Romantismo em Portugal

O romantismo em Portugal surgiu em um contexto de instabilidade política no país, marcado pela invasão francesa, dominação inglesa e ausência do rei. O país foi tomado por revoltas que levaram à Guerra Civil Portuguesa. Nessa conjuntura, autores românticos da primeira geração (1825-1840), como Almeida Garret e Alexandre Herculano, tiveram a responsabilidade de, por meio de seus textos, despertar o sentimento de nacionalidade no povo lusitano.

Entretanto a segunda geração romântica portuguesa (1840-1860) abandonou a ideologia política de seus antecessores para produzir uma literatura de entretenimento, marcada pelo exagero sentimental, como se pode verificar nas obras de Camilo Castelo Branco e Soares de Passos. Já a terceira geração (1860-1870), pré-realista e caracterizada pela temática social, é formada por autores como Júlio Dinis e Antero de Quental.

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Contexto histórico do romantismo em Portugal

Em 4 de julho de 1776, os Estados Unidos assinavam a sua Declaração de Independência. Na Europa, pouco mais de uma década depois, acontecia a Revolução Francesa, em 1789. Esses dois fatos históricos foram consequência de ideias iluministas, que se fortaleceram durante o século XVIII. Os iluministas valorizavam a razão em detrimento da fé, o que levou a um enfraquecimento dos laços entre a Igreja e as monarquias europeias. Como consequência, houve a decadência do absolutismo em toda a Europa, incluindo Portugal. O “direito divino dos reis” era substituído pelo direito dos cidadãos.

Nesse contexto, a burguesia tomou o poder e passou a ter, desde então, forte protagonismo político e econômico em todo o mundo ocidental. O lema da revolução — “Liberdade, igualdade, fraternidade” — passou a inspirar vários artistas e intelectuais burgueses, que viam na queda do absolutismo o nascimento de um novo mundo. Assim, esse ideal de liberdade foi o principal elemento responsável pelo surgimento do romantismo.

A era napoleônica (1799-1815) teve influência no surgimento do nacionalismo romântico em Portugal. O imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) ameaçou invadir esse país caso ele não fechasse os portos aos ingleses. No entanto, a Inglaterra era uma aliada antiga e poderosa. Sem querer desagradar a nenhum dos lados, em 1807, d. João VI (1767-1826) e sua corte fugiram de Portugal em direção ao Brasil.

Almeida Garrett, durante a Guerra Civil Portuguesa — obra de Joaquim Vitorino Ribeiro (1849-1928).

D. João VI, após a expulsão dos franceses e com a ameaça de perder o seu poder em Portugal, voltou ao seu país, em 1821, com o objetivo de restabelecer a ordem. Pressionado, assinou a Constituição de 1822, na tentativa de estabelecer uma monarquia constitucional. Entretanto, em 1823, houve a Revolta de Vilafrancada, seguida pela Revolta de Abrilada, em 1824, eventos que antecederam a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834).

Nesse contexto conturbado, de disputa entre constitucionalistas e absolutistas, os artistas portugueses sentiram a necessidade de recorrer ao nacionalismo para unir e fortalecer a nação.

Principais características do romantismo em Portugal

Como características gerais do romantismo em Portugal, podemos apontar:

  • Individualismo e egocentrismo
  • Certa liberdade formal
  • Adjetivação abundante
  • Uso intenso de exclamações, interrogações e reticências
  • Subjetividade e originalidade
  • Idealização do amor e da mulher
  • Exagero sentimental
  • Medievalismo: teocentrismo

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Gerações românticas em Portugal

Alexandre Herculano, em 1869.
Desenho de Tomás Carlos Capuz (1834-1899).

O romantismo português é dividido em três fases.

  • Primeira fase do romantismo em Portugal

A primeira fase é marcada pelo nacionalismo. Surge como resultado da instabilidade política em Portugal nos anos que antecederam essa geração — a invasão francesa, o domínio inglês e a ausência do rei. Tem início em 1825, com a publicação do poema Camões, de Almeida Garrett (1799-1854). Diante de uma crise de identidade, essa geração procura resgatar os mitos históricos de Portugal, como Luís Vaz de Camões (1524-1580). No entanto, é após a Guerra Civil Portuguesa que o projeto romântico da primeira geração toma fôlego, com a publicação de A voz do profeta (1836), de Alexandre Herculano (1810-1877).

As obras dessa fase do romantismo português são marcadas por medievalismo, idealizações, nacionalismo e saudosismo. Seus dois principais representantes, Garrett e Herculano, voltaram do exílio (devido ao envolvimento deles em revoluções liberais) para empreender o projeto de retomada de uma literatura nacional e original. Esses escritores fazem parte de uma geração literária politicamente engajada e defensora do liberalismo. Conscientes de seu papel artístico e político, os autores dessa fase empreenderam a reflexão sobre o processo criativo, sobre o romantismo que inaugurava no país e sobre a nacionalidade portuguesa.

Além de Garrett e Herculano, outro nome importante dessa geração é António Feliciano de Castilho (1800-1875). Ele, juntamente a Almeida Garrett, iniciou seu percurso literário no arcadismo. Esses dois escritores são considerados, portanto, autores de transição para a nova estética literária. Assim, Alexandre Herculano é o romântico por excelência dessa geração, que, responsável por consolidar as bases do movimento, tem seu fim em 1840 para dar lugar aos ultrarromânticos.

  • Segunda fase do romantismo em Portugal

A segunda fase do romantismo português, que durou de 1840 a 1860, é caracterizada pelo excesso de sentimentalismo, pessimismo, melancolia, religiosidade, idealização, sofrimento amoroso e adjetivação abundante. São recorrentes temáticas como: amor, morte e saudade. Essa geração não estava mais comprometida com o projeto ideológico nacionalista da primeira geração, já que o país atingia a sua estabilidade política.

Desse modo, o ultrarromantismo português é caracterizado pelo seu caráter de entretenimento da classe burguesa, leitora e consumidora das obras desse período, vistas pela crítica atual como obras de autores que se preocupavam mais com a forma do que com o conteúdo. Assim, os principais autores desse período são Camilo Castelo Branco (1825-1890) e Soares de Passos (1826-1860).

  • Terceira fase do romantismo em Portugal

Já a terceira fase, de 1860 a 1870, é considerada pré-realista, pois marca a transição do romantismo para o realismo-naturalismo português. Essa geração produz obras com temática social, portanto, possui uma perspectiva um pouco mais realista, apesar de seu caráter sentimental. Dessa forma, ao realizar um “romantismo social”, ela se opõe aos ultrarromânticos e retoma a literatura ideológico política da primeira fase.

Os autores dessa geração são hugonianos, isto é, influenciados pelo escritor romântico francês Victor Hugo (1802-1885). Têm, assim, um senso de liberdade e justiça que buscam imprimir em suas obras. Seus principais representantes são Júlio Dinis (1839-1871), João de Deus (1830-1896) e Antero de Quental (1841-1891). Este último, entretanto, é considerado, por alguns pesquisadores, um escritor realista.

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Obras do romantismo português

Capa do livro “Amor de perdição”, de Camilo Castelo Branco, publicado pela editora L&PM. [1]

Poesia

  • Camões, de Almeida Garrett (1825)

  • D. Branca, de Almeida Garrett (1826)

  • A noite do castelo e Os ciúmes do bardo, de António Feliciano de Castilho (1836)

  • A harpa do crente, de Alexandre Herculano (1838)

  • Poesias, de Soares de Passos (1856)

  • Odes modernas, de Antero de Quental (1865)

  • Flores do campo, de João de Deus (1868)

Teatro

  • Um auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett1 (1838)

  • A crente na liberdade, de Alexandre Herculano (1838)

  • O alfageme de Santarém, de Almeida Garrett (1842)

  • Os infantes em Ceuta, de Alexandre Herculano (1842)

  • Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett (1843)

  • Um rei popular, de Júlio Dinis (1858)

  • Um segredo de família, de Júlio Dinis (1860)

  • O morgado de Fafe em Lisboa, de Camilo Castelo Branco (1861)

Romance

  • Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano (1844)

  • Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco (1862)

  • Coração, cabeça e estômago, de Camilo Castelo Branco (1862)

  • As pupilas do senhor reitor, de Júlio Dinis (1867)

Prosa

  • A voz do profeta, de Alexandre Herculano (1836)

  • Viagens na minha terra, de Almeida Garrett (1846)

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (PUC-MG) A questão deve ser respondida com base na leitura dos trechos a seguir.

TEXTO 1

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que, em vivo ardor, tremendo estou de frio
Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.

CAMÕES, Luís Vaz de. In: FARACO, Sergio [Org.]. Sonetos para amar o amor. Porto Alegre: L&PM, 2007, p. 15.

TEXTO 2

Este inferno de amar — como eu amo! —
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?

GARRETT, Almeida. Este inferno de amar. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 252.

Almeida Garrett é um dos principais nomes do romantismo em Portugal. No Texto 2, de sua autoria, constitui uma importante característica da estética romântica:

a) a liberdade formal, manifesta no verso livre e na ausência de rimas.

b) a religiosidade, alegoricamente indicada pelo “inferno de amar”.

c) a busca pela compreensão racional das contradições do amor.

d) a expressão sentimental, voltada para a descrição de estados interiores.

Resolução

Alternativa D.

No Texto 2, é possível perceber a expressão sentimental e, portanto, a descrição de estados interiores em: “Este inferno de amar — como eu amo! —/ Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?/ Esta chama que alenta e consome”.

Questão 2 - Leia este trecho de Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco:

Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em frutos, e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito anos! O amor daquela idade! A passagem do seio da família, dos braços de mãe, dos beijos das irmãs para as carícias mais doces da virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos aromas, e à mesma hora da vida! Dezoito anos!... E degredado da pátria, do amor e da família! Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste!

O autor desse romance é um dos principais representantes do ultrarromantismo português, caracterizado nesse fragmento pelo(a):

a) excesso de sentimentalismo, marcado pelas exclamações.

b) objetividade da narrativa, caracterizada pela concisão.

c) teor antinacionalista, que sobressai ao sentimento amoroso.

d) realismo na descrição da natureza lusitana e coimbrã.

e) temática religiosa metaforizada na descrição da natureza.

Resolução

Alternativa A.

No fragmento, as inúmeras exclamações marcam o excesso de sentimentalismo característico da segunda geração romântica portuguesa, ou seja, do ultrarromantismo.

Nota

|1| Almeida Garrett é o fundador do Teatro Nacional em Portugal.

Crédito da imagem

[1] L&PM (Reprodução) 

Publicado por Warley Souza
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