Consumo de carne e aquecimento global
O consumo de carne e o aquecimento global são questões que apresentam relação direta, haja vista o volume de emissões de gases do efeito estufa que é registrado pelo circuito espacial produtivo da carne. A produção de carne, aliás, é a maior responsável pelas emissões do ramo alimentício da indústria, especialmente a carne de origem bovina. Somente no Brasil, maior exportador de carne do mundo, estima-se que a produção desse alimento responda por 17% da liberação de poluentes em todo o território nacional.
Desde a abertura de novas áreas de pastagem, passando pela criação de animais até o processamento de carne, toda a produção desse alimento promove a liberação de poluentes como o gás metano e o dióxido de carbono. Ambos contribuem para o agravamento do efeito estufa e do aquecimento global, acelerando as mudanças climáticas.
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Resumo sobre consumo de carne e o aquecimento global
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O consumo de carne contribui para o aquecimento global em função de todo o circuito espacial produtivo que ele movimenta.
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Desde a abertura de áreas para a criação de animais até o transporte da carne ao consumidor final, registra-se a emissão de gases do efeito estufa.
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Os principais gases emitidos pela pecuária são o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o gás carbônico. O primeiro é emitido sobretudo pelos rebanhos.
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A produção de carne bovina é a que mais emite poluentes. Estima-se que para cada quilograma de carne produzida são emitidos 100 quilogramas, aproximadamente, de gases.
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No Brasil, a produção de carne bovina é uma das principais emissoras de gases do efeito estufa na atividade agropecuária.
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China e Estados Unidos são os maiores produtores de carne e, também, os maiores emissores de gases do efeito estufa.
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Em escala mundial, pelo menos 60% das emissões de poluentes do ramo alimentício é proveniente da produção de carne.
Como o consumo de carne contribui para o aumento do aquecimento global?
O consumo de carne é uma das causas pelas quais o efeito estufa tem se intensificado nas últimas décadas, o que contribui diretamente para o aumento do aquecimento global e para a piora de problemas correlatos, como as mudanças climáticas.
A causa disso tudo está na atividade pecuária, isto é, na criação de animais, em todo o circuito espacial produtivo dos diferentes tipos de carne, mas principalmente a carne bovina. Essas são atividades que emitem uma parcela significativa dos gases do efeito estufa (GEE), os quais são responsáveis por reter calor na atmosfera. De toda a produção de alimentos em escala mundial, a produção de carne responde por cerca de 57% das emissões de poluentes do ramo.
A carne bovina é a que mais provoca impactos negativos ao meio ambiente. Colocando em cifras, temos que para a produção de um quilograma de carne bovina, são emitidos 99,48 quilogramas de gases do efeito estufa, segundo dados de um estudo publicado pela revista Nature em 2021.
Os dois principais gases emitidos na produção de carne são o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), os quais são os maiores responsáveis pela manutenção do efeito estufa, que, vale lembrar, é fundamental para a regulação térmica do planeta. Com o maior consumo de carne, amplia-se a área destinada para a criação de animais, bem como o tamanho dos rebanhos. Por conseguinte, as emissões de tais gases se intensificam e contribuem para o agravamento do efeito estufa, tornando-o prejudicial para o meio ambiente.
→ Atividades que contribuem com o aquecimento global
Pensando em todo o circuito espacial produtivo da carne, existem muitas atividades e práticas que suscitam a maior emissão de GEE, e não necessariamente apenas a criação de animais propriamente dita. São essas atividades:
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Produção de fertilizantes e de ração animal: são fundamentais para a manutenção do rebanho. Ambas as atividades emitem tanto CO2 quanto óxido nitroso (N2O), que é gerado no processo de produção industrial e que é igualmente considerado um GEE. Soma-se a isso o transporte de tais insumos até as regiões criadoras de animais, feito comumente em caminhões abastecidos por diesel, subproduto de combustíveis fósseis.
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Abertura de novas áreas de pastagem para os rebanhos: feita a partir da remoção da cobertura vegetal original (desmatamento). Muitas das vezes, como observamos no Brasil, essa abertura é feita com o auxílio do fogo, iniciando as queimadas. A queima de vegetação e do solo libera carbono para a atmosfera na forma de CO2, o que se torna um fator para o aumento do aquecimento global.
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Criação de animais e resíduos orgânicos deixados pelo rebanho: as próprias funções orgânicas dos animais faz com que eles liberem gás metano (CH4) na atmosfera, o que, por si só, já contribui para o aquecimento global. Além disso, os resíduos sólidos, como as fezes dos animais, também emitem gases, como o próprio metano e o óxido nitroso. Relacionado a isso está o armazenamento de estrume, que, quando feito de maneira inadequada, libera poluentes na atmosfera.
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Geração de energia para a manutenção das fazendas e para a indústria processadora de alimentos: ainda que se trate de uma atividade predominantemente rural, as fazendas e as unidades processadoras de alimentos fazem uso de eletricidade em diferentes etapas da produção, e essa energia pode ser gerada a partir de fontes não renováveis como combustíveis fósseis (gás natural e carvão mineral).
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Processo industrial de processamento de carne: a maior parcela da carne que chega até o prato do consumidor final passa por algum tipo de processamento que começa ainda nos frigoríficos e tem continuidade em fábricas de embalamento ou na fabricação de outros tipos de alimentos. Todas essas etapas liberam gases do efeito estufa na atmosfera. Antes da sua proibição pelo Protocolo de Montreal, os frigoríficos faziam uso de maquinários equipados com gás CFC, o maior responsável pelo buraco na camada de ozônio.
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Transporte até o consumidor final: essa é a última etapa da produção de carne, e que emite gases poluentes na atmosfera, especialmente CO2, uma vez que os caminhões que realizam o transporte do alimento são, ainda, abastecidos com combustíveis feitos a partir de matérias-primas como o petróleo.
Produção de carne no Brasil e aquecimento global
O consumo de carne pelos brasileiros caiu em mais de 20 kg/pessoa entre os anos de 2017 e 2020. Ainda assim, o país pode ser considerado um grande consumidor desse tipo de alimento. Além disso, o Brasil é o terceiro maior produtor de carne do mundo. Se considerarmos apenas a carne bovina, o país sobe para a segunda colocação, e fica atrás apenas dos Estados Unidos. Aliás, os brasileiros são a quinta população que mais consome esse tipo de carne.
A produção brasileira de carne bovina representa aproximadamente 16% da produção mundial. Quase 30 milhões de toneladas de carne são produzidas anualmente no Brasil, das quais 8,91 milhões são de origem bovina. Em 2023, inclusive, o país bateu seu recorde de produção. A maior parte dessa carne é destinada ao mercado externo, sendo o Brasil o maior exportador mundial do produto.
Considerado um dos países que mais emite gases do efeito estufa, vimos anteriormente como o consumo e a produção de carne podem contribuir para a intensificação desse fenômeno e, por conseguinte, para o aquecimento global. De acordo com o Observatório do Clima, o rebanho bovino brasileiro produz 17% das emissões de gases poluentes no território brasileiro, com destaque para o gás carbônio e o metano. Não somente isso, mas a agropecuária como um todo é a principal fonte emissora de gases do efeito estufa no Brasil.
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Produção de carne mundial e aquecimento global
A produção mundial de carne cresceu em ritmo acelerado nas últimas décadas, conduzida principalmente pela China. O país asiático consome e produz principalmente carne suína, que começou a ser mais presente na sua dieta na segunda metade do século XX. Considerando a produção total, a China produz mais de 90 milhões de toneladas de carne todos os anos, o que é aproximadamente três vezes a produção brasileira.
Depois da China vêm os Estados Unidos, que ocupam, aliás, a posição de maiores consumidores de carne ao lado da Austrália. Em conjunto, os dois países respondem por aproximadamente 40% de toda a produção mundial de carne.
Como abordamos inicialmente, a produção de carne é um dos grandes emissores de gases do efeito estufa. Tal afirmação é comprovada quando comparamos as informações da tabela abaixo, que coloca lado a lado os maiores produtores de carne do planeta e os países listados como os principais poluidores com base nas emissões de GEE, principalmente CO2.
Maiores produtores de carne do mundo |
Maiores emissões de gases do efeito estufa do mundo |
China |
China |
Estados Unidos |
Estados Unidos |
Brasil |
Índia |
Rússia |
União Europeia |
Índia |
Rússia |
México |
Japão |
Espanha |
Brasil |
Alemanha |
Irã |
Argentina |
Indonésia |
França |
México |
Créditos da imagem
[1] Janine Passos/ Shutterstock
Fontes
MILMAN, Oliver. Meat accounts for nearly 60% of all greenhouse gases from food production, study finds. The Guardian, 13 set. 2021. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2021/sep/13/meat-greenhouses-gases-food-production-study.
OUR WORLD IN DATA. Global meat production. Disponível em: https://ourworldindata.org/grapher/global-meat-production
REDAÇÃO. Com 8,91 milhões de toneladas de carne bovina, Brasil bate recorde de produção em 2023, aponta USP. G1, 24 fev. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2024/02/24/com-891-milhoes-de-toneladas-de-carne-bovina-brasil-bate-recorde-de-producao-em-2023-aponta-usp.ghtml.
REDAÇÃO. Rebanho bovino responde por 17% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Observatório do Clima, 20 jun. 2018. Disponível em: https://www.oc.eco.br/rebanho-bovino-responde-por-17-das-emissoes-de-gases-de-efeito-estufa-no-brasil/.
WILDE, Wulf. Fact check: How bad is eating meat for the climate? DW, 30 out. 2022. Disponível em: https://www.dw.com/en/fact-check-is-eating-meat-bad-for-the-environment/a-63595148