Queimadas na Amazônia
As queimadas na Amazônia, o maior bioma brasileiro, acontecem há muito tempo, sendo de origem natural, indígena ou ocasionadas para abertura de grandes áreas para pastagens, lavouras e/ou garimpos no meio da selva.
Todos os anos, essas queimadas são motivos de preocupação entre ambientalistas e opinião pública devido à grande importância desse bioma para toda a população nacional, que chega a produzir chuvas para regiões distantes de sua área de ocorrência, como o estado de São Paulo.
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Contexto histórico e início das queimadas
A prática de desmatar para abrir uma nova fronteira e desenvolver cidades é comum em todas as regiões do mundo. De forma indissociável a essa prática, a queimada facilita a limpeza e abertura do território desejado. Contudo, quando essas práticas vão além do controle humano, graves problemas ambientais são gerados, prejudicando inúmeras populações.
Na Amazônia, as práticas de queimadas são corriqueiras, com nativos provocando os focos de forma controlada e para a subsistência (afugentar animais, criação de novas tribos, práticas agrícolas). A partir dos anos 1970, marco do início da construção da Rodovia Transamazônica, o desmatamento na região aumentou significativamente em conjunto com as queimadas. Até esse período, a floresta estava, praticamente, intacta.
Essa década marca a efervescência das temáticas ambientais pelo mundo, como a Conferência de Estocolmo, em 1973, a primeira do gênero. Entretanto, tais temáticas só ganhariam força e atenção no Brasil a partir dos anos 1990, com a acentuação dos desmatamentos nas décadas anteriores.
Os incentivos fiscais para grandes latifundiários e madeireiros associados à baixa fiscalização trouxeram um grande impacto negativo para a Amazônia, o que nos faz perceber que as queimadas não são apenas um problema ambiental, mas também social, cultural, político e econômico, e que devem ser tratadas com atenção, cautela e comprometimento de todos os entes envolvidos.
Tipos de queimadas
A Amazônia possui condições climáticas que fazem dela uma floresta úmida e de altas temperaturas durante o ano todo, praticamente. Dessa forma, quando há focos de queimadas e incêndios florestais, não há possibilidade desse fogo ter sido causado de forma natural, e sim artificial, antrópica.
Assim, podemos encontrar três tipos de queimadas no bioma:
- renovar o pasto;
- desmatar grandes áreas;
- fogo em áreas já desmatadas, o chamado incêndio florestal.
O primeiro exemplo ocorre quando fazendeiros criadores de gado ateiam fogo nas áreas de pastagem que já foram desmatadas. Quando há um menor período de chuvas, a vegetação nesses pastos precisa ser “limpa” para outra surgir em seu lugar. Essa limpeza é feita com o fogo, algo normal para esse tipo de atividade. Entretanto, fagulhas são levadas para outras áreas da floresta nas quais, se estiverem degradas, há o início de queimadas, sendo mais um foco além do de limpeza no pasto.
Essa prática pode ser feita, também, por pequenos agricultores e nativos da região, que usam o fogo para limpar uma pequena área e cultivar leguminosas para a própria subsistência. Entretanto, essas populações ateiam o fogo de forma controlada, pois necessitam da floresta para sobreviver, não sendo os grandes vilões dos desastres ambientais ocasionados pelas queimadas.
Além disso, madeireiras desmatam enormes áreas com motosserras e tratores, cortando as árvores maiores. Dias depois, quando essas árvores estão secas, elas são empilhadas e transportadas para as indústrias. As menores árvores são queimadas para facilitar o acesso às áreas mais interioranas do bioma, onde há outras árvores maiores, ou seja, é um processo de limpeza de área com fogo para adentrar a floresta e continuar o desmatamento.
O outro motivo das queimadas é uma continuação do anterior, em que grandes áreas já desmatadas por madeireiros são queimadas, a fim de maior aproveitamento da matéria orgânica.
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Desmatamento e queimadas: causas
No sentido de impactos ambientais na Amazônia, a relação entre desmatamento e queimada é contígua. Isso porque grande parte das queimadas ocorre em áreas já desmatadas, como forma de continuidade de degradação do bioma.
Muitas Organizações Não Governamentais (ONG), como o Greenpeace, chamam a atenção, também, para o pouco saber ambiental, conhecido como analfabetismo ambiental, ou seja, o desconhecimento das interações entre biomas, preservação de determinadas espécies da fauna e da flora, técnicas de manejo florestal não apropriadas, entre outros.
A expansão da fronteira agrícola e pastoril nos estados que praticam essas atividades também pode ser apontada como causa de queimadas e desmatamentos. Pará, Rondônia e Mato Grosso são as localidades que mais se destacam, de forma negativa, em termos ambientais nessa expansão.
A fragilidade de aplicabilidade das leis ambientais na região também é apontada como causa. Multas são aplicadas, mas não há pagamento, muito menos fiscalização dos autuados. Grandes áreas para poucos fiscais são um grande empecilho, pois é sabido, por parte dos praticantes de queimadas e desmatamentos, a triste realidade de alguns órgãos governamentais brasileiros.
Consequências das queimadas da Amazônia
As consequências das queimadas e demais desastres ambientais são terríveis a nível local, regional, nacional e até mundial, pois, com o movimento de rotação do planeta, algo que ficaria restrito a uma região acaba espalhando-se por outras áreas pela ação das massas de ar.
Inicialmente, as cinzas dessas queimadas são transportadas pelos ventos que atingem a região Norte, no sentido leste–oeste, vindos do Oceano Atlântico. Essas cinzas vão em direção à cordilheira dos Andes e, ao encontrarem essa formação geológica, retornam para o continente, no sentido norte–sul. Tais ações fazem com que as chuvas que caem no centro–sul brasileiro vão carregadas de material tóxico proveniente das queimadas na Amazônia.
Em segundo lugar, diferentemente do Cerrado, em que o fogo é um dos elementos naturais que compõem o bioma, devido ao clima seco em determinadas épocas do ano, na Amazônia o fogo, por menor que seja, não pertence a ela. No Cerrado, o fogo oriundo de causas naturais faz com que a vegetação renove-se nas primeiras chuvas de verão, e as cinzas podem servir de material fértil para o solo, mas essa renovação é prejudicada com as queimadas em excesso causadas pelas ações humanas.
Já na Amazônia, de clima úmido e quente, o fogo desequilibra o habitat ao destruir árvores e afugentar animais para áreas que não são de sua origem. As árvores do Cerrado possuem troncos retorcidos e de casca espessa como forma de resistência ao fogo que há no bioma, fogo que é inevitável por conta das ações climáticas e/ou humanas. Na Amazônia, as árvores não possuem essa característica, o que agrava as consequências negativas das queimadas, podendo extinguir várias espécies da fauna e da flora com a morte de animais da região.
Por fim, as árvores e o solo da Amazônia, com a evapotranspiração, contribuem para que “rios voadores” sejam formados no Norte do país e deslocados para o centro–sul, chegando a atingir áreas do Uruguai e da Argentina. Esses rios, ao chegarem às áreas citadas, formam chuvas que alimentam as bacias hidrográficas dessas localidades. Com a diminuição das árvores devido às queimadas e ao desmatamento, as chuvas também diminuem, prejudicando populações que estão distantes do problema.
Há também questões relacionadas à saúde humana, como problemas respiratórios, aumento da poluição e da sensação térmica na região etc. Essas consequências fazem-nos pensar que as queimadas na Amazônia não estão restritas a ela. A negligência e incredulidade diante desse assunto por parte de alguns trazem sérias adversidades para todos.
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Dados das queimadas na Amazônia
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma amazônico é o que mais possui focos de queimadas no Brasil. O instituto realiza medições anuais via satélite desde 1998, e, em todos os anos, a Amazônia registra a maior porcentagem de focos. Essa horrível liderança pode ser explicada pela extensão territorial do bioma (o maior do país), pelas riquezas naturais que atraem inúmeros fazendeiros, agricultores, madeireiros e garimpeiros, além da frágil fiscalização ambiental brasileira, com poucos fiscais nos órgãos ambientais para um enorme espaço.
Vejamos alguns dados dos últimos 10 anos sobre os focos de queimadas na Amazônia, segundo o Inpe.
Ano |
Número de focos de queimadas |
2010 |
134.614 |
2011 |
58.186 |
2012 |
86.719 |
2013 |
58.688 |
2014 |
82.554 |
2015 |
106.438 |
2016 |
87.761 |
2017 |
107.439 |
2018 |
68.345 |
2019 |
89.176 |
Fonte: Inpe.
No primeiro semestre de 2020, já havia mais de 70 mil focos, com perdas imensas em termos de área, floresta (flora e fauna) e biodiversidade. O pior ano em relação a esses números foi 2005, em que 213.720 focos foram registrados no bioma.