Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, poeta brasileiro, nasceu em 19 de abril de 1886 e morreu em 13 de outubro de 1968. Seu primeiro livro — A cinza das horas — foi publicado em 1917. Assim, inicialmente, o escritor recebeu influências do parnasianismo e do simbolismo. Depois, porém, filiou-se ao modernismo brasileiro, fazendo parte, portanto, da primeira geração modernista.

Sua poesia dessa fase, consequentemente, é marcada pela liberdade formal, isto é, pela utilização de versos livres, além de possuir um tom irônico, em oposição à literatura tradicional. Apesar de Bandeira não ter estado presente na Semana de Arte Moderna, seu poema “Os sapos” foi declamado por Ronald de Carvalho (1893-1935) e agitou o evento, em 1922.

Leia também: Mário de Andrade – um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna

Biografia de Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, poeta que iniciou sua carreira literária com traços parnasianos e simbolistas e depois aderiu ao modernismo.

Manuel Bandeira nasceu em 19 de abril de 1886, em Recife. Mais tarde, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde o poeta estudou no Colégio Pedro II. Em 1903, ingressou no curso de Arquitetura da Escola Politécnica de São Paulo, que não concluiu, pois adquiriu tuberculose. Assim, os tratamentos e a possibilidade de morrer acabaram influenciando a forma como o poeta via a sua realidade, o que está impresso em sua poesia inicial.

Entre 1913 e 1914, morou na Suíça, para fazer mais um tratamento contra a doença. Sobreviveu e, em 1917, publicou, com recursos próprios, seu primeiro livroA cinza das horas.

Anos depois, fez parte do modernismo brasileiro, apesar de não ter estado presente nos eventos da Semana de Arte Moderna de 1922, quando seu poema “Os sapos” foi declamado pelo escritor Ronald de Carvalho, provocando gritos e vaias do público. Bandeira também participou da fase inicial do movimento por meio de publicações em revistas como a Klaxon e a Revista de Antropofagia.

Em 1935, Manuel Bandeira tornou-se inspetor federal de ensino. Dois anos depois, foi premiado pela Sociedade Felipe d’Oliveira. Entre 1938 e 1943, trabalhou como professor de literatura brasileira no Colégio Pedro II. Três anos depois, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 29 de agosto de 1940. Ganhou também um prêmio do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, em 1946.

Foi também professor de literaturas hispano-americanas na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se aposentou, em 1956. Assim, o escritor, que morreu em 13 de outubro de 1968, no Rio de Janeiro, além de ser um dos principais poetas modernistas, foi também cronista, tradutor, e crítico de arte e de literatura.

Estilo literário de Manuel Bandeira

Os primeiros poemas de Manuel Bandeira apresentam influências do parnasianismo e do simbolismo. No entanto, sua carreira literária firmou-se a partir de sua filiação ao modernismo brasileiro, mais especificamente à primeira fase desse movimento. Assim, a poesia modernista de Bandeira apresenta as seguintes características:

  • Nacionalismo crítico

  • Antitradicionalismo

  • Liberdade formal

  • Valorização da linguagem coloquial

  • Releitura do passado histórico

  • Regionalismo

  • Ironia

  • Temática do cotidiano

  • Linguagem despojada

Leia também: Olavo Bilac – grande expoente da poesia parnasiana brasileira

Obras de Manuel Bandeira

→ Poesia

  • A cinza das horas (1917)

  • Carnaval (1919)

  • O ritmo dissoluto (1924)

  • Libertinagem (1930)

  • Estrela da manhã (1936)

  • Lira dos cinquent’anos (1940)

  • Belo, belo (1948)

  • Mafuá do malungo (1948)

  • Opus 10 (1952)

  • Estrela da tarde (1963)

→ Prosa

  • Crônicas da província do Brasil (1937)

  • Guia de Ouro Preto (1938)

  • Noções de história das literaturas (1940)

  • Literatura hispano-americana (1949)

  • Gonçalves Dias (1952)

  • Itinerário de Pasárgada (1954)

  • De poetas e de poesia (1954)

  • Flauta de papel (1957)

  • Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966)

  • Andorinha, andorinha (1966)

Poemas de Manuel Bandeira

A seguir, vamos analisar dois poemas de Manuel Bandeira. Comecemos pelo poema “Desencanto”, de 1912, do livro A cinza das horas. Nesse texto, o eu lírico é um poeta que demonstra sua tristeza e dialoga com a leitora ou o leitor, de forma a sugerir que só pode ler o seu livro alguém que também esteja triste. Em seguida, o poeta define sua poesia, caracterizada por “sangue”, “volúpia”, “tristeza”, “remorso” e formada por um verso “amargo”, “quente” e “de angústia rouca”:

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

— Eu faço versos como quem morre.

Esse poema, anterior à fase modernista de Manuel Bandeira, apresenta metrificação — versos com nove sílabas poéticas, isto é, eneassílabos — e rimas. Além disso, sua temática, marcada pela tristeza e lembrança da morte, é comumente associada, por alguns críticos, a elementos autobiográficos, já que o autor lutava contra a tuberculose e convivia com a ideia da morte.

Acesse também: Cinco poemas de Manuel Bandeira

Em seguida, vamos ler o poema “Poética”, do livro Libertinagem. Esse texto pode ser considerado um símbolo da primeira geração modernista, já que defende uma poesia libertária e não comprometida com a tradição. Assim, o eu lírico ataca a poesia comedida, bem-comportada, tradicional, presa às regras gramaticais, para defender a poesia dos loucos e bêbedos, isto é, dos artistas livres e, portanto, acima das regras. Por isso, o poema é escrito em versos livres:

Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem-comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Crédito de imagem

[1] Global Editora (reprodução)

Publicado por Warley Souza

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