Renascimento

O renascimento foi o movimento comercial, urbano, intelectual e artístico ocorrido na Europa entre os séculos XIII e XVI.
Pintura renascentista Alegoria do bom governo, de Ambrogio Lorenzetti. O renascimento refletiu também nas artes.

O renascimento foi o movimento comercial, urbano, intelectual e artístico ocorrido na Europa entre os séculos XIII e XVI. Sua manifestação comercial foi responsável por romper o isolamento comercial europeu e iniciar a crise da Baixa Idade Média; já o renascimento urbano trouxe novas formas de organização das cidades, os burgos; por sua vez, o renascimento cultural, com expressões nas artes, literatura, arquitetura e ciências, modificou as bases técnicas e estéticas europeias com base em padrões clássicos.

Leia também: Iluminismo — movimento intelectual que surgiu na Europa no “século das luzes”

Resumo sobre renascimento

  • O renascimento foi o movimento comercial, urbano, intelectual e artístico ocorrido na Europa entre os séculos XIII e XVI.
  • Aconteceu em diferentes épocas e vertentes. Iniciou-se pelo comércio, a partir do século XIII, teve manifestações urbanas nos séculos XIII e XIV, e culturais e científicas entre os séculos XIV e XVI.
  • O renascimento comercial teve como consequência o renascimento urbano, que, por sua vez, lançou as bases do renascimento científico e cultural.
  • O renascimento comercial foi caracterizado pelas rotas comerciais entre Constantinopla e Itália, em busca do comércio de produtos orientais.
  • O renascimento urbano foi caracterizado pelo surgimento das cidades a partir do encontro de rotas comerciais e da aglomeração de mercadores (os chamados burgos), e seus movimentos por emancipação das leis feudais.
  • O renascimento cultural foi o florescimento artístico na Itália ocorrido durante os séculos XIV, XV e XVI, representado nas artes plásticas, na literatura e na ciência, e cujo modelo foi a cultura clássica, ou seja, a grega e a romana.
  • O renascimento comercial teve como principal consequência o aumento das rotas comerciais entre Europa e Oriente.
  • O renascimento urbano teve como consequência a criação de novos modelos de cidade que romperam com os ideais feudais.
  • O renascimento cultural e científico teve como consequência o resgate da cultura clássica e sua restruturação para os padrões da época.

Videoaula sobre renascimento

Contexto histórico do renascimento

O renascimento aconteceu em diferentes épocas e vertentes. Iniciado pelo comércio, a partir do século XIII, modificou a estrutura econômica e social europeia. Após, durante os séculos XIII e XIV, manifestou-se nas cidades, ocasionando o renascimento urbano, que alterou a dinâmica urbana da Baixa Idade Média. Finalmente, entre os séculos XIV e XVI, o renascimento se manifestou na arte, literatura e ciência.

A Itália e Alemanha, berços importantes do renascimento, faziam parte do Sacro Império Romano Germânico desde o século X. Esse império era organizado de forma peculiar, com regiões de governo razoavelmente autônomas. Isso gerou, nas palavras do historiador Peter Burke, um “ar de liberdade”, essencial para o desenvolvimento livre do comércio e do patrocínio das artes.

Origem do renascimento

As origens do renascimento remontam às consequências da Quarta Cruzada, ocorrida em 1204. As ordens de cavalaria cristãs não possuíam recursos para empreender outra jornada até Israel, então as cidades italianas de Gênova e Veneza as contrataram para derrotar os muçulmanos que haviam dominado Constantinopla. Após o sucesso dessa empreitada, as rotas comerciais entre Europa e Constantinopla foram reatadas, gerando um imenso fluxo de mercadorias e riquezas entre essas regiões.

Esse foi o renascimento comercial, cujas consequências levaram ao renascimento urbano, que, por sua vez, lançou as bases do renascimento científico e cultural. Portanto, pode-se apontar a origem do renascimento na Baixa Idade Média, sobretudo entre os séculos XIII e XV.

Veja também: Mercantilismo — modelo econômico que vigorou na Europa entre os séculos XV e XVIII

Características do renascimento

As manifestações do renascimento tiveram diferentes características. Acompanhe a organização das principais características dos tipos de renascimento abaixo:

  • Renascimento comercial (séculos XIII e XIV): caracterizado pelas rotas comerciais entre Constantinopla e Itália, pelo comércio de produtos orientais e especiarias, pela produção europeia de lã e sua comercialização interna, nas feiras, e externa, por meio de novas rotas de comércio.
  • Renascimento urbano (séculos XIII a XV): caracterizado pelo surgimento de novas cidades a partir do encontro de rotas comerciais e da aglomeração de mercadores, os chamados burgos. As cidades da Baixa Idade Média foram caracterizadas pelo foco comercial e desenvolveram estilos de arquitetura e engenharia próprios.
Catedral de Chartres, na França, exemplo de arquitetura gótica da Baixa Idade Média.[1]
  • Renascimento cultural (séculos XIV a XVI): caracterizado pela valorização da cultura greco-romana, pelo desenvolvimento de novas técnicas artísticas (como a proporção e a profundidade), pela arte com temas mitológicos e religiosos, pela valorização da figura humana perfeita como o centro da arte, e pelo estudo profissional da arte. Saiba mais sobre esse tópico clicando aqui.
O Homem Vitruviano, um dos estudos manuscritos de Leonardo da Vinci.

Fases do renascimento

O renascimento foi um fenômeno que se manifestou em diferentes esferas, e, em cada uma delas, existem diferentes fases que o organizam. Acompanhe as principais fases do renascimento abaixo:

  • Fases do renascimento comercial: ocorrido entre os séculos XIII e XIV. Suas principais fases foram:
    • a restauração das rotas comerciais entre Constantinopla e Itália (século XIII); e
    • a reorganização da produção de tecidos pela Liga Hanseática (século XIV).
  • Fases do renascimento urbano: ocorrido entre os séculos XIII e XIV. Suas principais fases foram:
    • o surgimento das cidades a partir do encontro de rotas comerciais e da aglomeração de mercadores (os chamados burgos), no século XIII; e
    • os movimentos por emancipação das novas cidades das leis feudais, sobretudo o movimento comunal (que conquistava a liberdade por meio da guerra) e o movimento de franquia (que pagava pela liberdade das cidades), no século XIV.
  • Fases do renascimento cultural, foram três:
    • o Trecento (século XIV);
    • o Quatrocento (século XV); e
    • o Cinquecento (século XVI).

Renascimento comercial e urbano

O renascimento comercial pode ser apontado como a raiz para os outros modelos de renascimento. Sua origem remonta à época da Quarta Cruzada (1204), que foi para Constantinopla, libertando a cidade e suas rotas comerciais do domínio muçulmano. Com isso, os produtos orientais que, havia séculos, rumavam para a cidade puderam, finalmente, ser enviados para a Europa, ocasionando o renascimento do comércio europeu.

Uma de suas consequências foi a alta demanda por produção local, de modo a realizar comércio local e exportar para outras áreas do Oriente, o que pôde ser verificado na produção de lã e tecidos de Flandres e do Eixo Nórdico de comércio, dominado pela Liga Hanseática — uma liga de cidades do norte da Europa, em sua maioria germânicas, que comandavam a produção e comércio de tecidos.

As cidades italianas de Gênova e Veneza foram as responsáveis por receber as importações vindas de Constantinopla e redistribuí-las pela Europa, o que ocasionou o renascimento urbano nessas regiões. Saiba mais sobre esse tópico clicando aqui.

Renascimento cultural

O renascimento cultural foi o florescimento artístico na Itália ocorrido durante os séculos XIV, XV e XVI, representado nas artes plásticas (pintura, escultura e desenhos), na literatura e na ciência, e cujo modelo foi a cultura clássica, ou seja, a grega e romana.

Os artistas dessa época foram patrocinados por grandes famílias ricas, em sua maioria burguesas, e pela Igreja Católica, em um movimento conhecido como mecenato. Desse modo, os artistas se tornaram profissionais, vivendo exclusivamente de sua arte e podendo dedicar anos a pesquisas e produções artísticas. Isso contribuiu para o avanço das técnicas artísticas e do desenvolvimento de novos estilos estéticos.

O renascimento cultural foi pautado por valores filosóficos e estéticos de sua época, como o antropocentrismo, o racionalismo, o individualismo e o hedonismo. Todos esses valores estão presentes nas obras dos principais artistas da época.

→ Características das fases do renascimento cultural

O renascimento cultural foi dividido em três períodos, cada qual com suas características próprias:

  • Trecento: século XIV. Foi a fase inicial do renascimento cultural, ocorrida nas cidades italianas de Gênova, Veneza e Florença. Dentro das artes plásticas, foi o período inicial do desenvolvimento artístico das técnicas de proporção e perspectiva, como na obra de Giotto.
Apresentação da Virgem no templo, pintura de Giotto de 1303.
  • Quatrocento: século XV. Ocorreu predominantemente na região italiana de Florença e foi marcado pelo mecenato da família Médici. Essa época foi marcada pela produção de retratos das principais famílias burguesas e pelo avanço das técnicas de proporção e perspectiva, como na obra de Masaccio e Botticelli.
O nascimento de Vênus, de Boticelli, 1485. Nesse período do renascimento, as técnicas artísticas foram aperfeiçoadas.
  • Alta Renascença: 1450 a 1527. Ocorrido entre os períodos do Quatrocento e do Cinquecento, foi o auge do renascimento, tendo nele vivido os maiores artistas italianos, como Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti e Rafael Sanzio. Foi marcado pelo mecenato da Igreja Católica, sobretudo por parte do papa Júlio II, e pela produção de obras nas igrejas de Roma e de esculturas com temas religiosos, como a Capela Sistina, a escultura de Davi e a Pietá, todas de Michelangelo.
  • Cinquecento: século XVI. Foi a época de dissolução do renascimento, marcada pela expansão de sua estética por toda a Europa e pelo questionamento da ordem católica pelos protestantes. Com as reformas religiosas, a estrutura sociocultural europeia sofreu mudanças, sobretudo na Itália, sede da Igreja Católica e o grande centro renascentista. No contexto dessa crise, o apoio às artes diminuiu e os estilos artísticos se modificaram, gerando o maneirismo, criticado pelos historiadores da arte como um estilo que degenerou os valores renascentistas.

→ Renascimento literário

Dentro da literatura, o renascimento é chamado de humanismo. Baseado nos mesmos valores filosóficos e estéticos do antropocentrismo, racionalismo e valorização da cultura clássica, o movimento ocorreu na Itália, Inglaterra, Espanha e Portugal sobretudo.

Um elemento que favoreceu sua disseminação e desenvolvimento foi a invenção da imprensa, em 1450, por Johann Gutemberg, o que gerou uma facilidade maior na divulgação das obras. Dentre os principais autores do renascimento literário, pode-se destacar: Francisco Petrarca, Dante Alighieri, Nicolau Maquiavel, William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Gil Vicente.

Retrato de William Shakespeare pintado por John Taylor em 1610.

A literatura renascentista, como instrumento de divulgação das ideias humanistas, satirizava e combatia valores sociais da Idade Média, como a cavalaria, a hierarquia da nobreza e a moral da Igreja. Isso pode ser observado em diversas obras, como Dom Quixote, de Cervantes, e O auto da barca do inferno, de Gil Vicente.

→ Renascimento artístico

O renascimento artístico foi representado nas artes plásticas, ou seja, na pintura e na escultura. A periodização dessa manifestação do renascimento seguiu a ordem dos séculos nos quais ocorreu: o Trecento (século XIV), o Quatrocento (século XV) e o Cinquecento (Século XVI). A arte do Trecento se desenvolveu basicamente na Itália, sobretudo na cidade de Florença, e foi marcada pelos motivos cristãos e pela produção de afrescos — murais pintados em paredes e tetos de igrejas ou mosteiros.

Entre o Quatrocento e o Cinquecento, ocorreu um período de transição bastante fértil, denominado Alta Renascença. Para historiadores da arte, esse período foi o auge da renascença italiana e ocorreu entre 1450 e 1527. Os motivos dessa grande efervescência artística foram o mecenato dos papas, sobretudo de Júlio II, e a qualidade dos artistas.

Como a Igreja Católica foi a grande patrocinadora do período, a Alta Renascença se centralizou em Roma, e muitas de suas maiores obras estão na região da cidade onde hoje é o Vaticano. A pintura foi marcada pelas obras de Leonardo da Vinci, e as obras sacras com motivos cristãos envolvem trabalhos de Michelangelo e Rafael Sanzio.

Pietá, de Michelangelo. No auge do renascimento, a Igreja Católica foi a grande patrocinadora.[2]

Os artistas da Alta Renascença, sobretudo Michelangelo, foram os precursores do maneirismo, um estilo artístico que envolvia pintura, escultura e arquitetura e se caracterizou pela valorização dos estilos clássicos (grego e romano) e do naturalismo (a representação perfeita das formas humanas). Saiba mais sobre esse tópico clicando aqui.

→ Arquitetura no renascimento

A arquitetura no renascimento ficou conhecida como arquitetura renascentista e se desenvolveu entre os séculos XIV e XVII em toda a Europa, tendo como local difusor inicial a Itália. Assim como nas artes plásticas, a arquitetura renascentista se baseou na inspiração em modelos clássicos (gregos e romanos) como forma de transição da arquitetura gótica (típica da Baixa Idade Média) para algo novo.

Como características da arquitetura renascentista, pode-se elencar:

  • a proporção, geometria e simetria dos elementos arquitetônicos;
  • o uso de pilastras, colunas, arcos, cúpulas, nichos e edículas com base no estilo grego e romano.

Dentre os tipos de construções realizadas no período, destacam-se as igrejas, repletas desses elementos típicos do estilo.

Fachada da igreja Certosa di Pavia, Itália.[3]

Renascimento científico

A ciência durante o renascimento foi afetada pelos mesmos valores de antropocentrismo e racionalismo que as demais manifestações. Caracterizada como um período de transição da Baixa Idade Média para o início da Modernidade, a época renascentista foi repleta de obras científicas que iniciaram a discussão moderna de seus campos de estudo, sem, contudo, o rigor do método científico, que só seria plenamente desenvolvido no século XIX. Então foi comum que cientistas dessa época misturassem suas pesquisas científicas com premissas místicas ou supersticiosas.

Retrato do cientista Johannes Keppler, importante nome na ciência no renascimento.

Um dos exemplos de cientistas renascentistas foi Nicolau Copérnico (1473-1543), astrônomo e matemático polonês, que propôs a teoria do heliocentrismo, segundo a qual o Sol seria o centro do Sistema Solar. Outro exemplo da ciência da época renascentista foi o alemão Johannes Kepler (1571-1630), que formulou as três leis fundamentais que recebem seu nome e estudam a mecânica dos movimentos planetários.

Saiba mais: Principais descobertas e invenções científicas do século XVIII

Consequências e importância do renascimento

Diversas foram as consequências do renascimento, a depender de sua manifestação, época e contexto. Em linhas gerais, pode-se afirmar que:

  • o renascimento comercial teve como principais consequências a revitalização e o aumento das rotas comerciais entre Europa e Oriente, o que ocasionou: o aumento do comércio interno, o crescimento das feiras e o surgimento dos burgos, resultando no renascimento urbano;
  • o renascimento urbano teve como consequência a criação de novos modelos de cidade com funções comerciais, rompendo com os ideais feudais e contribuindo para a crise desse sistema;
  • o renascimento cultural e científico teve como consequência o resgate da cultura clássica e sua restruturação para padrões da época, o que refletiu na ciência, nas artes, na literatura e na arquitetura. Foi importante para trazer novas representações artísticas para o Ocidente e avanços para os estudos sobre astronomia, física e biologia, contribuindo para o desenvolvimento das ciências.

Exercícios resolvidos sobre renascimento

1. A literatura renascentista, como instrumento de divulgação das ideias humanistas, satirizava e combatia valores sociais da Idade Média, entre eles,

A) a cavalaria, a hierarquia da nobreza e a moral da Igreja.

B) o modo de produção feudal e a economia de subsistência.

C) a fraqueza do poder real, o fracionamento do território e as guerras feudais.

D) a proteção dos mecenas aos artistas e a vulgarização do uso de objetos de arte nas igrejas.

E) a liberdade concedida à mulher e o uso indiscriminado do trabalho escravizado nas corporações de ofício.

Resposta: A. Esses temas são centrais na literatura renascentista.

2. “A postura dos humanistas valorizava o que de divino havia em cada homem, induzindo-o a expandir suas forças, a criar e a produzir, agindo sobre o mundo para transformá-lo de acordo com sua vontade e interesse.”

(SEVCENKO, Nicolau. O renascimento, São Paulo: Atual, 1985, p. 16)

O autor destaca no texto especificamente a característica do humanismo renascentista denominada

A) cientificismo.

B) igualitarismo.

C) antropocentrismo.

D) materialismo.

E) messianismo.

Resposta: C. O excerto expõe claramente valores antropocêntricos, típicos do renascimento.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

[3] Sérgio D’Afflitto/ Wikimedia Commons

Fontes

BURKE, Peter. O Renascimento. São Paulo: Nova Alexandria, 1999

SEVCHENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 2004.

Publicado por Tiago Soares Campos

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