Bumba meu boi
O bumba meu boi é uma manifestação artística e popular do folclore brasileiro. É reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e como Patrimônio Cultural do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Devido à festa ter origem negra, o bumba meu boi já passou por perseguições das elites nordestinas e da polícia, sendo, inclusive, proibido de 1861 a 1868.
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Origem do bumba meu boi
Historiadores estimam que a dança do bumba meu boi surgiu no século XVIII, na região Nordeste. Nesse período, o boi tinha uma importância significativa, fosse pela sua simbologia, de força e resistência, fosse por fatores econômicos, já que havia grandes criadores de gado e colonizadores que faziam uso de mão de obra escravizada.
A história que envolve a dança do bumba meu boi está ligada à lenda de um casal de escravizados, chamados Pai Francisco e Mãe Catirina (ou Catarina).
Catirina estava grávida e começou a ter desejos por língua de boi. Seu marido, para atender o desejo da esposa gestante, matou o boi mais bonito de seu senhor. Quando o dono da fazenda notou a morte do animal, convocou curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. O boi voltou à vida, e toda comunidade o celebrou com uma grande festa. Francisco e Catirina receberam o perdão do dono do boi.
Nomes pelo país
O bumba meu boi é um importante símbolo da cultura do estado do Maranhão, estando ligado diretamente à identidade de seu povo. Além disso, a dança possui uma variedade de nomes e diversas formas de ser apresentada.
Confira os nomes que ela recebe em outros estados:
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Amazonas: boi-bumbá
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Paraíba: boi de reis
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Ceará: boi-surubi
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Rio Grande do Norte: boi-calemba ou calumba
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Bahia: rancho de boi
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Espírito Santo: bumba de reis
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Rio de Janeiro: boi-pintadinho
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Santa Catarina: boi de mamão
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Rio Grande do Sul: boizinho
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O boi
A dança do bumba meu boi, chamada também de folguedo, mistura personagens humanos e animais fantásticos em torno da morte e ressurreição de um boi. A brincadeira do boi é contada por meio de músicas e vestimentas.
Apesar de o bumba meu boi ser uma manifestação típica do folclore brasileiro, suas danças lembram um pouco os autos medievais, que são encenações simples, com linguagem popular, e que relatam, grande parte das vezes, a luta entre o bem e o mal.
Uma curiosidade é que o termo “bumba” seria uma onomatopeia — figura de linguagem na qual se reproduz um som por meio de fonemas —, em referência ao suposto barulho de uma batida do chifre do boi em algo.
O bumba meu boi encontrado no Maranhão pode ser de zabumba, considerado o mais antigo; de orquestra, que tem origem no encontro do boi de zabumba com uma procissão, mesclando tambores com instrumentos de sopro; da ilha (criado em São Luís); da baixada; de cururupu; ou de costa de mão. Essa divisão é realizada por sotaques, que são os ritmos tocados no bumba meu boi.
Quando é celebrado?
O festejo do bumba meu boi na região Nordeste costuma acontecer nos meses de junho e julho, durante o período de Festas Juninas.
As músicas da festividade estão ligadas à lenda de Francisco e Catirina. Vários estilos brasileiros estão presentes na celebração, como aboios, toadas, repentes, canções pastoris e cantigas.
O chamado ciclo festivo e de apresentações pode ser dividido em quatro etapas, sendo elas: ensaio, batismo, brincadeiras em arraiais e morte do boi.
1ª etapa: ensaios
2ª etapa: batismo — quando o boi recebe todas as bênçãos do padroeiro da festa.
3ª etapa: brincadeiras em arraiais — acontecem durante as festividades juninas.
4ª etapa: a morte do boi — geralmente acontece no final do mês de julho.
O artesanato, os instrumentos musicais e o bordado do couro do boi e da indumentária dos participantes representam a devoção a São João, São Pedro e São Marçal.
Embora esteja muito ligado à religiosidade católica, o bumba meu boi traz em suas coreografias muitos elementos de cultos afro-brasileiros.
Os personagens do bumba meu boi
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O boi
O boi é uma figura mitológica para muitos, e era visto por escravizados e indígenas como símbolo de força e resistência, companheiro de trabalho. A encenação do bumba meu boi gira em torno dele. Quem se veste com a fantasia de boi, recebe o nome de miolo.
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O vaqueiro
O vaqueiro é um dos parceiros do boi na dança. Possui um chapéu enfeitado com fitas longas. Pelo enredo da dança folclórica, ele representa a pessoa que avisa o dono da fazenda sobre a morte do boi.
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Dono da fazenda
O dono da fazenda é o senhor de engenho e dono do boi que morreu. Ele deseja que o animal seja ressuscitado e jura vingança ao casal Nego Chico e Catirina.
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Nego Chico e Catirina
Nego Chico e Catirina são os principais personagens depois do boi, já que foi o casal de escravizados/trabalhadores rurais que acabou matando o boi precioso por um desejo da então grávida. Com receio de o filho nascer com cara de língua de boi, Nego Chico/Pai Francisco matou o animal. A personagem de Catirina costuma ser interpretada por um homem vestido de mulher.
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Músicos
A apresentação do bumba meu boi é acompanhada de uma banda com inúmeros instrumentos musicais. Os instrumentos mais comuns são os de percussão, como tambores, pandeirões, matracas, maracás e tambores-onça.
Festival de Parintins
No Amazonas, o bumba meu boi foi trazido pelos imigrantes do Maranhão, que se mudaram para a região a fim de extrair borracha. No Norte do país, a lenda do bumba meu boi recebeu o nome de boi-bumbá.
O boi-bumbá foi incorporado à cultura amazonense no início do século XX, quando a população começou a confeccionar bois de panos enfeitados para brincar e desfilar na cidade. Foi nessa época, mais especificamente em 1913, que teriam surgido os bois Garantido e Caprichoso, atrações principais do Festival de Parintins.
A cidade de Parintins, segunda maior do Amazonas, foi a que mais incorporou o boi-bumbá a sua cultura. O primeiro festival oficial na cidade aconteceu em 1966. Nas primeiras edições, o festival era chamado de Toada Amazônica, por conta da influência indígena, que deu novas características ao boi.
Na região, a tradição acontece sempre no último final de semana de junho, em um espaço a céu aberto com o formato da cabeça de um boi, chamado de bumbódromo.
A festa em Parintins é representada por duas agremiações:
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a do boi Garantido, com o coração vermelho;
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e a do boi Caprichoso, com a estrela azul.
Durante a apresentação, que acontece como um duelo entre os dois bois, os personagens dançam ao som de letras baseadas em mitos da Floresta Amazônica.
Créditos das imagens
[1] Erica Catarina Pontes / Shutterstock
[2] T photography / Shutterstock