachimbo de taquari do Pará. — Você às vezes tem lembranças que parecem esquecimento! Pois então, uma menina, que eu eduquei, ia olhar... — e gritou com mais força — para quem, seu Manuel!?

Bem, bem...

Vejam se não é mesmo vontade de provocar uma criatura!...

Bem, bem! Eu não digo isto para ofender!... — desculpou-se o negociante. — É que temos cá um rapaz bem-aparecido que...

Um cabra, berrou a sogra. — E era muito bem-feito que acontecesse qualquer coisa, para você ter mais cuidado no futuro com as suas hospedagens. Também só nessa cabeça entrava a maluqueira de andar metendo em casa crioulos cheios de fumaças! Hoje todos eles são assim! Súcia de apistolados!

AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. 107.

O texto exemplifica uma literatura voltada para

a) o desnudamento das relações sociais movidas por interesse.

b) o registro satírico dos costumes de uma época.

c) a apreensão crítica do conflito de gerações.

d) a defesa da mentalidade patriarcal.

e) a denúncia do preconceito racial.

Resolução:

Alternativa “e”

O preconceito racial é evidente no trecho: “Também só nessa cabeça entrava a maluqueira de andar metendo em casa crioulos cheios de fumaças!”. Isso mostra por que o pai está tão preocupado com o tipo de noivo que a filha pode escolher.

Questão 02

Texto I

E o mugido lúgubre daquela pobre criatura abandonada antepunha à rude agitação do cortiço uma nota lamentosa e tristonha de uma vaca chamando ao longe, perdida ao cair da noite num lugar desconhecido e agreste. Mas o trabalho aquecia já de uma ponta à outra da estalagem; ria-se, cantava-se, soltava-se a língua; o formigueiro assanhava-se com as compras para o almoço; os mercadores entravam e saíam: a máquina de massas principiava a bufar. E Piedade, assentada à soleira de sua porta, paciente e ululante como um cão que espera pelo dono, maldizia a hora em que saíra da sua terra, e parecia disposta a morrer ali mesmo, naquele limiar de granito, onde ela, tantas vezes, com a cabeça encostada ao ombro do seu homem, suspirava feliz, ouvindo gemer na guitarra dele os queridos fados de além-mar.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.

Texto II

Reinavam no Ateneu duas perniciosas influências que contrabalançavam eficazmente o porejamento de doutrina a transudar das paredes, nos conceitos de sabedoria decorativa dos quadros, e ainda mesmo a polícia das aparições ubíquas e subitâneas do diretor. Coisa difícil de precisar, como a disseminação na sociedade, do princípio do mal, elemento primário do dualismo teogônico. O meio, filosofemos, é um ouriço invertido: em vez da explosão divergente dos dardos — uma convergência de pontas ao redor. Através dos embaraços pungentes cumpre descobrir o meato de passagem, ou aceitar a luta desigual da epiderme contra as puas. Em geral, prefere-se o meato.

[...]

Representavam-se as influências dissolventes por duas espécies de encarnação, fundidas em hibridismo de disparate — a da forma feminina personificada em Ângela, a canarina, ou antes a camareira de D. Ema, e a de um encontro de tábuas humildes, conjuntadas às pressas, por força do prosaísmo incivil de um episódio da economia orgânica.

POMPEIA, Raul. O Ateneu.

Sobre os fragmentos de O cortiço e O Ateneu, duas obras naturalistas, é possível afirmar:

a) No texto I, sobressai a influência do meio; já no texto II, a zoomorfização.

b) Tanto o texto I quanto o texto II apresentam idealização da realidade.

c) No texto I, sobressai a zoomorfização; já no texto II, a influência do meio.

d) Tanto o texto I quanto o texto II apresentam o sensualismo animal.

e) Ambos os textos mostram apenas personagens socialmente privilegiados.

Resolução:

Alternativa “c”

No texto I, sobressai a zoomorfização, já que a personagem Piedade é associada a elementos animalescos, como “mugido”, “vaca” e “cão”. Além disso, as pessoas na estalagem são relacionadas a um “formigueiro”. Já no texto II, a influência do meio é o destaque: “O meio, filosofemos, é um ouriço invertido: em vez da explosão divergente dos dardos — uma convergência de pontas ao redor”.

Crédito de imagem

[1] LP&M Pocket (reprodução)

Publicado por Warley Souza

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