Queda do Império Romano
A queda do Império Romano ocorreu no século V, mas a deposição de Rômulo Augusto em 476 foi apenas o desfecho de uma crise que se iniciou dois séculos antes. Roma formou um dos maiores e mais duradouros impérios da história, possuindo terras na Europa, Ásia e África.
No século III, Roma deixou de conquistar novos territórios e, dessa forma, reduziu o número de escravos que eram enviados ao império. A falta de mão de obra deu início a uma grave crise econômica que fez com que o império reduzisse os investimentos militares, enfraquecendo o exército na fronteira e possibilitando a invasão de diversos povos germânicos ao território romano.
A crise e as constantes invasões fizeram com que muitas pessoas deixassem as grandes cidades e passassem a viver na área rural.
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Resumo sobre a queda do Império Romano
- A queda do império romano é o marco final da Idade Antiga e o marco inicial da Idade Média.
- A crise do escravismo é apontada pela maior parte dos historiadores como a principal responsável pela queda do Império Romano.
- Flávio Odoacro, rei dos hérulos, derrubou o imperador romano Rômulo Augusto no ano 476.
- Durante a crise econômica e as invasões bárbaras o império romano foi dividido em duas partes, a ocidental e a oriental.
- O Império Bizantino, herdeiro do Império Romano do Oriente, durou até 1453, quando a sua capital, Constantinopla, foi conquistada pelos turcos.
- A queda de Constantinopla marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
- Com a queda do Império Romano iniciou-se o processo de ruralização da Europa, que deu origem à Idade Média.
Contexto histórico da queda do Império Romano
Roma era inicialmente uma cidade latina na Península Itálica que começou um processo de conquista dos territórios vizinhos no século VI a.C. Inicialmente os romanos conquistaram toda a Península Itálica, que era habitada por diversos povos, como etruscos, gregos e sabinos.
Após a conquista da Península Itálica os romanos passaram a povoar e conquistar regiões costeiras do Mediterrâneo, principalmente no Sul da atual Espanha. A expansão romana levou a atritos e disputas comerciais com outra potência do Mediterrâneo, Cartago, cidade fundada pelos fenícios que se tornou a capital do império.
No século III a.C., a guerra entre o Império Romano e o Império Cartaginês eclodiu. Por mais de um século as duas potências se enfrentaram nas três Guerras Púnicas. Após a vitória na última guerra os romanos destruíram Cartago e escravizaram grande parte da sua população. As terras antes cartaginesas passaram para a posse de Roma, que se tornou a força hegemônica no Mediterrâneo.
Após a vitória nas Guerras Púnicas a expansão romana continuou, conquistando nos próximos séculos a Europa Ocidental, o Norte da África, a maior parte da Grã-Bretanha, a Ásia Menor e a região do Levante. O enorme império romano era conectado por uma rede de estradas que facilitavam o comércio, a comunicação e o rápido deslocamento de tropas para reprimir rebeliões ou conquistar novos territórios.
Conforme crescia, Roma passou a escravizar grande quantidade de seres humanos, que eram enviados para diversas cidades do império, principalmente para a capital e as cidades da Península Itálica. No século II d.C., auge do império, a mão de obra escrava era fundamental para a economia do império, com os escravos trabalhando em diversas atividades. Só para a manutenção dos aquedutos da cidade de Roma eram necessários 700 escravos, todos eles públicos, pagos pelo Império|1|.
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O que provocou a queda do Império Romano?
→ Crise do escravismo
No século III d.C., a expansão do Império Romano cessou, o que fez com que o grande fluxo de novos escravos para o império também fosse interrompido. O comércio de escravos era importante na economia romana, e o primeiro impacto da falta de novos escravos foi sentido por parte das famílias abastadas romanas, cuja renda provinha da comercialização de escravos.
A mortalidade de escravos era alta, e em poucos anos a falta de mão de obra agravou ainda mais a situação econômica de Roma. Além disso, houve redução da produção agrícola, o que encareceu os alimentos e provocou fome.
→ Grande extensão do império
Outro grande problema enfrentado pelo Império Romano foi justamente o seu tamanho. Um grande império demandava grande infraestrutura, grande quantidade de funcionários públicos, assim como tropas para garantir o domínio romano nas províncias mais distantes. Tudo isso requeria muitos recursos econômicos e, com a crise escravista, eles diminuíram consideravelmente.
→ Migrações e invasões dos povos germânicos
Com o enfraquecimento do império, diversos povos germânicos, como ostrogodos, visigodos e vândalos, passaram a migrar para o Império Romano. Também passaram a ocorrer invasões militares dos povos germânicos a diversas regiões do império. Ainda no século III, álamos e francos conquistaram regiões da atual França e Espanha.
Em 410, os visigodos invadiram e saquearam Roma, provocando a migração de parte da população da cidade para áreas rurais.
→ Crise política e divisão do Império Romano
O fator político também foi importante para a queda do império romano. Com a crise econômica, crises sociais e as frequentes derrotas do exército romano para povos germânicos, o poder dos imperadores se enfraqueceu.
Em 293, para tentar administrar o império, seu território foi dividido em quatro partes, cada uma delas com um governante. Em 324, Constantino reunificou o império sob sua autoridade. Em 395 o império foi definitivamente dividido por Teodósio em Império Romano do Ocidente e do Oriente, o primeiro com capital em Roma e o segundo, em Bizâncio.
Vale lembrar que neste artigo tratamos da queda do império do Ocidente. A parte oriental do império continuou em pé por quase mil anos.
Quando aconteceu a queda do Império Romano?
No século V, reinos bárbaros ocupavam quase todo o território do antigo Império Romano. Em 476, Odoacro, rei dos hérulos, depôs Rômulo Augusto, o último imperador romano do Ocidente, em 4 de setembro de 476. A data de sua queda é considerada o marco que separa a Idade Antiga da Idade Média, embora esse marco seja contestado por parte dos historiadores.
A historiografia mais recente defende que, de fato, Roma não caiu em 476 d.C. – pelo contrário, houve uma espécie de renascimento do Império Ocidental quando Odoacro passou a governá-lo. Ele recebeu apoio do Senado e da elite romana, conquistou diversas regiões no Norte da Itália e manteve as instituições romanas funcionando. Vale lembrar que Odoacro era cristão e se considerava um patrício, embora fosse de origem germânica.
Foi no século VI, durante o governo de Justiniano, que essa versão da queda do Império Romano do Ocidente passou a ser divulgada. O objetivo de Justiniano era de legitimar suas guerras contra o Ocidente, que teria, segundo a visão da queda do império em 476, governantes bárbaros ilegítimos.
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Consequências da queda do Império Romano
A crise econômica, as invasões bárbaras e a insegurança nas grandes cidades provocaram migração para as áreas rurais, no processo conhecido como ruralização da Europa. Muitos patrícios passaram a viver em suas propriedades rurais e, com a falta de escravos, passaram a arrendar terras para plebeus.
Os plebeus utilizavam as terras que pertenciam aos patrícios e, em troca, entregavam parte da sua produção para eles ou um valor acordado previamente. Esse sistema foi utilizado em diversas regiões do antigo Império e passou a ser conhecido como colonato.
O sistema de colonato evoluiu, dando origem à servidão, a principal forma de trabalho do mundo medieval. Na servidão os trabalhadores deviam diversos impostos e obrigações aos seus senhores. Muitas propriedades patrícias cresceram demograficamente, foram fortificadas e se transformaram nas conhecidas cidades do Período Medieval.
Exercícios resolvidos sobre a queda do Império Romano
1. (Unaerp) Na história de Roma, o século III da era cristã é considerado o século das crises. Foi nesse período que:
a) As tensões geradas pelas conquistas se refletiram nas contendas políticas, criaram um clima de constantes agitações, promovendo desordens nas cidades.
b) O exército entrou em crise e deixou de ser o exército de cidadãos proprietários de terras.
c) O império romano começou a sofrer a terrível crise do trabalho escravo, base principal de sua riqueza.
d) Os soldados perderam a confiança no Estado e tornaram-se fiéis a seus generais, partilhando com eles os espólios de guerra.
e) Os conflitos pela posse da terra geraram a Guerra Civil.
Alternativa C
A crise escravista foi o estopim de uma crise econômica que foi uma das principais causas do fim do Império do Ocidente. Sem conquistar novos territórios o fluxo de novos escravos para o império foi reduzido drasticamente, provocando falta de mão de obra.
2. (Osec) Sobre a ruralização da economia ocorrida durante a crise do Império Romano, podemos afirmar que:
a) foi consequência da crise econômica e da insegurança provocada pelas invasões dos bárbaros.
b) foi a causa principal da falta de escravos.
c) proporcionou ao Estado a oportunidade de cobrar mais eficientemente os impostos.
d) incentivou o crescimento do comércio.
e) proporcionou às cidades o aumento de suas riquezas.
Alternativa A
A crise econômica e as invasões bárbaras provocaram insegurança nas cidades romanas, que eram constantemente saqueadas. Ocorreu dessa forma um êxodo urbano, por meio do qual pessoas de diferentes classes sociais migraram para a área rural e passaram a desenvolver atividades agropastoris.
Nota
|1| THE BRITISH MUSEUM. Escravidão na Roma Antiga. Museu Britânico, 2024. Disponível em: https://www.britishmuseum.org/exhibitions/nero-man-behind-myth/slavery-ancient-rome
Créditos das imagens
Fontes
BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma antiga. Crítica Editora, Campinas, 2017.
GRIMAL, Pierre. O império romano. Edições 70, Coimbra, Portugal, 1993.
THE BRITISH MUSEUM. Escravidão na Roma Antiga. Museu Britânico, 2024. Disponível em: https://www.britishmuseum.org/exhibitions/nero-man-behind-myth/slavery-ancient-rome