Descolonização da África
A descolonização da África foi um processo de independência das nações africanas, colonizadas por potências europeias desde o século XV, tendo seu ápice no século XIX. A partir de lutas nacionalistas promovidas por partidos e movimentos nacionais, muitos com influência do socialismo soviético, essas nações africanas conquistaram sua independência e se tornaram estados nacionais soberanos.
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Resumo sobre a descolonização da África
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Modelos de colonização: a colonização africana dos séculos XV a XVIII foi caracterizada por vínculos comerciais mercantilistas. Já a do século XIX, chamada de neocolonialismo, foi caracterizada pelo domínio político e influências econômica e social.
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Contexto: após a Segunda Guerra Mundial, surgiram diversos movimentos africanos nacionalistas que pregavam a independência. Aliada às disputas ideológicas da Guerra Fria, a União Soviética penetrou em muitos desses locais, difundindo o socialismo soviético. A mistura desses elementos gerou guerras civis por independência e orientação ideológica nas nações africanas.
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Processo de descolonização: basicamente, os partidos e movimentos africanos organizados com a intenção de descolonização lutavam pela independência de suas nações, expulsão dos colonizadores, criação de novos Estados nacionais e definição do alinhamento ideológico ao socialismo soviético ou ao modelo capitalista liberal.
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Pan-africanismo: foi um movimento desenvolvido na época que pregava a união dos povos africanos a partir de suas características étnicas, sociais e culturais comuns. O movimento buscava a afirmação de uma identidade africana e a recusa de valores colonialistas.
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Consequências: como consequências do processo de descolonização da África, apontam-se: a formação de novos estados nacionais africanos, a independência das nações africanas e a ocorrência de guerras civis entre apoiadores e opositores do socialismo soviético.
Contexto histórico da descolonização da África
O processo de colonização da África tem início no século XV, quando Portugal inicia sua expansão marítimo-comercial. No entanto, apesar do estabelecimento de vínculos comerciais entre portugueses e africanos, não houve a intenção de estabelecer colônias e promover a exploração comercial.
A partir do século XIX, diversas nações europeias, capitaneadas por Inglaterra e França, se lançaram em uma nova atividade colonizadora no território africano, chamada de neocolonialismo. Além da intervenção direta na organização política das colônias, as nações colonizadoras exploravam a mão de obra, matérias-primas e o mercado consumidor africanos. Esse processo termina no século XX, com a chamada descolonização.
Causas da descolonização da África
Após a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), os impérios coloniais entraram em crise, seja pela falta de recursos financeiros, humanos e militares para mantê-los, seja pela ocorrência de movimentos de independência locais. Esses movimentos foram inspirados por ideais nacionalistas e, muitas vezes, pela aderência à ideologia soviética, o que resultou em guerras civis que duraram por décadas, como os casos de Angola e Moçambique. Cabe ressaltar que a ONU, recém-criada à época, significou um apoio importante a muitos movimentos por independência.
No contexto da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputavam a influência ideológica em diversos territórios periféricos do mundo, como a África, Ásia e Oriente Médio. No caso específico da União Soviética, essa influência significou a doutrinação ideológica socialista, o apoio militar em casos de guerra civil e apoio econômico. Assim, diversas nações africanas tiveram grupos que adotaram a ideologia socialista soviética e tentaram, no contexto dos movimentos de descolonização e independência, aplicá-la às novas configurações nacionais, o que gerou, por décadas, guerras civis, como no caso de Angola.
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O processo de descolonização da África
O processo de descolonização da África é marcado pelo surgimento de movimentos e partidos pró-independência, que se envolveram em conflitos armados contra os colonizadores.
No caso de Angola, por exemplo, o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), fundado em 1956, se envolveu em uma intensa guerra civil pela expulsão dos portugueses e pela tomada do controle do país. Outro exemplo é a África do Sul, onde a luta pela independência passa pela luta pelo fim do Apartheid, um regime de segregação racial vigente durante o domínio inglês do país. Nesse caso, o Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela, é que toma a frente do processo.
O que é pan-africanismo?
O sentimento nacionalista experimentado por diferentes nações africanas no processo de descolonização deu origem ao chamado “pan-africanismo”. Trata-se de uma doutrina social que prega a união dos povos africanos em torno de suas características étnicas e culturais comuns. O movimento propõe o exercício de uma identidade africana, aliada a preceitos sociais e à busca pela libertação das consequências do processo de colonização.
Na bandeira do pan-africanismo, exposta acima, a cor vermelha simboliza o sangue do povo africano e de seus descendentes, a cor negra simboliza o povo africano e a cor verde simboliza as riquezas culturais e a diversidade natural africanas.
Consequências da descolonização da África
Como consequências ao processo de descolonização, podemos apontar:
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independência das nações africanas;
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formação de novos Estados nacionais;
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ocorrência de guerras civis;
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disputas ideológicas entre apoiadores e opositores do comunismo soviético;
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conformação cultural do pan-africanismo.
Exercícios resolvidos sobre a descolonização da África
Questão 1
Leia o texto abaixo e responda à questão:
“Até que os regimes ignóbeis e infelizes,
Que aprisionam nossos irmãos em Angola, em Moçambique,
África do Sul, em condições subumanas,
Sejam derrubados e inteiramente destruídos, haverá
Guerra, eu disse, guerra.
(...)
Até esse dia, o continente africano
Não conhecerá a paz, nós, africanos, lutaremos,
Se necessário, e sabemos que vamos vencer,
Porque estamos confiantes na vitória
Do bem sobre o mal,
Do bem sobre o mal...”
Canção “War”. Bob Marley, 1976
O cantor Bob Marley compôs essa canção em 1976. Acerca de seu contexto e conteúdo, é correto afirmar que se refere:
a) à Segunda Guerra Mundial, na qual os africanos lutaram contra a expansão soviética em seu território.
b) ao Apartheid, que defendia a superioridade dos negros em relação aos brancos.
c) ao processo de descolonização da África, no qual as nações colonizadas empreenderam guerra contra os colonizadores para conquistar independência.
d) ao modelo de colonização europeu do século XVI, que impunha modelos políticos às nações da África.
e) à crítica ao neocolonialismo, no sentido de defender a presença europeia como forma de garantir a civilização na África.
Resposta: Alternativa C
O texto se refere ao processo de descolonização da África e faz referências diretas à luta dos povos colonizados por sua independência.
Questão 2
Observe a imagem abaixo e responda à questão:
Essa bandeira tricolor foi criada pela Associação Universal para o Progresso Negro (AUPN) e adotada em 1920 como símbolo do pan-africanismo. A respeito disso, é correto afirmar que:
a) o movimento defende a segregação racial ocorrida na África do Sul.
b) o movimento adotou as pautas comunistas soviéticas e nega a existência de uma cultura africana própria.
c) o movimento foi criado no contexto da descolonização da África, período anterior à Segunda Guerra Mundial e que culminou em maior domínio europeu sobre a região.
d) o movimento valoriza a identidade africana comum a partir de elementos étnicos e culturais.
e) o movimento compõe a ideologia africana derrotada no processo de descolonização do século XX.
Resposta: Alternativa D
A bandeira do pan-africanismo simboliza as pautas do movimento, quais sejam a identidade africana, seus elementos étnicos e cultuais comuns e a luta pela libertação.
Créditos da imagem
[1] mark reinstein / Shutterstock
Fontes
CANÊDO, Letícia Bichalho. A Descolonização da África e da Ásia. Editora Contexto.
LINHARES, Maria Yeda. A Luta contra a Metrópole (Ásia e África). Editora Brasiliense.
MENDONÇA, Marina Gusmão de. A Descolonização da África: Nacionalismo e Socialismo. Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana. Ano XII, Nº XXII, maio/2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/sankofa/article/view/158261/153444.