Neologismo

Neologismo é um conceito que define os processos de criação de novas palavras em uma língua. Esses processos podem ocorrer de diferentes formas: fonológica (sons inéditos); sintática (novas estruturas e novos sentidos); e semântica (novos sentidos a vocábulos existentes). Além disso, podem ser classificados com base em suas funções textuais, como os neologismos técnico-científicos (novos conceitos), os neologismos literários (novas expressões), e os neologismos populares (gírias). Também há o estrangeirismo, tipo de neologismo que deriva de outros idiomas.
Leia também: Estrutura e formação das palavras na língua portuguesa — elementos constituintes e principais processos
Resumo sobre neologismo
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O neologismo é um conceito que se refere à criação de palavras.
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Existem diversos processos de neologismos, alguns formais, outros informais.
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Alguns neologismos são desprestigiados socialmente por não se adequarem às regras formais.
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O neologismo é um processo natural de todas as línguas e enriquece o idioma.
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O neologismo pode ocorrer de forma fonológica, sintática e semântica.
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Existem neologismos técnicos-científicos, populares e literários.
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O estrangeirismo é o uso de vocábulos derivados de outros idiomas.
O que é neologismo
O neologismo é a criação de novas palavras. Isso ocorre em todas as línguas, frequentemente para suprir necessidades comunicativas que não tenham vocábulos próprios ou, ainda, para ampliar as possibilidades. O neologismo pode ocorrer no nível formal (estrutura das palavras); semântico (designação de novos sentidos); ou sintático (novas funções).
Quais são os tipos de neologismo
Os neologismos podem ser classificados tanto pela sua origem ou função como pela sua composição estrutural. Sendo assim, alguns tipos de neologismos são:
→ Neologismo popular
Termos que nascem espontaneamente de diálogos coloquiais.
Exemplos: véi, guri, mano, cine.
→ Neologismo técnico-científico
Termos que surgem para designar novos conceitos ou descobertas em qualquer área do conhecimento, assim como para nomear novos instrumentos, ferramentas e procedimentos nas áreas tecnológicas.
Exemplo: smartphone.
→ Neologismo literário
Termos criados para ampliar a possibilidade de sentido do texto literário ou ainda aumentar a expressividade do texto artístico.
Exemplos: “brincriações”, “abensonhadas” (Mia Couto).
→ Neologismo fonológico
Termos criados de forma inédita, ou seja, sem utilizar como base nenhuma outra palavra existente.
Exemplo: as onomatopeias miau, ai, psiu, toc toc etc.
→ Neologismo sintático
Termos criados por meio da combinação de partes de outros vocábulos já existentes na língua, ou seja, há uma mudança estrutural e semântica. Podem ser classificados como derivados, compostos, compostos-sintagmáticos e compostos formados por siglas ou acrônimos.
Exemplo: televisão + dramaturgia = teledramaturgia.
→ Neologismo semântico
Termos que têm a mesma estrutura que outros vocábulos já existentes, mas com uma mudança no sentido do termo.
Exemplo: pistola (usado para se referir a pessoa que está furiosa).
→ Neologismo por empréstimo
Termos que são criados com base no uso de vocábulos de outros idiomas.
Exemplos: skate, bullying.
Veja também: O que é derivação imprópria?
Como identificar um neologismo
Para identificar o neologismo nos textos, é necessário ler atentamente o texto para identificar termos que não sejam formais ou não sejam parte do vocabulário oficial da língua portuguesa a fim de analisar se algum deles é um neologismo.
Além disso, deve-se destacar os termos de origem estrangeira e termos desconhecidos que podem ter sido criados pelo(a) próprio(a) autor(a), assim como as gírias.
Por fim, vale analisar se alguma palavra está sendo utilizada com um sentido novo ou se está exercendo uma função sintática diferente da sua original, pois isso também é considerado neologismo.
Neologismo popular
O conceito de neologismo popular refere-se à criação de palavras que ocorre de forma espontânea em diálogos coloquiais. Na comunicação cotidiana, é comum que os falantes criem palavras, modifiquem a estrutura dos vocábulos ou atribuam novos sentidos a eles. As gírias, por exemplo, são um tipo de neologismo popular.
Exemplos de neologismo
“Na brumalva daquele falecido amanhecer…”
(Guimarães Rosa)
“A vida sempre superexigiu de mim”
(Clarisse Lispector)
“Os magos janeiram dia 6 / Os mortos novembram dia 2…”
(Murilo Mendes)
Todos em nosso bairro participaram do panelaço.
João disse que não se envolveria no assunto, pois achava tudo um mimimi.
Esse tipo de estratégia é considerado um bioterrorismo.
Laura alugou um novo apê.
“Malandro é malandro, e mané é mané.”
(Bezerra da Silva)
Pega um refri pra mim?
Hoje nós vamos sextar!
Quero vê se ela tanka mesmo!
“Como querer caetanear o que há de bom”
(Djavan)
“Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.”
(Manuel Bandeira)
“— Desassa a tua mandioca!”
(Guimarães Rosa)
“Josias foi o mais desfeliz, porque foi jogado para tudo quanto era lado, com a monstra sapateando em cima dele e chifrando…”
(Guimarães Rosa)
“Aquela nova minimina, flor do ministério
Quero dizer, do mistério”
(Gilberto Gil)
“Procure conhecer melhor
Seu minimistério interior”
(Gilberto Gil)
“Televisão é violenta
Lenta, lenta
Violentidão”
(Gilberto Gil)
“Virado será o mundo
E viramundo verão”
(Gilberto Gil)
Eu shippo muito eles dois.
Essa menina de azul é minha crush.
Vamos stalkear o perfil dela!
O primo de Julia fez um gato lá na rua. (roubo de energia)
Ela pagou o maior mico. (vergonha)
Esse menino é o maior mala. (chato ou metido)
Diferenças entre neologismo e estrangeirismo
O estrangeirismo é o uso de vocábulos originados de outros idiomas como uma espécie de empréstimo de vocabulário, considerando que eles ainda não estão incorporados na nova língua. Não há um consenso sobre se o estrangeirismo é um tipo de neologismo ou não, mas o que diferencia ele dos outros processos de criação de palavras é que sua origem não deriva da língua materna e sim de uma língua estrangeira.
Nesse caso, quando utilizamos uma expressão como “hype”, por exemplo, é um estrangeirismo, pois o termo ainda não foi incorporado à língua portuguesa, sendo, portanto, um neologismo utilizado entre alguns grupos sociais. Para saber mais sobre estrangeirismo, clique aqui.
Exercícios resolvidos sobre neologismo
1. (FGV) Neologismo é o processo de criação de uma palavra devido à necessidade de designar novos objetos ou novos conceitos ligados às áreas tecnológica, artística, econômica, esportiva etc.
Assinale a frase que mostra um exemplo de neologismo.
a) “Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer.” (Barão de Itararé)
b) “Apaixonar-se é criar uma religião que tem um deus falível.” (Borges)
c) “Nem ditadura, nem democratura... liberdade!” (Higgins)
d) “Paranoia é a ilusão de que seus inimigos estão organizados.” (A. Hlavaty)
e) “E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão.” (Clarice Lispector)
Resposta: C
Comentário: A palavra “democratura” não existe no vocabulário oficial e é criada pela junção de democra+(t)ura, gerando um novo sentido, o de uma “democracia imposta”.
2. (IF-RJ - adaptada) O neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. Pode ser fruto de um comportamento espontâneo, próprio do ser humano e da linguagem, ou artificial, para fins pejorativos ou não. Geralmente, os neologismos são criados a partir de processos que já existem na língua: justaposição, prefixação, aglutinação, verbalização e sufixação.
Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/neologismo> . Acesso em: 21 dez. 2011.
O neologismo desfabricação foi gerado através do mesmo processo que há na palavra
a) reaproveitar.
b) possivelmente.
c) licenciamento.
d) Reutilizando.
Resposta: A
Comentário: A palavra “desfabricação” é criada da inserção do prefixo des- antes da palavra “fabricação”. A palavra “reaproveitar” vem do mesmo processo, pois surge da junção do prefixo re- com a palavra “aproveitar”.
3. (Enem)
Texto I
Um ato de criatividade pode gerar um modelo produtivo. Foi o que aconteceu com a palavra sambódromo, criativamente formada com a terminação -(o)dromo (=corrida), que figura em hipódromo, autódromo, cartódromo, formas que designam itens culturais da alta burguesia. Não demoraram a circular, a partir de então, formas populares como rangódromo, beijódromo, camelódromo.
AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008
Texto II
Existe coisa mais descabida do que chamar de sambódromo uma passarela para desfile de escolas de samba? Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de corrida”, daí as palavras autódromo e hipódromo. É certo que, às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não se descoloca a velocidade de um cavalo ou de um carro de Fórmula 1.
GULLAR, F. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012.
Há nas línguas mecanismos geradores de palavras. Embora o texto II apresente um julgamento de valor sobre a formação da palavra sambódromo, o processo de formação dessa palavra reflete
a) o dinamismo da língua na criação de novas palavras.
b) uma nova realidade limitando o aparecimento de novas palavras.
c) a apropriação inadequada de mecanismos de criação de palavras por leigos.
d) o reconhecimento a impropriedade semântica dos neologismos.
e) a restrição na produção de novas palavras com o radical grego.
Resposta: A
Comentário: Os neologismos costumam gerar resistência em falantes mais tradicionais e conservadores, mas a formação de novas palavras é um processo natural em todas as línguas e, por isso, não deve ser julgada como algo negativo ou inferior.
4. (Enem)
Só falta o Senado aprovar o projeto de lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como shopping center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a preservação da soberania nacional, a saber:
……..
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer “Tu vai” em espaços públicos do território nacional;
Nenhum cidadão paulista poderá dizer “Eu lhe amo” e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como “Me vê um chopps e dois pastel”;
……….
Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com a palavra “borraxaria” e nenhum dono de banca de jornal anunciará “Vende-se cigarros”;
……….
Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar colocações pronominais como “casar-me-ei” ou “ver-se-ão”.
(PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.)
No texto acima, o autor:
a) mostra-se favorável ao teor da proposta por entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso.
b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua.
c) denuncia o desconhecimento de regras elementares de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro.
d) revela-se preconceituoso em relação a certos registros linguísticos ao propor medidas que os controlem.
e) defende o ensino rigoroso da gramática para que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.
Resposta: B
Comentário: O autor utiliza um tom irônico para criticar a resistência aos neologismos, mostrando que boa parte do vocabulário brasileiro é composta por termos dessa natureza. Dessa forma, o autor se propõe a mostrar a incoerência do projeto de lei.
5. (Fuvest)
Capitulação
Delivery
Até pra telepizza
É um exagero.
Há quem negue?
Um povo com vergonha
Da própria língua
Já está entregue.
(Luis Fernando Verissimo)
O título atribuído pelo autor está adequado tendo em vista o conteúdo do poema? Justifique sua resposta.
Resposta: Sim, o termo capitulação significa “ato de capitular”, ou seja, ato de se render. No poema, há uma crítica a uma espécie de “rendição” dos falantes da língua portuguesa aos termos estrangeiros, principalmente aqueles que têm equivalentes na língua materna, como “delivery” e “entrega”.
Fontes
ALVES, I. M. Neologismo - criação lexical. Série Princípios. São Paulo: Editora Ática, 2004.
MARTINHO, J. Neologismos. Reverso, Belo Horizonte, v. 37, n. 70, p. 55-66, jun. 2015. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952015000200008&lng=pt&nrm=iso
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