Golpe militar em Mianmar
O Mianmar é um país do sudoeste asiático que tinha uma democracia parlamentar muito jovem (desde 2011). Em 2021, esse país sofreu um golpe organizado pelos militares mianmarenses depois que o partido apoiado por eles (USDP) foi derrotado pela NDL de Aung San Suu Kyi. Com o golpe, os militares estabeleceram estado de emergência e anunciaram devolver o poder depois de novas eleições.
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Onde fica o Mianmar?
O Mianmar é um país localizado no sudoeste da Ásia, sendo vizinho de países como Tailândia, China e Bangladesh. Territorialmente, o Mianmar é o 39º maior país do planeta, possuindo área total de 676.578 km2. Para termos uma ideia, se Mianmar fosse um estado brasileiro, seria o 4º maior, ficando atrás de Mato Grosso (903.207 km2) e na frente de Minas Gerais (586.521 km2).
No que se refere à população, Mianmar é o 26º país mais populoso do planeta, possuindo atualmente cerca de 55 milhões de habitantes. Se fosse um estado brasileiro, ele seria o estado mais populoso, superando São Paulo, que tem cerca de 46 milhões de habitantes.
O nome completo de Mianmar é República da União de Mianmar, sendo que, até o ano de 1989, o país era conhecido como Birmânia. Tornou-se independente do domínio britânico em 1948, e, de 1962 a 2011, esteve sob regime dos militares. Portanto, só muito recentemente esse país começou a desenvolver suas primeiras experiências como uma democracia.
O Mianmar é um país multiétnico, portanto, é formado por diferentes etnias, sendo que a maior delas (correspondente a 70% da população do país) é de birmaneses. Outras etnias expressivas no país são os shan e os karen, que, juntos, correspondem a 17% da população do país. Assim, como os birmaneses são a maioria, quem nasce no Mianmar é conhecido como birmanês. Outro gentílico muito comum de quem nasce no país é mianmarense.
As três maiores cidades do país são:
- Yangon: 5 milhões de habitantes;
- Mandalay: 1,2 milhão de habitantes;
- Naypydaw: 1,1, milhão de habitantes.
A capital do Mianmar é a cidade de Naypydaw, inaugurada como a nova capital do país em 2005. Naypydaw é uma cidade que foi planejada para substituir a antiga capital do país, Yangon. O idioma oficial do Mianmar é o birmanês.
Política atual de Mianmar
Desde 2011, o Mianmar converteu-se em uma democracia parlamentar, mas, desde fevereiro de 2021, esse status do país asiático foi colocado à prova por conta de um golpe militar que afastou os governantes do país e colocou os militares no poder. Antes de entendermos o porquê de isso ter acontecido, precisamos conhecer um pouco da política local.
Entre 2010 e 2011, o poder do Mianmar, que estava nas mãos dos militares, começou a ser devolvido à sociedade civil por meio de reformas que promoveram a abertura política do país. A ditadura militar deu lugar a uma democracia parlamentar, em que a população tinha participação na escolha dos representantes por meio do voto.
Em 2010, o Partido União, Solidariedade e Desenvolvimento (USDP, na sigla em inglês) venceu as eleições gerais, dando início a um programa de reformas democráticas. Esse partido é ligado ainda aos militares, portanto, mesmo com a abertura política do país, eles continuavam influentes na política mianmarense.
Em 2015, novas eleições gerais foram realizadas, e o resultado foi que a Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla em inglês) venceu a disputa. Esse partido havia surgido na década de 1980 e tinha lutado historicamente pela derrubada da ditadura militar que esteve no comando do país desde 1960.
A ascensão da NLD trouxe também Aung San Suu Kyi ao poder do Mianmar. Ela é a grande líder do partido e assumiu o cargo de conselheira de Estado, espécie de primeiro-ministro. Isso fez dela a governante de fato do país. A líder da NLD é internacionalmente conhecida pelo Nobel da Paz que ganhou, em 1991, por sua luta contra a ditadura militar no país.
Durante seu governo, Aung San Suu Kyi procurou manter uma boa relação com os militares, que, mesmo longe do poder, tinham muita influência na política local. Ela, inclusive, foi internacionalmente criticada por ser conivente com o genocídio dos rohingyas, uma minoria étnica adepta do islamismo e que habita o território mianmarense. Estima-se que os ataques dos militares contra aldeias rohingyas tenham forçado 700 mil pessoas a se refugiarem no território de Bangladesh.
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Entendendo o golpe militar
Em fevereiro de 2021, a jovem democracia mianmarense foi abalada pelo golpe militar. Os analistas entendem que o golpe tem relação com as eleições gerais realizadas em novembro de 2020 no país. Nesse pleito, novamente USDP e NLD competiram pelo comando do Mianmar, e o resultado foi uma expressiva vitória da NLD, que conquistou 83% dos cargos em disputa.
O resultado demonstrou o grande apoio que a NLD e Aung San Suu Kyi têm no país e causou incômodo nos militares. Assim, enquanto a NLD conquistou mais assentos no Parlamento, o USDP os perdeu. A primeira sessão do novo Parlamento aconteceria em meados de fevereiro, mas, antes disso acontecer, os militares tomaram o poder do país.
Antes do golpe, os militares e membros do USDP procuraram tirar a legitimidade da vitória do partido de Aung San Suu Kyi apontando a existência de fraudes eleitorais. Os opositores, no entanto, não apresentaram provas para sustentar suas acusações, e observadores internacionais viram tais acusações com ceticismo.
Antes que o novo Parlamento assumisse, os militares foram às ruas, cercando a capital com veículos blindados e ocupando as principais ruas da capital, Naypydaw. Os principais prédios foram ocupados, e a cidade ficou sob estrita vigilância dos militares. Em seguida, representantes do país, como Aung San Suu Kyi e outros, foram presos.
Os militares desligaram todos os principais meios de comunicação (telefonia e internet), fecharam o espaço aéreo e anunciaram o golpe em uma estação de TV que pertence a eles. Eles decidiram que o país ficará sob estado de emergência por um ano até que uma nova eleição seja marcada.
Nesse período o território será governado pelo general Min Aung Hlaing, e a receptividade popular ao golpe não foi das melhores. Uma série de protestos aconteceram no país, uma vez que a população apoia a NLD e Aung San Suu Kyi. Internacionalmente, o golpe também foi criticado por países como os Estados Unidos, que o condenaram e anunciaram sanções contra os seus idealizadores e o governo interino.
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