Antítese

A antítese é uma figura de linguagem que serve para potencializar a expressão por meio da relação entre sentidos opostos. A oposição da antítese não está necessariamente relacionada ao sentido individual das palavras, mas ao modo como as palavras foram organizadas e estruturadas no texto, criando tal efeito de sentido. Muito confundida com a figura de linguagem paradoxo, ela se difere justamente por não implicar a contradição e impossibilidade entre os opostos, e sim a diferença.

Leia também: Quais são as funções da linguagem?

O que é antítese?

A antítese é uma das conhecidas figuras de linguagem e caracteriza-se por posicionar, numa mesma expressão, elementos com sentidos contrários. Essa ferramenta enquadra-se dentro das figuras de pensamento, pois a contradição, muitas vezes, é identificada pelo contexto, ou seja, pelo modo como o autor construiu seu discurso, e não pelo sentido próprio das palavras.

A antítese trabalha com a oposição entre diferentes que não se anulam.

Comumente, a antítese, assim como as outras figuras de linguagem, é enquadrada somente nos discursos poéticos ou artísticos. Entretanto, a depender do modo e da intenção, a antítese pode ser utilizada tanto para ampliar os sentidos figurados e simbólicos do texto como para reforçar um discurso retórico.

Exemplos de antítese

A seguir, um trecho da letra da música “O quereres”, de Caetano Veloso, como um bom exemplo de antítese:

O quereres

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

[...]

A música trabalha a questão do “querer”, apontando para os conflitos que esse desejo carrega, principalmente quando o querer está para o outro, o qual nunca pode atender a todas as nossas expectativas e quereres individuais. Desse modo, a letra tenta demonstrar o conflito dentro de um querer amoroso, no qual o amante não consegue agradar a amada.

Observemos o trecho “Onde queres revólver, sou coqueiro/ E onde queres dinheiro, sou paixão”, as palavras colocadas em sentidos opostos, “revolver x coqueiro” e “dinheiro x paixão”, não são necessariamente contrárias em seus sentidos individuais. Apesar de representarem coisas diferentes, não é possível detectar um antagonismo a priori.

Entretanto, no contexto da música, em que toda a estrutura constitui-se no intuito de evidenciar essa polaridade, entre o desejo do amante e o desejo da amada, essas palavras tornam-se opostas e com sentidos contraditórios. Assim, a música utiliza-se da antítese por toda a letra, elaborando novos tipos de contraposições.

Diferença entre antítese e paradoxo

É comum que haja uma dificuldade em diferenciar o sentido da antítese do sentido do paradoxo, outra importante figura de linguagem. Entretanto, existem detalhes básicos que separam essas duas ferramentas.

Como observado nos tópicos anteriores, a antítese caracteriza-se não apenas pela contradição mas também por essa contradição ser causada, intencionalmente, por meio da estrutura do discurso, em que os elementos, apesar de contraditórios, não necessariamente se anulam.

Já no caso do paradoxo, essa ferramenta caracteriza-se necessariamente pela contradição das palavras, ou seja, as próprias expressões, em seus sentidos individuais, já apresentam sentidos opostos, logo, essa contradição é marcada de modo mais evidente e anulativo, já que, em alguns casos, há uma impossibilidade de concretização do sentido. Se quiser saber mais detalhes sobre essa figura de linguagem tantas vezes confundida com a antítese, acesse: Paradoxo.

Desse modo, é possível perceber que a antítese está mais para o campo da construção de efeitos diferentes, opostos, enquanto o paradoxo é o conflito e a oposição inerentes ao discurso e, por isso, está mais para o campo da contradição, anulação.

Figuras de linguagem

As figuras de linguagem podem ser compreendidas como recursos estilísticos com a língua que permitem ampliação e modificação dos sentidos comuns. Elas são comumente associadas aos textos artísticos, principalmente a poesia, justamente pela sua capacidade de apresentar ideias, sentidos e sentimentos de modo mais expressivo e simbólico.

Existem quatro tipos de figuras de linguagem, são eles:

            - Metáfora

            - Comparação

            - Metonímia

            - Perífrase

            - Sinestesia

            - Antítese

            - Apóstrofe

            - Eufemismo

            - Hipérbole

            - Ironia

            - Paradoxo

            - Prosopopeia

            - Elipse

            - Inversão

            - Pleonasmo

            - Repetição

            - Onomatopeia

            - Aliteração

            - Assonância

            - Paronomásia

Para saber mais sobre esses importantes recursos estilísticos, leia: Figuras de linguagem.

Exercícios resolvidos

Questão 1 – Leia os trechos em destaque e identifique qual utiliza a figura antítese como ferramenta de construção do sentido. Os trechos foram retirados do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, do poeta Camões.

I) Amor é fogo que arde sem se vê;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente

II) É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder

Resolução

A alternativa que apresenta a figura antítese é a II. A alternativa I utiliza o paradoxo, visto que as oposições contradizem-se e podem ser lidas como impossíveis — é impossível doer sem se sentir ou arder sem se ver. Já na alternativa II, as oposições são feitas dentro da estrutura dos versos e não necessariamente se anulam — contentar-se de contente ou perder algo e sair ganhando —, logo, há oposição, mas não contradição.

Questão 2 – (Enem)

O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
[dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
(...)
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p. 227-8.

A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e

A) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o
açúcar.
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se
dissolve na boca.
C) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde
se produz o açúcar.
D) a beleza dos extensos canaviais que nascem no
regaço do vale.
E) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas
escuras.

Resolução

Alternativa E, pois se aponta para os contrastes entre a condição de trabalho e vida daqueles que produzem e a qualidade e estética do objeto produzido e consumido em Ipanema.

Publicado por Talliandre Matos
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Matemática do Zero | Média Aritmética
Nessa aula veremos como calcular a média aritmética simples e a média aritmética ponderada de uma amostra.
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