Pagu
Pagu é o nome artístico da escritora paulista Patrícia Galvão. Ela nasceu na cidade de São João da Boa Vista; mas, na adolescência, passou a viver na cidade de São Paulo. Seu espírito libertário atraiu a atenção dos artistas modernistas e causou escândalo na sociedade conservadora da época.
A escritora, que faleceu em 12 de dezembro de 1962, em Santos, foi presa várias vezes por sua atuação junto ao Partido Comunista. Assim, tornou-se a primeira presa política brasileira. De viés modernista, sua obra apresenta realismo social e caráter panfletário. A autora também escreveu contos policiais.
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Resumo sobre Pagu
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Pagu é como ficou conhecida a escritora brasileira Patrícia Galvão.
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Ela nasceu em 1910 e faleceu em 1962.
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Além de escritora, Pagu também foi jornalista e militante comunista.
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Sua obra está inserida no Modernismo brasileiro e é caracterizada pelo realismo social.
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A autora também escreveu contos policiais na década de 1940.
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Pagu é um símbolo de liberdade feminina e de luta política em prol da igualdade social.
Biografia de Pagu
Pagu (Patrícia Rehder Galvão) nasceu em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista, no estado de São Paulo. Era filha de imigrantes italianos e iniciou seus estudos primários na cidade natal. Mais tarde, eles se mudaram para a capital do estado, onde, em 1925, Pagu estudou literatura no Conservatório Dramático e Musical, no qual foi aluna do escritor Mário de Andrade (1893-1945).
A autora concluiu o curso de magistério na Escola Normal em 1928. Ainda como estudante, conheceu o poeta Raul Bopp (1898-1984). Foi ele quem lhe deu o apelido de “Pagu” quando a escritora tinha 18 anos de idade. Ela acabou se transformando em uma espécie de musa do Modernismo brasileiro.
Começou a desenhar para a Revista de Antropofagia. A jovem ficou muito próxima do casal Tarsila do Amaral (1886-1973) e Oswald de Andrade (1890-1954). Assim, em 1929, o escritor se separou de Tarsila para ficar com Pagu, com quem teve um filho — Rudá — no ano seguinte.
No final de 1930, Pagu viajou à Argentina para participar de um evento literário. Em Buenos Aires, ela conheceu as irmãs de Luís Carlos Prestes e alguns membros do Partido Comunista da Argentina. De volta ao Brasil, ela buscou conhecer mais sobre a causa comunista. Em 1931, Pagu e Oswald criaram o jornal O Homem do Povo.
Nesse periódico, a escritora era responsável pela coluna intitulada Mulher do Povo. Porém, o periódico logo foi fechado pelo governo de Getúlio Vargas (1882-1954). Então, Pagu e Oswald foram para o Uruguai, onde finalmente ela conheceu Luís Carlos Prestes (1898-1990). Filiada ao Partido Comunista do Brasil em 1931, decidiu trabalhar como operária em uma fábrica de Santos.
Nessa cidade, participava de manifestações, em que a polícia atirava para matar. Em função de sua atuação política, foi presa, pela primeira vez, em 1931. Em cumprimento às ordens dos líderes do partido, trabalhou como ajudante de alfaiate, depois em metalurgia. Isso era necessário para provar sua dedicação à causa operária.
Porém, cansada dessa situação, voltou à casa de Oswald de Andrade, em 1932, onde escreveu seu romance Parque industrial. Em seguida, retomou as obrigações partidárias. Mas se desiludiu com o partido em relação à forma como as mulheres eram tratadas, pois não havia igualdade de tratamento entre homens e mulheres.
Assim, decidiu sair do país no final de 1933. Escrevia reportagens internacionais para os jornais Correio da Manhã, Diário de Notícias e Diário da Noite. Desse modo, tornou-se a única jornalista da América Latina a presenciar a coroação do imperador da China, Pu Yi (1906-1967).
Em 1934, atuou no jornal francês L’Avant-Garde e se filiou ao Partido Comunista da França, onde foi presa mais de uma vez por participar de manifestações políticas. Em 1935, a escritora retornou ao Brasil e terminou o relacionamento com Oswald de Andrade. Ainda vinculada à esquerda brasileira, foi presa em 23 de janeiro de 1936.
Conseguiu escapar em 25 de outubro de 1937, para ser presa novamente em 22 de março de 1938. Ao sair da prisão, em 1940, ela se filou ao Partido Socialista Brasileiro e se tornou uma voz crítica contra o PCdoB. Em 1940, ela se casou com o jornalista Geraldo Ferraz (1905-1979), com quem teve um filho.
Durante os próximos anos, escreveu para diversos periódicos de São Paulo, como A Manhã, O Jornal, A Vanguarda Socialista, além de trabalhar na agência de notícias France-Presse. E, em 1950, Pagu se candidatou ao cargo de deputada estadual por São Paulo, mas não conseguiu se eleger.
A partir de 1954, escreveu para o jornal A Tribuna, foi tradutora e participou de eventos artísticos. No ano de 1962, viajou a Paris para fazer uma cirurgia, na tentativa de se livrar de um câncer. A autora entrou em depressão e tentou se matar, sem sucesso. Acabou falecendo, devido ao câncer, em 12 de dezembro de 1962, na cidade brasileira de Santos.
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Pagu e o Modernismo
Ainda muito jovem, Pagu teve contato com artistas modernistas como Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Fez desenhos para a Revista de Antropofagia e se identificou com os ideais modernistas. Seu romance Parque industrial, dado seu caráter político e por possuir uma narrativa vinculada ao realismo social, pode ser enquadrado na segunda fase do Modernismo brasileiro.
Pagu e a militância política
Pagu teve seu primeiro contato com o comunismo em 1930. A partir de então, ingressou na militância política. Logo se filiou ao Partido Comunista do Brasil, participou de manifestações políticas, experimentou a vida de operária e usou a literatura para promover a sua ideologia comunista.
A escritora foi comunista durante a Era Vargas, marcada por um governo que combatia essa vertente ideológica, inclusive com prisão. Presa várias vezes, no Brasil e na França, onde também atuou em prol da causa comunista, acabou desiludindo-se com o partido. Porém, dedicou em torno de 20 anos de sua vida à militância política.
Durante esse período, apoiou sindicatos, movimentos grevistas, distribuiu panfletos e atuou em prol da causa operária. Ao ser encarcerada em 1931, tornou-se a primeira presa política do Brasil. Combatia, assim, o fascismo e o regime capitalista. Mas a desigualdade de gênero entre membros do Partido Comunista e a miséria que ela presenciou em Moscou, na Rússia, levaram Pagu a criticar o PC, apesar de continuar socialista.
Obras de Pagu
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Parque industrial (1933) — romance.
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Verdade e liberdade (1950) — panfleto.
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Safra macabra (1998) — contos.
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Paixão Pagu (2005) — autobiografia.
Pagu na cultura popular
A escritora e jornalista Pagu é um símbolo de independência feminina na cultura brasileira. Sem necessariamente levantar uma bandeira pela igualdade de gênero, ela tinha uma atitude que não era comum para as mulheres burguesas do início do século XX. Portanto, é lembrada pelo seu comportamento livre, o qual escandalizava a sociedade da época.
Outra imagem de Pagu é a da revolucionária, que deixou o papel de musa modernista para assumir o de militante política. As prisões políticas que enfrentou são pontos marcantes em sua biografia. Desse modo, é uma personalidade não só literária, mas principalmente histórica. Enfim, uma personalidade marcante da cultura brasileira.
Pagu é um símbolo de liberdade feminina, artística e política. Portanto, está culturalmente associada à arte, ao comunismo e ao feminismo. No cinema nacional, foi homenageada no filme Eternamente Pagu, de 1988, dirigido por uma mulher, a atriz Norma Benguell (1935-2013).
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Legado de Pagu
Patrícia Galvão contribuiu para a literatura brasileira com um “romance proletário” e alguns contos policiais. Ambas as obras com certo ineditismo na literatura brasileira. Seu romance, em tom panfletário, coloca o operário no foco da narrativa. E seus contos policiais foram produzidos na década de 1940, quando não havia uma tradição desse gênero de narrativa no Brasil.
Desse modo, Pagu abriu as portas para as escritoras de literatura policial no Brasil. Mas sua importância na cultura brasileira extrapola o campo literário, já que Pagu teve forte atuação política. Antes mesmo de aderir ao comunismo, ela já tinha uma postura política (ou feminista), ao rejeitar o recato feminino exigido para as moças burguesas de sua época.
Em sua memória, foram criados o Centro de Cultura Patrícia Galvão, em Santos, e o Instituto Patrícia Galvão, em São Paulo. Já a publicação acadêmica Cadernos Pagu é responsável pela divulgação de estudos de gênero no Brasil. Desse modo, a memória de Pagu continua viva.
Créditos da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
Fontes
CHAVES, C. M. De Pagu a Patrícia Galvão: itinerários de uma artista comunista na Era Vargas. 2014. Dissertação (Mestrado em Letras) – Departamento de Letras, Artes e Cultura, Universidade Federal de São João del-Rei, 2014.
VIVA PAGÚ. Cronologia. Disponível em: https://www.pagu.com.br/cronologia/.