Plano Cohen
O Plano Cohen teria sido um plano de ataque organizado pelos comunistas para desestabilizar a ordem social, derrubar Getúlio Vargas do poder e formar um governo revolucionário no Brasil. Em setembro de 1937, Vargas foi ao rádio denunciar a existência desse plano, que se tornou a justificativa para a decretação da ditadura do Estado Novo. A farsa do plano foi revelada pelo general Góis Monteiro em 1945.
Veja também: Revolução de 1930 — revolta armada que deu início à Era Vargas
Resumo sobre o Plano Cohen
-
O Plano Cohen foi um suposto plano arquitetado pelos comunistas para provocarem desordem nacional e tomarem o poder, em 1937.
-
Getúlio Vargas era o presidente da república na época e usou o Plano Cohen como justificativa para o golpe que implantou a ditadura do Estado Novo.
-
A farsa do plano só foi revelada, pelo general Góis Monteiro, em março de 1945.
O que foi o Plano Cohen?
O Plano Cohen foi a justificativa utilizada por Getúlio Vargas, em 1937, para aplicar um golpe de Estado e instalar uma ditadura, que fechou o Congresso Nacional, extinguiu partidos políticos e censurou a imprensa. Esse plano consistia em uma ameaça comunista de depor Getúlio Vargas do poder e instalar um governo revolucionário no Brasil. A ditadura do Estado Novo surgiu tendo como objetivo a defesa contra a ameaça de um golpe comunista. Até 1945, Vargas governou o país com amplos poderes.
Esse plano previa a mobilização dos trabalhadores para fazerem uma greve geral e depredar prédios públicos, manifestações populares, saques e matarem autoridades civis e militares ou quem se opusesse à revolta. Quando revelado o teor do Plano Cohen, teve início uma campanha anticomunista e o temor na sociedade de que o plano fosse colocado em prática. Poucas semanas depois do anúncio para o público, Getúlio Vargas executou um golpe de Estado e instalou uma ditadura cujo objetivo principal era manter a ordem nacional, evitando qualquer insurreição contra o governo.
As origens do Plano Cohen
A década de 1930 foi marcada por embates ideológicos que culminaram em violência na Europa e causaram impactos mundo afora. A ascensão do nazifascismo e a expansão do comunismo tiveram influência nos conflitos entre trabalhadores em greve guiados pelas ideias oriundas da União Soviética e os integrantes dos partidos nazista, na Alemanha, e fascista, na Itália. Em diversos países, grupos influenciados por essas ideologias de confronto na Europa agiram de forma violenta contra seus inimigos e governos.
No Brasil, nesse período, surgiram a Ação Integralista Brasileira, de caráter fascista, e a Aliança Nacional Libertadora, de inspiração comunista. Seus integrantes entraram em confronto, promovendo desordem e violência por onde passavam. Em 1935, integrantes da ANL organizaram a Intentona Comunista, uma tentativa de golpe contra Getúlio Vargas visando tirá-lo do poder e formar um governo revolucionário. As tropas oficiais derrotaram os revoltosos.
Apesar da vitória do governo sobre os comunistas, nos anos seguintes ainda existia a possibilidade de um dos grupos em disputa tomar o poder. O Plano Cohen fez sentido e foi justificado para o Golpe de 1937 por conta desse contexto de conflitos violentos entre grupos ideológicos opostos. Vargas usou o plano, que teria sido feito pelos comunistas, para “derrubá-lo” do poder, com o objetivo de concentrar mais poderes, sem nenhuma força opositora questionando suas ações.
Além disso, Vargas queria maior aproximação com a classe trabalhadora sem a interferência de sindicatos, que tinham ligações com os comunistas. Durante a ditadura do Estado Novo, Vargas se tornou o grande líder defensor dos trabalhadores e criador de leis trabalhistas que lhes garantiam inúmeros direitos.
Acesse também: Era Vargas — características das três formas de governo que vigoraram
O Plano Cohen e o Golpe de 1937
No dia 30 de setembro de 1937, Getúlio Vargas usou o rádio para denunciar um plano orquestrado pelos comunistas para derrubá-lo do poder. Naquele mesmo mês, o alto comando militar seu reuniu para discutir o Plano Cohen, que provocaria desordem nacional para que os comunistas tomassem o poder no Brasil. Participaram da reunião o general Eurico Dutra, ministro da Guerra, o general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército (EME), e Filinto Müller, chefe de Polícia do Distrito Federal. Nenhum participante da reunião questionou a autenticidade do plano.
Logo após a denúncia do governo sobre o Plano Cohen, Getúlio Vargas enviou ao Congresso Nacional um pedido para que fosse decretado estado de guerra, o que lhe daria amplos poderes para governar o Brasil e evitaria que o plano comunista se tornasse realidade. Os parlamentares concordaram com Vargas, e o estado de guerra foi decretado. Dessa forma, o presidente pôde destituir de seu cargo o governador gaúcho Flores da Cunha, último obstáculo do governo para que se instalasse uma ditadura no Brasil.
Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas efetuou um golpe de Estado fechando o Congresso Nacional, extinguindo os partidos políticos, censurando a imprensa e anulando a Constituição de 1934. Com o início da ditadura do Estado Novo, Vargas se tornava um ditador, usando como justificativa a desordem provocada pelos comunistas no Plano Cohen. Uma nova Constituição foi outorgada, dando plenos poderes ao chefe do Executivo. No preâmbulo da nova Carta, liam-se as justificativas para tal ato a restauração da ordem nacional e:
“atendendo ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e permanente; atendendo a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo”.|1|
Videoaula sobre Era Vargas: Estado Novo
A revelação da farsa do Plano Cohen
Em março de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial se aproximando e com a vitória dos Aliados, começou a surgir a defesa por governos democráticos, que promovessem a paz entre os povos, a liberdade e os direitos humanos. Depois da destruição do nazifascismo, não fazia mais sentido para o novo mundo a ser erguido dos escombros da guerra governos ditatoriais. As forças autoritárias do Estado Novo enfraqueceram, dando início à abertura política e ao fim da censura à imprensa.
Nesse contexto de abertura, o general Góis Monteiro veio a público revelar que o Plano Cohen era uma farsa e que não havia, em setembro de 1937, nenhum plano comunista de tomada de poder. O militar, que participou da reunião da alta cúpula do poder que analisou o plano, responsabilizou o capitão do Exército, Olympio Mourão Filho, que era chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB), pela trapaça.
Mourão, por sua vez, reconheceu que elaborou o documento, mas que a insurreição descrita nele era uma simulação, e seu uso seria restrito ao âmbito da AIB. O capitão afirmou também que Góis Monteiro se apropriou indevidamente do plano e não se posicionou contra a sua divulgação em respeito à hierarquia militar.
Plínio Salgado, líder maior do Integralismo no Brasil, também se pronunciou sobre a revelação da farsa do Plano Cohen. Ele disse que tinha ciência desse plano e que não contestou sua autenticidade para que as Forças Armadas não fossem desmoralizadas.
Quais as consequências do Plano Cohen?
A principal consequência do Plano Cohen foi o golpe do Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas, em 10 de novembro de 1937. O presidente instaurou a primeira ditadura brasileira do século XX, tendo como justificativa o perigo para a ordem nacional que o plano hipoteticamente organizado pelos comunistas poderia trazer para o Brasil. Além disso, com a campanha anticomunista que se formou logo após a divulgação do plano, Vargas associou sua imagem com os direitos e as leis trabalhistas, podendo se aproximar definitivamente dos trabalhadores urbanos.
Além da formação do Estado Novo, o Plano Cohen teve como consequência, dentro das Forças Armadas, a formação de uma campanha de combate ao comunismo no Brasil. O fato da cúpula militar avalizar o plano sem ao menos questionar sua autenticidade demonstra que tudo seria utilizado para implicar aos comunistas, infundadamente, uma insurreição popular para tomar o poder no Brasil.
Saiba mais: Ditadura militar no Brasil — aspectos da segunda ditadura brasileira do século XX
Exercícios resolvidos sobre o Plano Cohen
Questão 1
(UFMG) Leia o texto:
“A enorme simpatia da massa popular às lutas revolucionárias de novembro, especialmente em Pernambuco, Rio Grande do Norte e demais estados do nordeste [faziam surgir] naturalmente os grupos guerrilheiros, cada dia em maior número, em todo o País, especificamente no nordeste, heroicos brasileiros — operários, camponeses, soldados, populares — levantam, de armas nas mãos, o cartel do desafio lançado à Nação por Getúlio e seus amigos imperialistas. [...] A insurreição de novembro foi o início de grandes combates. As guerrilhas são uma forma de seu prosseguimento.”
Esse trecho, extraído de um folheto de época, faz referência a um movimento da história do Brasil republicano provocado pelo(a)
a) desejo de Getúlio de se aliar aos nacionais libertadores para combater o imperialismo.
b) denúncia de que o movimento de libertação nacional preparava a morte de Getúlio.
c) revolta dos comunistas com a violência da reação de Getúlio ao movimento de 1935.
d) embate entre getulistas e prestistas por ocasião do massacre da Coluna.
Resolução:
Alternativa C
O Plano Cohen foi uma suposta tentativa dos comunistas de derrubarem Getúlio Vargas do poder, em 1937. Vargas utilizou esse plano para justificar o golpe que originou a ditadura do Estado Novo.
Questão 2
(UFTM 2012) Entre os motivos alegados por Getúlio Vargas para decretar o Estado Novo, em novembro de 1937, pode-se citar
a) a iminência do início da 2ª Guerra Mundial e a necessidade de proteger as nossas fronteiras.
b) as greves operárias, os saques e as depredações que tomaram conta do país no período.
c) a descoberta de uma suposta insurreição comunista, o chamado Plano Cohen.
d) as denúncias de fraudes no processo de escolha do seu sucessor, publicadas pela imprensa.
Resolução:
Alternativa C
Getúlio Vargas se baseou em uma suposta ameaça comunista de tomada de poder para executar um golpe de Estado e instalar uma ditadura no Brasil, em 1937. Anos depois, descobriu-se que o plano denunciado por Vargas era uma farsa.
Notas
|1|Para ler na íntegra, acesse: planalto.gov