Modernismo no Brasil
O modernismo no Brasil surgiu em 1922 com o advento da Semana de Arte Moderna de São Paulo. A literatura modernista, assim, apresenta três fases. A primeira é também chamada de fase heroica ou de destruição, pois empreende crítica à tradição estética. A segunda harmoniza inovação e tradição, por isso é chamada de fase de reconstrução.
A terceira fase do modernismo no Brasil é responsável pela poesia de 1945, pelo concretismo e pela ficção metalinguística e de caráter universal. Desse modo, o Brasil conta com autores modernistas famosos, como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Clarice Lispector e Guimarães Rosa, por exemplo.
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Resumo sobre modernismo no Brasil
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O modernismo no Brasil teve início em 1922, com a Semana de Arte Moderna.
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A primeira fase literária (1922-1930) é marcada por inovação e antiacademicismo.
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A segunda fase literária (1930-1945) equilibra a inovação com a tradição.
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A terceira fase literária (1945-1978) engloba a poesia concreta e a metaficção.
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Já a arte modernista apresenta traços do cubismo, expressionismo e surrealismo.
Contexto histórico do modernismo no Brasil
O início do modernismo no Brasil ocorreu no contexto da República Velha (1889-1930). Durante todo esse período predominou a tradicional política do café com leite, já que o poder era alternado entre as forças políticas de São Paulo e Minas Gerais. E os autores da primeira fase modernista se empenharam, portanto, em combater a tradição.
Em 1930, Getúlio Vargas (1882-1954) passou a comandar o país. E, sete anos depois, decretou o Estado Novo, de cunho ditatorial. Nesse período, houve censura, perseguição aos comunistas, além do surgimento do nazifascismo no país. Afinal, o Brasil sofria influência europeia. Daí a preocupação dos autores da segunda fase com questões políticas e sociais.
Na Europa, o nazismo e o fascismo precederam a Segunda Guerra Mundial, conflito bélico que impactou todo o planeta. Com o fim desse conflito, teve fim também a ditadura getulista. No entanto, Vargas voltou a governar o país novamente entre 1951 e 1954, agora em regime democrático. Assim, algumas obras da terceira fase apresentam crítica social enquanto outras se afastam de questões ideológicas para tratar de temas universais.
Com a vitória de Juscelino Kubitschek (1902-1976), o país iniciou uma política de caráter desenvolvimentista entre 1956 e 1961. Porém, com o golpe militar de 1964, o país vivenciou novamente uma ditadura, que durou até 1985. A Ditadura Militar assistiu também ao fim da terceira fase modernista.
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Origem do modernismo no Brasil
O modernismo no Brasil surgiu com o advento da Semana de Arte Moderna de 1922. Durante essa semana, ficou em evidência o caráter inovador da nova arte, inspirada nas vanguardas europeias. Nesse início, inclusive, os modernistas eram chamados pela conservadora imprensa da época de “futuristas”.
Fases do modernismo no Brasil
→ Primeira fase do modernismo no Brasil
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Características da primeira fase do modernismo brasileiro
Chamada de fase heroica ou de destruição, essa fase do modernismo brasileiro durou de 1922 a 1930. Os autores desse período buscavam criar algo novo, distinto da arte acadêmica. Portanto, a inovação é uma marca importante nas obras dessa fase, que apresenta também outras características, como:
- nacionalismo crítico;
- antirromantismo;
- liberdade de criação;
- versos livres;
- fragmentação;
- ironia;
- coloquialismo;
- regionalismo.
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Principais autores da primeira fase do modernismo brasileiro
- Manuel Bandeira (1886-1968)
- Oswald de Andrade (1890-1954)
- Mário de Andrade (1893-1945)
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Principais obras da primeira fase do modernismo brasileiro
- Memórias sentimentais de João Miramar (1924), de Oswald de Andrade
- Macunaíma (1928), de Mário de Andrade
- Libertinagem (1930), de Manuel Bandeira
→ Segunda fase do modernismo no Brasil
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Características da segunda fase do modernismo brasileiro
Conhecida como fase de reconstrução, equilibra tradição com inovação. A poesia, portanto, apresenta não só versos livres, mas também regulares e brancos. Teve início em 1930 e, oficialmente, terminou em 1945. As obras desse período apresentam temática contemporânea, conflito existencial e crítica sociopolítica.
A prosa dessa época ficou conhecida como romance de 1930 e possui estas características:
- regionalismo;
- caráter realista;
- crítica social;
- determinismo;
- enredos dinâmicos;
- linguagem simples.
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Principais autores da segunda fase do modernismo brasileiro
- Graciliano Ramos (1892-1953)
- Jorge de Lima (1893-1953)
- José Lins do Rego (1901-1957)
- Cecília Meireles (1901-1964)
- Murilo Mendes (1901-1975)
- Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
- Erico Verissimo (1905-1975)
- Rachel de Queiroz (1910-2003)
- Jorge Amado (1912-2001)
- Vinicius de Moraes (1913-1980)
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Principais obras da segunda fase do modernismo brasileiro
- O quinze (1930), de Rachel de Queiroz
- Menino de engenho (1932), de José Lins do Rego
- Cacau (1933), de Jorge Amado
- São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos
- Novos poemas (1938), de Vinicius de Moraes
- O visionário (1941), de Murilo Mendes
- A rosa do povo (1945), de Carlos Drummond de Andrade
- O tempo e o vento (1949-1961), de Erico Verissimo
- Poemas negros (1947), de Jorge de Lima
- Romanceiro da Inconfidência (1953), de Cecília Meireles
→ Terceira fase do modernismo no Brasil
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Características da terceira fase do modernismo brasileiro
Teve início em 1945 e, oficialmente, terminou em 1978. Portanto, a poesia de 1945 apresenta rigor formal e temática sociopolítica. Já a poesia concreta possui caráter experimental e apresenta preocupação com a palavra, o som e a imagem. Assim, essa poesia verbivocovisual valoriza o espaço da folha de papel, devido a seu caráter imagético. A prosa desse período possui as seguintes características:
- fragmentação;
- metaficção;
- fluxo de consciência;
- universalismo;
- profundidade filosófica;
- estrutura não convencional.
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Principais autores da terceira fase do modernismo brasileiro
- João Guimarães Rosa (1908-1967)
- Clarice Lispector (1920-1977)
- João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
- Fernando Sabino (1923-2004)
- Décio Pignatari (1927-2012)
- Haroldo de Campos (1929-2003)
- Ferreira Gullar (1930-2016)
- Augusto de Campos (1931-)
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Principais obras da terceira fase do modernismo brasileiro
- Morte e vida severina (1955), de João Cabral de Melo Neto
- Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa
- O encontro marcado (1956), de Fernando Sabino
- Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar
- A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector
- Poesia pois é poesia (1977), de Décio Pignatari
- Viva vaia (1979), de Augusto de Campos
- Galáxias (1984), de Haroldo de Campos
Arte do modernismo no Brasil
A arte modernista brasileira sofreu influência das vanguardas europeias. Por isso, é comum identificar nas obras modernistas traços de movimentos como cubismo, surrealismo e expressionismo. No mais, os artistas modernistas brasileiros produziram uma arte não acadêmica, inovadora e, em alguns casos, nacionalista.
O Brasil conta, assim, com grandes obras modernistas, tais como:
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O homem amarelo, de Anita Malfatti;
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Morte de Ismael Nery, de Ismael Nery;
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Retrato de Ronald de Carvalho, de Vicente do Rego Monteiro;
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A sombra, de Zina Aita.
Saiba mais: Cinco poemas concretos do modernista Augusto de Campos
Semana de Arte Moderna de 1922
A Semana de Arte Moderna é como ficou conhecida a semana em que artistas brasileiros, influenciados pelas vanguardas europeias, apresentaram as novas tendências artísticas ao público nacional. O evento teve lugar no Teatro Municipal de São Paulo e ocorreu nas noites de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922.
Participaram do evento os seguintes artistas:
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Graça Aranha (1868-1931);
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Heitor Villa-Lobos (1887-1959);
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Anita Malfatti (1889-1964);
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Guilherme de Almeida (1890-1969);
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Menotti del Picchia (1892-1988);
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Ronald de Carvalho (1893-1935);
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Mário de Andrade (1893-1945);
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Victor Brecheret (1894-1955);
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Di Cavalcanti (1897-1976);
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Vicente do Rego Monteiro (1899-1970);
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Zina Aita (1900-1967).
Exercícios sobre modernismo no Brasil
Questão 01
(ENEM)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima
A) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
B) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
C) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
D) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.
E) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
Resolução:
Alternativa C.
O eu lírico afirma que, por nascer em Itabira, é “triste, orgulhoso: de ferro”. A sua origem também é responsável por sua “vontade de amar”, além do “hábito de sofrer”. No entanto, ele está distante de Itabira agora, a qual “é apenas uma fotografia na parede”. Desse modo, existe uma tensão histórica, manifestada pela dor no final, entre ele e Itabira. Tal cidade, como fica evidenciado, é responsável pela sua constituição enquanto indivíduo.
Questão 02
(ENEM)
“Precisa-se nacionais sem nacionalismo, [...] movidos pelo presente mas estalando naquele cio racial que só as tradições maduram! [...]. Precisa-se gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e sobretudo, oh! sobretudo bastante vergonha na cara!
[...] Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito no anúncio vistoso de cores desesperadas pintado sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.”
Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas Cidades, 1972.
No trecho acima, Mário de Andrade dá forma a um dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a feição de uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao expressar-se numa variante de linguagem popular identificada pela(o):
A) escolha de palavras como “cio”, “peitaria”, “vergonha”.
B) emprego da pontuação.
C) repetição do adjetivo bastante.
D) concordância empregada em “Assim está escrito”.
E) escolha de construção do tipo “precisa-se gentes”.
Resolução:
Alternativa E.
De acordo com a gramática normativa, o certo é: “precisa-se de nacionais”, “precisa-se de gentes” e “precisa-se de brasileiros”. Ao excluir a preposição “de” dessas frases, Mário de Andrade pretende diferenciar a língua portuguesa de Portugal e do Brasil, de forma a marcar a nossa nacionalidade por meio do uso da língua.
Questão 03
(ENEM)
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
A) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
B) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
C) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
D) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
E) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
Resolução:
Alternativa C.
Uma das características da terceira fase modernista e, particularmente, de Clarice Lispector é a metaficção, isto é, a ficção que fala de si mesma. No trecho em questão, o narrador faz reflexões existenciais (“Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer?”, por exemplo) e evidencia a construção do próprio discurso (“Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual”, por exemplo).
Créditos das imagens
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
AJZENBERG, Elza. A Semana de Arte Moderna de 1922. Revista Cultura e Extensão, São Paulo, v. 7, p. 25-29, 2012.
NASCIMENTO, Evando. A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo brasileiro: atualização cultural e “primitivismo” artístico. Gragoatá, Niterói, n. 39, p. 376-391, jul./ dez. 2015.