Intertextualidade

A intertextualidade é a relação que se estabelece entre dois ou mais textos por meio de citação, alusão, bricolagem, epígrafe, paráfrase, paródia, pastiche e tradução.
A intertextualidade se faz presente em toda e qualquer relação entre textos.

 A intertextualidade é, segundo Bakhtin, filósofo e estudioso da linguagem, a relação dialógica entre pelo menos dois textos. Assim, entende-se que um texto está sempre se comunicando e dialogando com outros. Essa característica pode ser encontrada em uma diversidade de gêneros textuais em nosso cotidiano, sejam eles literários, publicitários ou outros.

Leia também: Funções da linguagem — os papéis que a linguagem cumpre enquanto instrumento de comunicação

Resumo sobre intertextualidade

  • A intertextualidade é a relação entre dois textos caracterizada pela referência de um pelo outro de maneira implícita ou explícita.

  • Há oito tipos distintos de intertextualidade. São eles: alusão/referência, bricolagem, citação, epígrafe, paráfrase, paródia, pastiche e tradução.

  • A intertextualidade implícita não apresenta marcas linguísticas verificáveis, enquanto a intertextualidade explícita apresenta marcas verificáveis.

Videoaula sobre intertextualidade

O que é intertextualidade?

A intertextualidade é a relação estabelecida entre dois ou mais textos. Em outros termos, é estabelecido um diálogo entre ambos em que um cita o outro. Para Bakhtin, a linguagem é, por natureza, dialógica. Em outras palavras, ela sempre estabelece uma relação/diálogo entre pelo menos dois seres, dois discursos, duas palavras.

Quais são os tipos de intertextualidade?

Para melhor compreensão, a intertextualidade é dividida, didaticamente, em oito tipos distintos. São eles:

  • Alusão/referência: nessa relação estabelecida entre textos, é feita uma sugestão ou insinuação sobre um determinado lugar, personagem, acontecimento etc. sem haver, no entanto, aprofundamento nele. Exemplo:

Como já dizia o filósofo, o ignorante é quem é feliz de verdade.

  • Bricolagem: é um texto criado por meio do fragmento de outros textos. Exemplo:

Ainda que eu falasse a língua dos homens

E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria

É só o amor, é só o amor

Que conhece o que é verdade

O amor é bom, não quer o mal

Não sente inveja ou se envaidece

Trecho da música Monte Castelo (Legião Urbana), utilizando uma passagem bíblica e versos do soneto de Camões.

  • Citação: nesse formato, a intertextualidade reproduz parte de um texto referência. É muito comum em textos dissertativos que utilizam a citação de argumentos de autoridade no intuito de reforçar uma ideia. Exemplo:

Segundo Foucault, “o novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”. Nesses termos, o discurso não está associado ao novo, mas diretamente às suas condições de produção.

  • Epígrafe: usada no início de uma obra. Ela consiste em um texto de um outro autor no intuito de trazer o pensamento que permeia a obra construída. Exemplo:

A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.” (Arthur Schopenhauer)

  • Paráfrase: é a reprodução de um texto já existente à maneira própria daquele que o interpreta. Exemplo:

Trecho do poema Canção do Exílio (1843)

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.”

Trecho do Hino Nacional Brasileiro (1909)

Do que a terra mais garrida,

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida no teu seio mais amores.”

  • Paródia: tem como principal objetivo subverter a ideia do texto original e, por isso, apresenta-se, por vezes, em tons críticos ao seu original. Exemplo:

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. (ditado popular)

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vaia Maomé. (paródia)

  • Pastiche: é uma imitação de estilos de outros textos. Ela é diferente da paródia porque não apresenta o viés crítico que a paródia possui. Exemplo:

Manuel Bandeira escreve uma falsa lira de Gonzaga, em estilo haikai, para reproduzir a obra Marília de Dirceu. Veja:

Quis gravar “amor”

No tronco de um velho freixo

Marília”, escrevi.

  • Tradução: a tradução é uma relação entre dois textos em idiomas distintos e, portanto, consiste em um dos tipos de intertextualidade. Exemplo:

I’ve been here a long time ago. (Original em inglês)

Eu estive aqui muito tempo atrás. (Tradução para o português)

Leia também: Gêneros literários — a classificação dos textos literários

Intertextualidade implícita x intertextualidade explícita

A intertextualidade implícita não apresenta marcas linguísticas verificáveis no texto. A relação com o material original é feita por meio de ideias ou referências mais distantes e que exigem do leitor certa habilidade para identificá-la. Por outro lado, a intertextualidade explícita apresenta marcas visuais em relação ao outro texto e pode ser encontrada mais facilmente.

Veja alguns exemplos:

Admirável Chip Novo

Pane no sistema
Alguém me desconfigurou

Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo

Parafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração

Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado

O texto acima é um exemplo de intertextualidade implícita, pois a música da cantora Pitty (Admirável Chip Novo) retoma, sem mencionar ao leitor, a obra do escritor de ficção científica, de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo. Para entendermos a relação, é importante conhecermos a obra original, com a aproximação do nome no título da música e também do conteúdo da obra de Huxley, que aborda a sociedade de controle, retomada por Pitty na canção.

Todas elas juntas num só ser

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda
De Michael Jackson, nem a Billie Jean

De Jimi Hendrix, nem a doce Angel
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz
Das doze deusas de Edu e Chico
Até das trinta Leilas de Donato
E de Layla, de Clapton, eu abdico
Só você,
Canto e toco só você
Só você
Que nem você ninguém mais pode haver

Já na música de Lenine apresentada acima, ele cita diversos músicos e personagens de forma explícita para passar a mensagem que se pretende ao final do texto. Trata-se, portanto, de uma intertextualidade explícita no texto.

Exemplos de intertextualidade

  • Intertextualidade na literatura

Meus oito anos

Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu

Meus oito anos

Oh que saudades que eu tenho

Da aurora de minha vida

Das horas

De minha infância

Que os anos não trazem mais

Naquele quintal de terra

Da Rua de Santo Antônio

Debaixo da bananeira

Sem nenhum laranjais

Oswald de Andrade

Acima, temos dois poemas. O primeiro é “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu, em que o autor retoma os tempos áureos de sua vida evidenciando de maneira romântica sua relação com sua terra (pátria). No segundo, Oswald de Andrade utiliza uma estrutura e termos que recompõem “Meus oito anos” de Casimiro de Abreu. Há, portanto, um diálogo entre os dois textos, sendo o texto de Oswald de Andrade em tom mais crítico.

  • Intertextualidade na música

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente,
É nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade,
É servir a quem vence o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Camões

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine."

Versículo do 13º capítulo da primeira carta de São Paulo aos Coríntios.

Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

É só o amor, é só o amor;
Que conhece o que é verdade;
O amor é bom, não quer o mal;
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

Legião Urbana

A música Monte Castelo estabelece uma relação de intertextualidade com dois textos distintos: a) a passagem da Bíblia e b) o soneto de Camões. Assim, ele repete os trechos de ambos em sua obra formando um novo texto, isto é, a canção. 

Publicado por Rafael Camargo de Oliveira
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