Gordura trans
Gorduras trans são triglicerídeos que podem ocorrer naturalmente em determinados produtos de origem animal ou, ainda, ser produzidos industrialmente com a finalidade de aumentar o prazo de validade e melhorar o sabor de determinados produtos. Apesar de muito utilizado na indústria, o consumo desse grupo de lipídeos pode ser prejudicial à nossa saúde e deve, portanto, ser evitado. No Brasil, há novas regras em relação ao uso de gordura trans, e espera-se que, em breve, ela seja banida para uso em alimentos.
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O que são gordura trans?
O termo gordura é frequentemente utilizado para se referir a uma classe de lipídios. Lipídios são moléculas biológicas formadas de ácidos graxos e álcool, insolúveis em água, porém solúveis em solventes orgânicos, como o éter e a benzina, e apresentam uma coloração esbranquiçada ou levemente amarelada.
As gorduras são lipídios formados por três ácidos graxos e uma molécula de glicerol. Devido a sua estrutura, uma outra denominação para o grupo é triglicerídeo. Usualmente, costuma-se utilizar o termo gordura para aqueles triglicerídeos que permanecem no estado sólido em temperatura ambiente. O termo óleo é utilizado quando os triglicerídeos, em temperatura ambiente, ficam em estado líquido.
De acordo com a definição proposta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as gorduras trans “compreendem os triglicerídeos que contêm ácidos graxos insaturados com, pelo menos, uma dupla ligação na configuração trans”. Quando nos referimos a ácidos graxos saturados ou insaturados, estamos nos referindo à estrutura das cadeias carbônicas desses ácidos. Se não ocorrerem ligações duplas entre os átomos de carbono da cadeia, observa-se um maior número de átomos de hidrogênio ligando-se ao esqueleto carbônico.
Nesse caso, temos uma estrutura saturada. Um ácido graxo insaturado, por sua vez, é aquele que apresenta uma ou mais ligações duplas, o que faz com que um átomo de hidrogênio a menos esteja ligado a cada átomo de carbono da ligação dupla. Devido à presença de insaturação entre átomos de carbono, observa-se a possibilidade de ocorrer dois isômeros geométricos: cis e trans, sendo este o caso das gorduras trans.
O uso de gordura trans nos alimentos
As gorduras trans podem ocorrer naturalmente ou ser produzidas por meio de processos industriais. Hoje sabemos que as gorduras trans causam danos à nossa saúde, porém elas ainda são utilizadas com frequência na fabricação de alguns produtos, em especial os ultraprocessados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), para a produção dessa gordura, “o óleo líquido é transformado em gordura sólida, conferindo, por um baixo custo, maior crocância, sabor e prazo de validade aos produtos”. Essas características acabam tornando o produto mais atrativo para o consumidor, que, muitas vezes, ignora os danos que seu consumo excessivo pode lhe causar.
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Quais alimentos têm gordura trans?
Vários alimentos industrializados têm gordura trans em sua composição, sendo fundamental analisar atentamente os rótulos dos produtos antes de comprá-los. É importante destacar, no entanto, que se a quantidade de gordura trans for igual ou inferior a 0,2 gramas por porção do alimento, ela pode ser declarada como zero na tabela nutricional do produto.
São exemplos de alimentos que contêm gordura trans: salgadinhos, chocolates, sorvetes, biscoitos, margarinas, massas instantâneas, bolos prontos, pipoca de micro-ondas, entre outros. A maioria dos óleos refinados apresenta também esse tipo de gordura, mesmo que em pequenas quantidades. Quando utilizamos esses óleos na produção de alimentos, estes passam também a conter a gordura trans. Vale destacar, ainda, que as gorduras trans são encontradas naturalmente em alimentos derivados de animais ruminantes, como queijo, leite, carne, manteiga, entre outros.
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Quais os danos causados à saúde pelas gorduras trans?
As gorduras trans podem causar diferentes danos à nossa saúde, estando seu consumo excessivo relacionado, principalmente, com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como derrame, aterosclerose e infarto. Além disso, sabe-se que as gorduras trans são capazes de elevar o nível de LDL, lipoproteína também conhecida como “colesterol ruim”, e abaixar os níveis de HDL, o famoso “colesterol bom”.
Essas gorduras, diferentemente de outros lipídios, não são essenciais para o desenvolvimento do nosso organismo, não havendo, portanto, recomendações para o seu consumo.
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Proibição de gordura trans no Brasil
A Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde recomendam a redução do consumo de gordura trans devido às várias evidências científicas atuais que demonstram os malefícios que ele pode causar ao nosso organismo. No Brasil, a preocupação com o consumo desse tipo de lipídio também é real, e a Anvisa, por meio da Resolução - RDC nº 332, de 23 de dezembro de 2019, estabeleceu que:
Art. 5º A partir de 1º de julho de 2021, a quantidade de gorduras trans industriais nos óleos refinados não pode exceder 2 gramas por 100 gramas de gordura total.
Art. 6º Entre 1º de julho de 2021 e 1º de janeiro de 2023, a quantidade de gorduras trans industriais não pode exceder 2 gramas por 100 gramas de gordura total nos alimentos destinados ao consumidor final e nos alimentos destinados aos serviços de alimentação.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica aos produtos destinados exclusivamente ao processamento industrial que contenham gorduras trans industriais em sua composição, desde que sejam fornecidas, nos rótulos, nos documentos que acompanham os produtos ou por outros meios acordados entre as partes, informações sobre a:
I - quantidade total de gorduras trans industriais em gramas por 100 gramas do produto;
II - quantidade total de gorduras trans industriais em gramas por 100 gramas de gordura total do produto; e
III - presença de óleos e gorduras parcialmente hidrogenados.
Nem todo lipídio é ruim
Muitas pessoas associam o consumo de lipídios aos malefícios que eles podem causar ao nosso organismo. Entretanto, esse grupo de moléculas também tem funções fisiológicas importantes no nosso corpo.
Os lipídios, por exemplo, atuam como um depósito eficiente de energia; previnem a perda de calor; fazem parte da estrutura de biomembranas; ajudam na absorção de vitaminas; são precursores de hormônios e sais biliares; atuam como camada de proteção contra choques mecânicos; e são essenciais na condução do impulso nervoso.
Uma dieta isenta desse nutriente pode trazer malefícios à saúde, entretanto, é importante não exagerar no consumo e saber fazer escolhas inteligentes na hora consumir os alimentos.