Renascimento Cultural

O Renascimento Cultural foi um dos principais fenômenos da transição da Idade Média para a Idade Moderna, pois transformou a vida cultural europeia da época.
Detalhe do teto da Capela Sistina, pintado por Michelangelo Buonarroti
  • O que é Renascimento?

Por Renascimento Cultural entende-se uma atmosfera de eferverscência artística e intelectual de caráter urbano que se fez presente na Europa, sobretudo na região da Península Itálica (atual Itália), dos Países Baixos (atual Holanda) e outras regiões do norte europeu entre os séculos XV e XVI. Essa atmosfera cultural frequentemente foi identificada como uma ruptura extrema com a tradição medieval cristã e um retorno puro e simples à tradição greco-romana. No entanto, isso não é bem verdade.
 

  • O que “renasceu” no Renascimento?

O Renascimento, em seu âmbito cultural, ocorreu em meio urbano, acompanhando o também chamado “Renascimento Comercial” europeu. Cidades italianas como Pisa, Gênova e Veneza (famosas por causa de seus portos marítimos) passaram, a partir do século XIV, a ter um grande protagonismo no fluxo comercial do Mar Mediterrâneo. Nessa época, os muçulmanos, que controlaram durante muito tempo o comércio no Mediterrâneo, já haviam sido combatidos pelas Cruzadas, o que provocou uma abertura comercial maior no sul europeu. As cidades, conhecidas também como burgos, tiveram que ser ampliadas para acomodar um grande número de pessoas, que vinham de todo o Velho Mundo, em especial do Oriente.

Muitos elementos da tradição clássica, como poesia, textos científicos antigos, textos de teatro, técnicas de artes plásticas e de arquitetura, eram preservados por intelectuais que viviam nos arredores de Constantinopla – que até 1453 foi o centro do Império Bizantino, herdeiro da tradição clássica greco-romana e que estava localizado na Anatólia (atual Turquia), a meio caminho entre a Ásia e a Europa ocidental. O aumento do fluxo comercial e o crescimento da estrutura urbana nas cidades italianas passaram a atrair muitos intelectuais e artistas bizantinos. Aos poucos, as heranças culturais cristãs da Idade Média, como o gótico cristão, passaram a se mesclar com essa tradição bizantina.

No caso do Renascimento no Norte, ocorrido na Holanda e em alguns principados alemães, o impulso foi semelhante ao que ocorrera no Mediterrâneo: o fluxo comercial do Mar do Norte e do Mar Báltico, organizado em torno da Liga Hanseática. Artistas como os irmãos Van Eyck e Albrecht Dürer e intelectuais como Erasmo de Rotterdã estavam vinculados à vida urbana do norte da Europa.

O que “renasceu” no período do Renascimento, portanto, não foi a cultura clássica pagã pura e simplesmente. O que renasceu foi a cultura urbana, a cultura ligada às cidades, com amplo comércio, vida intelectual e apreciação artística, como ocorria nas cidades-Estado da Antiguidade Clássica. Contudo, o Renascimento não rompeu com o cristianismo; ao contrário, o resgate dos elementos da cultura clássica deu mais vigor à tradição cristã.
 

  • Artes plásticas

A arte da Renascença, tanto na Itália quanto no norte europeu, teve grande parte de seus modelos na Idade Média., em especial na pintura produzida por Giotto di Bondone e Fra Angelico e nos escultores do século XIII. Aquele que é considerado o precursor da pintura com noções claras de profundidade e proporção geométrica – características centrais da pintura renascentista – foi Piero della Francesca. No século XVI, os grandes nomes das artes plásticas italiana foram Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti e Rafael Sanzio. Outros vieram mais tarde, como Caravaggio e Tintoretto (italianos), El Greco (grego radicado na Espanha), Velázquez (espanhol) e Rembrandt (holandês) – esses dois últimos já identificados com a escola do Barroco.

Os temas abordados por esses artistas variavam entre os clássicos e os cristãos. A Igreja Católica era um dos grandes financiadores desses artistas, assim como outros mecenas (termo que remonta ao patrocinador de artistas da época do imperador Augusto, Caio Mecenas), como os membros da família Médici – sendo Cosme de Médici o mais famoso entre eles.
 

  • Literatura e filosofia

No campo das letras, pensamento político e filosófico, bem como das artes cênicas, o Renascimento é saturado de exemplos. Três nomes são importantíssimos para se entender o desenvolvimento da literatura renascentista: Francesco Petrarca, Giovanni Boccaccio e Dante Alighieri. Foram esses três literatos que deram a base para o tipo de literatura escrita em vernáculo (isto é, na língua comum a cada povo que estava se formando na Europa daquela época). Francisco Sá de Miranda e Luís de Camões, em Portugal, consolidaram por meio de suas obras a língua portuguesa. Cervantes e Calderón de la Barca, o espanhol. Shakespeare e Chistopher Marlowe, o inglês, etc.

No campo da filosofia houve grandes reflexões sobre política e teologia na obra de autores como Thomas Hobbes e Thomas Morus, na Inglaterra; Maquiavel, na Itália; e Jean Bodin, na França. Esse autores contribuíram para a reflexão sobre o Estado Moderno. Bodin, por exemplo, é considerado o pai intelectual do Absolutismo Monárquico.

Outras reflexões filosóficas tiveram como preocupação central o Humanismo, isto é, um tipo de reflexão sobre a natureza humana e seus problemas diante do mundo e de Deus. Erasmo de Rotterdan e Michel de Montaigne estão entre os principais autores dessa corrente. O Humanismo pode ser constatado nas obras de literatos e dramaturgos do período também, como os citados acima.
 

  • Ciência

Foi também no período do Renascimento que houve o desenvolvimento dos principais traços da ciência moderna, como a prática da anatomia – com o estudo de cadáveres – e a observação astronômica. A moderna física começou com estudiosos que passaram a se valer de instrumentos para ampliar o sentido da visão. Foi o caso de Johannes Kepler e Tycho Brahe, que exerceram grande influência sobre Galileu Galilei e, depois, Isaac Newton.

Créditos da imagem: Shutterstock e Everett – Art

Publicado por Cláudio Fernandes
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