Coesão e coerência

Coesão e coerência são conceitos relacionados aos elementos linguísticos e à construção de sentido do texto respectivamente.
Coesão e coerência determinam a recepção de um texto.

Coesão e coerência são essenciais para a compreensão de um texto por parte de leitoras e leitores. A coesão faz referência aos mecanismos de ligação entre os elementos linguísticos de um texto. Já a coerência está relacionada à construção de sentido do texto por meio de mecanismos linguísticos e de mecanismos extralinguísticos.

A coesão pode ser referencial ou sequencial. Já a coerência depende de alguns fatores, tais como: elementos linguísticos, conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, inferências, contexto, informatividade, focalização, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade. No mais, os princípios da coerência são a não contradição, a não tautologia e a relevância.

Leia também: Operadores argumentativos — quais são, para que servem, como usar

Resumo sobre coesão e coerência

  • A coesão textual diz respeito à articulação entre elementos de um texto.

  • A coesão textual pode ser referencial ou sequencial.

  • A coerência textual diz respeito à construção de sentido de um texto.

  • São fatores da coerência textual:

  • elementos linguísticos;

  • conhecimento de mundo;

  • conhecimento partilhado;

  • inferências;

  • contexto;

  • informatividade;

  • focalização;

  • intertextualidade;

  • intencionalidade;

  • aceitabilidade.

  • A não contradição, a não tautologia e a relevância são princípios da coerência textual.

O que é coesão textual?

A coesão textual está relacionada à conexão entre os elementos de um texto, de forma a contribuir para a coerência textual. Portanto, os elementos textuais devem estar conectados, ou seja, coesos. Isso faz com que o texto faça sentido, permitindo a compreensão por parte de quem o lê.

Tipos de coesão textual

TIPO DE COESÃO

DEFINIÇÃO

EXEMPLOS

 

Referencial

 

Um elemento textual faz menção a outro.

Uma fórmula para o sucesso é a organização.

Vi um animal estranho e fiquei paralisado. No entanto, o animal me ignorou.

Nélida é ótima amiga. Ela nunca está do seu lado quando você precisa.

Comprei as canetas. Três são vermelhas.

Linda era minha prima. [ela] Não viveu muitos anos.

A casa ficava no alto da serra. morava meu avô.

 

Sequencial

Relação entre partes de enunciados durante o processo de encadeamento das ideias do texto.

Os meninos corriam, corriam, corriam.

Júnia comprou um anel. Jorge comprou um livro. E Joice comprou nada.

Recuperamos o carro roubado, isto é, evitamos grande prejuízo.

Sei de tudo porque sou curioso.

Podia ter ajudado, mas não quis.

Mecanismos de coesão textual

Referenciação

A referenciação pode ser feita por meio de:

  • Artigo indefinido e um termo posterior: Um sentimento superestimado é o amor.

  • Artigo definido e um termo anterior: Caminhei por um lugar silencioso. Era o lugar perfeito.

  • Pronomes: O livro não está caro, mas ele estava mais barato no mês passado.

O livro não estava caro quando o comprei.

O queijo que estava ali foi vendido?

  • Numerais: São dez chocolates. Seis para mim e quatro para você.

  • Elipse: Júlio e eu somos grandes amigos. [nós] Estudamos juntos a vida inteira.

  • Advérbio: Estou em Belo Horizonte. Aqui está fazendo calor.

Sequenciação

A sequenciação pode ser feita por meio de:

  • Repetição lexical: Saí de casa e andei, andei, andei, até chegar ao ponto de encontro.

  • Repetição da estrutura sintática: Edna chorou. Roberto chorou. O cachorro chorou.

  • Paráfrase: O aquecimento global é um fato, ou seja, são evidentes os efeitos do aquecimento global.

  • Conjunções: Você pode viajar se conseguir tirar nota 10 em Matemática.

Não digo sempre a verdade porque você não a suporta.

Vou até o supermercado enquanto você arruma as malas.

Agustina corrigiu o texto, mas não quis dar nota.

Veja também: Afinal, o que é textualidade?

O que é coerência textual?

A coerência textual está associada ao sentido de um texto. Ela depende de mecanismos linguísticos relacionados à coesão textual e de mecanismos extralinguísticos ou contextuais.

Fatores de coerência textual

O conhecimento acumulado pelo receptor da mensagem também contribui para a coerência textual.
  • Elementos linguísticos: elementos linguísticos que possibilitam a coesão textual.

  • Conhecimento de mundo: conhecimento adquirido durante a vida.

  • Conhecimento partilhado: conhecimento partilhado entre enunciador e enunciatário, ou seja, o receptor do texto possui conhecimentos acerca da temática tratada pelo enunciador ou, ainda, ambos compartilham certos conhecimentos de mundo.

  • Inferências: elementos não evidenciados no texto, mas que o receptor pode inferir, isto é, deduzir.

  • Contexto ou situação: contexto de produção e de leitura do texto (quem produz ou lê, quando e onde).

  • Informatividade: o nível de informação presente no texto, que vai desde uma informação óbvia até algo mais complexo.

  • Focalização: tem a ver com a temática do texto e a perspectiva acerca do tema, ou seja, a forma como produtor e receptor enxergam determinado assunto.

  • Intertextualidade: relação entre textos diversos, de maneira que conhecer tais textos permite uma melhor compreensão do tema focalizado. Saiba mais sobre esse tema clicando aqui.

  • Intencionalidade: para o autor escreve o texto, determinará como ele escreve o texto.

  • Aceitabilidade: recepção do destinatário da mensagem, que pode ou não corresponder à intencionalidade do emissor.

Exemplo de fatores de coerência em texto

Agora, vamos buscar alguns desses fatores no texto “Aprenda a se concentrar”, de Gisela Blanco:

Edison não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um homem mais inteligente do que a média, sofria quando precisava ler um livro inteiro. Para completar, comia rápido, dormia pouco e não conseguia se dedicar ao casamento conturbado, por falta de tempo. Identificou-se? Claro, quem não tem esses problemas? Passar horas no twitter ou no celular, correr de um lado para o outro e ter pouco tempo disponível para tantas coisas que você tem que fazer são dramas que todo mundo enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz dessa história era ninguém menos que Thomas Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870, e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo. O relato, que está em uma edição de 1910 do jornal New York Times, conta que, quando Edison finalmente percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Fechou-se em seu escritório e focou em um problema de cada vez. A partir daí, produziu.

É verdade que tudo ao nosso redor serve para nos distrair, que as ferramentas criadas para roubar o nosso tempo estão cada vez mais interessantes, e que todos aqueles links na internet são muito mais legais do que o nosso trabalho. Homens do tempo de Edison não tinham um celular que tocava ou recebia e-mails enquanto eles tentavam ler um livro — mas a luta humana pela concentração está longe de ser um problema moderno. Na verdade, é bem mais antigo do que você imagina. O que a neurociência já sabe é que se trata de um processo de escolha do que é importante. Vamos entender na prática.

[...]

Para nossa sorte, e ao contrário de outros animais, somos capazes de acionar nosso neocórtex — a parte mais evoluída do cérebro — para tomar decisões a longo prazo, como a de estudar para uma prova, por exemplo. Mas, para cumpri-las, precisamos lutar contra a parte mais primitiva que carregamos — nosso cérebro reptiliano.

Para os neurologistas, boa parte da capacidade de se concentrar vem marcada no seu DNA. Mas não vale culpar a natureza: distrair-se com facilidade não é uma sentença de fracasso. Boa parte dos psicólogos, por exemplo, acredita que a concentração não é inata, mas algo que pode ser ensinado ao longo da vida. “É uma característica cultural, construída com o aprendizado”, diz a psicóloga Marilene Proença, professora da Universidade de São Paulo.

Meditar é um exercício de concentração tão bom para o seu cérebro quanto levantar pesos na academia é para seu bíceps. Fazer coisas de que você gosta, aliás, é a forma mais simples de se concentrar. Outra dica é alternar esses afazeres com outros mais relaxantes (como dar uma volta em um parque ou tomar uma água com um colega) ou ainda com outros mais intelectualmente estimulantes para você, como aprender a tocar violão ou estudar um novo idioma. Seja qual for o método, em uma coisa todos os especialistas concordam: a concentração é uma capacidade que pode sempre ser aprimorada.

BLANCO, Gisela. Aprenda a se concentrar. Revista Superinteressante, São Paulo, p. 48-55, jul. 2012.

  • Elemento linguístico/coesão textual: por exemplo, “de um para outro”, no primeiro parágrafo, se refere aos “empregos”.

  • Conhecimento de mundo: por exemplo, o leitor ou a leitora deve saber que “mensagens” são trocadas por meio de celulares ou computadores e que, no século XIX, a expressão “trocar mensagens” teria um outro sentido.

  • Informatividade: o enunciador informa que Thomas Edison é o inventor da lâmpada, na década de 1870 etc.

  • Intertextualidade: a autora do texto menciona outro texto, isto é, um relato publicado no New York Times.

  • Contexto ou situação: o texto é contemporâneo, trata de um assunto atual, foi publicado em uma revista conhecida etc.

  • Inferência: no início do primeiro parágrafo, quando a autora menciona “Edison”, alguns leitores e leitoras podem concluir que é Thomas Edison.

  • Conhecimento partilhado: por exemplo, se o receptor sabe quem é Thomas Edison ou, simplesmente, sabe o que é uma lâmpada.

  • Focalização: a autora está focalizada na (falta de) concentração da atualidade, e o envolvimento nesse tema dependerá de cada leitor ou leitora, de como o receptor do texto enxerga essa temática.

  • Intencionalidade: a autora do texto usa elementos para se mostrar mais íntima do receptor da mensagem, conversa com ele, utiliza o pronome de tratamento “você”, para convencê-lo de que, apesar de vivermos em um tempo que tem tudo para nos desconcentrar, existem soluções para o problema; ela utiliza, inclusive, a opinião de especialistas para dar credibilidade ao seu texto.

  • Aceitabilidade: o receptor da mensagem pode ou não ser convencido, isso dependerá de seus conhecimentos e de sua visão de mundo.

Princípios da coerência textual

PRINCÍPIO

OBSERVAÇÃO

Não contradição

Os elementos contraditórios em um texto prejudicam a sua coerência.

Não tautologia

Informações repetidas que não acrescentam nada ao texto também prejudicam a sua coerência.

Relevância

Fugir da temática trabalhada no texto é algo prejudicial à coerência.

Diferenças entre coesão e coerência

A coesão se refere à ligação ou relação entre os elementos linguísticos ou internos de um texto. Ela é uma das responsáveis pela coerência, ou seja, pela construção de sentido de um texto. A coesão, portanto, é linguística. Já a coerência é obtida tanto por meio de recursos linguísticos quanto de recursos extralinguísticos, como contexto, conhecimento de mundo etc.

Saiba mais: Como ocorre a ambiguidade e o que fazer para evitá-la

Exercícios resolvidos sobre coesão e coerência

Questão 01 (Enem)

Diego Souza ironiza torcida do Palmeiras

O Palmeiras venceu o Atlético-GO pelo placar de 1 a 0, com um gol no final da partida. O cenário era para ser de alegria, já que a equipe do Verdão venceu e deu um importante passo para conquistar a vaga para as semifinais, mas não foi bem isso que aconteceu.

O meia Diego Souza foi substituído no segundo tempo debaixo de vaias dos torcedores palmeirenses e chegou a fazer gestos obscenos respondendo à torcida. Ao final do jogo, o meia chegou a dizer que estava feliz por jogar no Verdão.

— Eu não estou pensando em sair do Palmeiras. Estou muito feliz aqui — disse.

Perguntado sobre as vaias da torcida enquanto era substituído, Diego Souza ironizou a torcida do Palmeiras.

— Vaias? Que vaias? — ironiza o camisa 7 do Verdão, antes de descer para os vestiários.

Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 29 abr. 2010.

A progressão textual realiza-se por meio de relações semânticas que se estabelecem entre as partes do texto. Tais relações podem ser claramente apresentadas pelo emprego de elementos coesivos ou não ser explicitadas, no caso da justaposição. Considerando-se o texto lido,

A) entre o primeiro e o segundo parágrafos, está implícita uma relação de causalidade.

B) no primeiro parágrafo, o conectivo “mas” explica uma relação de adição entre os segmentos do texto.

C) no quarto parágrafo, o conectivo “enquanto” estabelece uma relação de explicação entre os segmentos do texto.

D) no primeiro parágrafo, o conectivo “já que” marca uma relação de consequência entre os segmentos do texto.

E) entre o quarto e o quinto parágrafos, está implícita uma relação de oposição.

Resolução:

Alternativa C

No trecho “Perguntado sobre as vaias da torcida enquanto era substituído, Diego Souza ironizou a torcida do Palmeiras”, o conectivo “enquanto” possui caráter explicativo, já que introduz uma informação a mais no enunciado, ou seja, que as vaias ocorreram quando Diego Souza estava sendo substituído.

Questão 02 (Enem)

Seu nome define seu destino. Será?

“O nome próprio da pessoa marca a sua identidade e a sua experiência social e, por isso, é um dado essencial na sua vida”, diz Francisco Martins, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e autor do livro Nome próprio (Editora UnB). “Mas não dá para dizer que ele conduz a um destino específico. É você quem constrói a sua identidade. Existe um processo de elaboração, em que você toma posse do nome que lhe foi dado. Então, ele pesa, mas não é decisivo”. De acordo com Martins, essa apropriação do nome se dá em várias fases: na infância, quando se desenvolve a identidade sexual; na adolescência, quando a pessoa começa a assinar o nome; no casamento, quando ela adiciona (ou não) o sobrenome do marido ao seu. “O importante é a pessoa tomar posse do nome, e não ficar brigando com ele”.

CHAMARY, J. V.; GIL, M. A. Knowledge, jul. 2010.

Pronomes funcionam nos textos como elementos de coesão referencial, auxiliando a manutenção do tema abordado. No trecho da reportagem, o vocábulo “nome” é retomado pelo pronome destacado em

A) “Seu nome define seu destino”.

B) “É você quem constrói a sua identidade”.

C) “Existe um processo de elaboração, em que você toma posse do nome [...]”.

D) “[...] você toma posse do nome que lhe foi dado”.

E) “[...] não ficar brigando com ele”.

Resolução:

Alternativa E

No enunciado “O importante é a pessoa tomar posse do nome, e não ficar brigando com ele”, o pronome “ele” substitui ou retoma o substantivo “nome”.

Fontes

BLANCO, Gisela. Aprenda a se concentrar. Revista Superinteressante, São Paulo, p. 48-55, jul. 2012.

GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000.

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2001.

RODRIGUES, Elsa Daniela Travassos. A coerência textual e o desenvolvimento das competências de escrita nas aulas de Português e de Latim. 2018. Relatório de Estágio (Mestrado em Ensino de Português) – Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018.

SILVA, Roberto Cláudio Bento da. Coerência e coesão nos textos argumentativos dos alunos do ensino médio. Entrepalavras, Fortaleza, v. 7, p. 56-82, jan./ jun. 2017.

VIANA JUNIOR, Luis Carlos. Coesão e coerência: discursos da linguística e da mídia. 2013. Monografia (Bacharelado em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2013.  

Publicado por Warley Souza
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