Revolução Iraniana

A Revolução Iraniana marcou o fim da monarquia no país e a ascensão da República Islâmica do Irã, governada pelo aiatolá Khomeini. Ocorreu em 1979.
Ruhollah Khomeini sendo recebido pelo povo como seu líder supremo, em 1979, durante a Revolução Iraniana.

A Revolução Iraniana ocorreu em 1979 e levou ao poder o aiatolá Khomeini, líder máximo do xiismo no Irã. Também chamada de Revolução Islâmica, derrubou o último monarca do Irã, o xá Reza Pahlevi, que governava o país desde o início da década de 1940.

O Irã se tornou, com a nova Constituição promulgada logo após a revolução, um Estado teocrático, no qual diversos poderes são supervisionados, ainda hoje, por clérigos xiitas. Estados Unidos e Israel se tornaram os principais inimigos do governo dos aiatolás, e o país passou a financiar diversos grupos terroristas no Oriente Médio, com o objetivo de levar os ideais da Revolução Islâmica para outros países.

Khomeini foi nomeado “líder supremo do Irã”, tornando-se assim o verdadeiro governante do país. Ele ocupou o cargo até 1989, quando faleceu e foi sucedido por Ali Khamenei, ainda hoje o líder supremo do país.

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Resumo sobre a Revolução Iraniana

A Revolução Iraniana ocorreu em 1979 e alçou ao poder o líder xiita Ruhollah Khomeini, conhecido no Ocidente como aiatolá Khomeini.

  • Reza Pahlevi era o xá do Irã desde 1941 e iniciou seu reinado quando o Irã era uma monarquia constitucional.
  • Por meio de um golpe apoiado por EUA e Grã-Bretanha, em 1953, Pahlevi passou a governar com plenos poderes.
  • Na década de 1960, o xá iniciou um processo de profundas mudanças sociais, políticas e econômicas no Irã.
  • As reformas realizadas por ele desagradaram aos clérigos muçulmanos do país.
  • Em 1978, diferentes grupos políticos do Irã se uniram com o objetivo de derrubar Reza Pahlevi.
  • O ano de 1978 foi marcado por grandes manifestações e greves que tinham por objetivo a deposição do xá.
  • Sem apoio popular, Reza Pahlevi deixou o Irã em janeiro de 1979.
  • Em fevereiro, Khomeini retornou do exílio e foi recebido por uma multidão em Teerã.
  • Em um referendo em abril de 1979, o povo iraniano aprovou que o país se tornasse uma república islâmica.
  • No fim do ano, Khomeini foi nomeado líder supremo do Irã, ocupando o cargo até 1989.

 Videoaula sobre a Revolução Iraniana (Revolução Islâmica)

Contexto histórico da Revolução Iraniana

O Irã, historicamente também conhecido como Pérsia, foi invadido por tropas britânicas e soviéticas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. As duas potências aliadas consideravam o Irã um local estratégico para o envio de suprimentos para URSS e buscavam o valioso petróleo do país.

Reza Xá Pahlevi, também grafado Pahlavi, então o monarca do Irã, era declaradamente apoiador do nazismo e de Adolf Hitler. Por pressão anglo-soviética, abdicou do trono ainda em 1941, em nome do filho, Reza Pahlevi. O novo xá foi educado na Suíça, falava francês, inglês e alemão e era considerado mais ocidentalizado do que seu pai. Após o fim do conflito mundial e o início da Guerra Fria, Reza Pahlevi gradativamente se aproximou de norte-americanos e ingleses e se distanciou da União Soviética.

Em 1950 ocorreu a eleição legislativa do Irã, e, no início do ano seguinte, Mohammad Mosaddegh foi eleito primeiro-ministro. No governo, Mosaddegh iniciou um processo que buscava nacionalizar a produção de petróleo do Irã, até então controlada por uma empresa inglesa, a Anglo-Iranian Oil Company, mais tarde renomeada British Petroleum.

O Parlamento iraniano aprovou a nacionalização do petróleo, e Estados Unidos e Reino Unido passaram a pressionar o Irã pelo fim do governo de Mosaddegh, promovendo boicote econômico ao país e infiltrando agentes secretos em seu território, com o objetivo de desestabilizar o governo do primeiro-ministro.

Com aprovação de Winston Churchill (primeiro-ministro do Reino Unido) e Dwight Eisenhower (presidente dos Estados Unidos), foi colocado em execução o Projeto TPAjax, que teve por principal objetivo a derrubada de Mosaddegh. Com apoio do xá Reza Pahlevi, Mosaddegh foi derrubado em 19 de agosto, no chamado Golpe de Estado do Irã de 1953. Pahlevi concentrou poderes, tornando-se um monarca autocrata e passando a governar com apoio dos militares e dos seus aliados ocidentais, principalmente dos Estados Unidos.

Em 1963, Reza Pahlevi iniciou a chamada Revolução Branca, forma pela qual ficaram conhecidas um conjunto de medidas tomadas pelo xá que visavam transformar economica, social e politicamente o país. As mulheres conquistaram o direito ao voto e maior autonomia para casamentos e divórcios. Florestas e recursos hídricos foram nacionalizados, e uma importante reforma agrária foi realizada, o que enfraqueceu a antiga elite agrária do país, boa parte dela era composta por clérigos xiitas.

As medidas tomadas por Reza Pahlavi incomodaram diversos setores da sociedade iraniana, principalmente o alto clero do país. Nesse período o aiatolá Khomeini se tornou o principal opositor do xá, sendo exilado do país em 1964, mas mantendo sua liderança na oposição.

Veja também: Quais são os conflitos que envolvem a geopolítica do petróleo?

O que foi a Revolução Iraniana?

A Revolução Iraniana de 1979 foi um episódio que marcou a queda do xá Reza Pahlavi e a ascensão do Aiatolá Khomeini ao poder. Também determinou o fim da monarquia no país e o início de uma república islâmica sob a liderança de um aiatolá, sistema que perdura até os dias atuais.

Queda do xá da Pérsia

Manifestantes derrubam uma estátua do xá em 1978. Pressionado, Reza Pahlevi deixou o Irã.

Durante a Revolução Branca, iniciada em 1963, Reza Pahlevi passou a ser duramente criticado pelo clero xiita do país, que acusava o xá de impor ao povo iraniano a cultura ocidental. Na década de 1970, diversos grupos laicos também passaram a fazer oposição a Reza Pahlevi, entre partidos de esquerda, liberais e movimentos de muçulmanos moderados.

Diversos protestos passaram a ocorrer no país, e, mesmo no exílio, Khomeini se tornou o principal líder desses protestos, unindo os diferentes grupos opositores. Em janeiro de 1979, ao ver o crescimento dos protestos e a perda do apoio da cúpula militar, Reza Pahlevi deixou o Irã.

No início de fevereiro de 1979, Khomeini retornou ao país, sendo recebido como um libertador por milhões de iranianos. Em abril, um referendo aprovou o fim da monarquia e o estabelecimento de uma república islâmica. No final do ano, Khomeini foi nomeado pelo Parlamento como o governante supremo do país. A Constituição anterior foi abolida, e uma nova, baseada nas tradições islâmicas, foi promulgada.

Quais as causas da Revolução Iraniana?

A principal causa da Revolução Iraniana foi o descontentamento de diversos setores da sociedade persa com o governo do xá Reza Pahlevi. A oposição política acusava o governo de autoritarismo, de corrupção e de ser o principal responsável pelos problemas econômicos e sociais que atingiram o país na segunda metade da década de 1970.

A oposição religiosa, composta pelos altos clérigos xiitas do país e por boa parte da população, acusava o xá de violar as leis islâmicas e de impor costumes ocidentais ao país.

Além disso, Pahlevi era considerado um títere das grandes potências e defensor de seus interesses. Vale lembrar que ele se tornou monarca com um golpe promovido por britânicos e norte-americanos e que se tornou um autocrata também com apoio dessas nações, no Golpe de 1953.

O Irã antes da Revolução Iraniana

Durante a dinastia Pahlevi, iniciada em 1925, o Irã passou por importantes mudanças econômicas, políticas e sociais. Na década de 1930, Reza Xá aboliu a obrigatoriedade do uso de véu pelas mulheres e, em 1963, seu filho concedeu a elas o direito de votar e de serem eleitas.

Rua de Teerã na década de 1970. Pelos trajes e veículos, podemos perceber a forte influência ocidental no país.

A educação também foi gradativamente se afastando da religião e se tornando laica durante a dinastia Pahlevi. Em 1934 foi fundada a Universidade de Teerã, ainda hoje a mais importante do país, e sua administração era laica até a revolução. O mesmo aconteceu com o sistema judiciário do país, em que os julgamentos passaram a ser feitos por juízes e não mais por autoridades xiitas.

Como ocorreu a Revolução Iraniana?

Os protestos contra Pahlevi ganharam força em 1978. Eles contaram com a participação de diversos grupos, como religiosos xiitas, estudantes, trabalhadores, intelectuais, políticos liberais e membros do Tudeh, o Partido Comunista do Irã. Durante todo o ano, manifestações e greves enfraqueceram o poder do xá.

Sem apoio popular e dos militares, o xá Reza Pahlevi fugiu do país em janeiro de 1979. Em fevereiro, o aiatolá Khomeini regressou do exílio, sendo recebido por uma multidão. Em 1º de abril de 1979, um referendo foi realizado, e nele a proclamação de uma república islâmica foi aprovada pela maior parte da população. Em dezembro daquele ano, o aiatolá Khomeini foi empossado com líder supremo do Irã.

Consequências da Revolução Iraniana

→ Transformação do Irã em um país de governo teocrático

Após a ascensão de Khomeini ao poder, a antiga Constituição foi abolida e, no seu lugar, uma nova Constituição foi aprovada, com suas leis baseadas nos princípios islâmicos. A nova Constituição deu amplos poderes ao líder supremo do país, cargo atualmente ocupado pelo aiatolá Ali Khamenei, que sucedeu a Khomeini após sua morte, em 1989.

Ali Khamenei é o chefe de Estado e autoridade suprema nas questões políticas e religiosas. Também é o chefe das forças armadas e o responsável pela nomeação de importantes cargos militares, religiosos e políticos do país. Abaixo do aiatolá, está o presidente, chefe de governo que, na prática, tem o poder limitado pelo poder do aiatolá. O presidente é eleito e ocupa o cargo por quatro anos, podendo ser reeleito uma vez, porém o cargo de líder supremo é vitalício.

→ A perda de direitos das mulheres

Ainda em 1979, as mulheres passaram a ser novamente obrigadas a usarem o véu e a sempre estarem acompanhadas de um homem quando em público. Com o passar dos anos, as mulheres foram gradativamente sendo excluídas da vida pública. Em 2005, foi criada a polícia da moralidade, cujo principal objetivo era justamente o de fiscalizar as vestimentas utilizadas pelas iranianas.

Após a Revolução Iraniana, as mulheres voltaram obrigatoriamente a usar o hijab no Irã.[1]

Após a pandemia de covid-19, diversas manifestações por democracia e por direitos das mulheres passaram a ser realizadas no Irã, sendo violentamente reprimidas pelas autoridades.

→ Atritos Irã x Estados Unidos

Após a Revolução Iraniana, os Estados Unidos foram declarados, por Khomeini, o principal inimigo do Irã. Vale lembrar que os EUA apoiaram o Golpe de 1953 e o governo autocrático de Reza Pahlevi.

Em novembro de 1979, estudantes defensores da revolução invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã, iniciando a chamada Crise dos Reféns. Por 444 dias, mais de 50 norte-americanos ficaram como reféns na embaixada, e, após uma tentativa de resgate frustrada feita pelos EUA, os reféns foram finalmente soltos após um acordo feito entre os dois países.

O Irã se tornou uma potência regional, passando a financiar diversos grupos islâmicos, alguns deles terroristas, objetivando que mais países realizassem a Revolução Islâmica e aprofundando os atritos com os norte-americanos.

→ Guerra Irã x Iraque

Em 1980, tropas do Iraque, lideradas por Saddam Hussein, invadiram o Irã com apoio militar e econômico dos EUA. O objetivo de Hussein era conquistar territórios fronteiriços, e, o dos norte-americanos, enfraquecer o poder de Khomeini. Mas a guerra surtiu o efeito contrário, Khomeini se fortaleceu e o Irã se tornou uma potência militar regional no período. Em 1988, um acordo de paz foi estabelecido entre as duas nações e a guerra se encerrou. Saiba mais sobre esse conflito clicando aqui.

O que é o aiatolá?

Ali Khamenei é o atual aiatolá, líder supremo do Irã.[2]

Aiatolá é um título honorífico dado aos principais líderes religiosos xiitas. A palavra tem origem nos termos árabes ayat Allah, algo como “sinais de Alá”. No mundo Ocidental, inclusive no Brasil, a palavra aiatolá é associada ao líder supremo do Irã, atualmente o aiatolá Ali Khamenei.

Como é o Irã na atualidade

O Irã atualmente é uma república islâmica cujo principal governante é o aiatolá Khamenei, no cargo desde 1989. Pela Constituição de 1979, o aiatolá é o líder supremo das forças armadas do Irã, além de ser o moderador das decisões dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Cabe a ele, ainda, declarar guerra ou paz à outra nação e, caso ache necessário, cassar o presidente do país.

Desde a Revolução Islâmica, o Irã se tornou uma das principais lideranças islâmicas no Oriente Médio, assim como uma potência militar regional. Na atualidade, o país financia e arma diversos grupos terroristas da região, entre eles o Hamas, o Hezbollah e os Houthis, do Iêmen.

Após o atentado terrorista de 2023 praticado pelo Hamas, o Irã passou a ser alvo de ataques de Israel, geralmente retaliando esses ataques com lançamentos de mísseis sobre o território judeu. Hoje o Irã é acusado por diversas entidades, como a ONU, de violar os direitos humanos e por cometer crimes que incluem prisões arbitrárias, torturas, execuções e perseguições de gênero.

Saiba mais: Qual a maior causa da guerra travada entre Israel e o Hamas?

Exercícios resolvidos sobre a Revolução Iraniana

1 - (UFRGS) Considere as afirmações abaixo, sobre a Revolução Iraniana de 1979 e suas consequências.

I - A revolução iniciou como um amplo movimento de contestação à monarquia do xá Reza Pahlevi e acabou cooptada por setores islâmicos radicais, representados pelo aiatolá Khomeini, que se tornaria Líder Supremo do país.
II - A República Islâmica, fundada após a vitória da revolução, logo entrou em uma longa guerra contra a União Soviética e foi finalmente derrotada em 1989.
III - Um grupo de jovens radicais islâmicos, em novembro de 1979, iniciou uma longa tomada de reféns na embaixada norte-americana do país, em retaliação ao apoio dos Estados Unidos ao xá deposto que duraria até 1981.

Quais estão corretas?

a) Apenas I e II.

b) Apenas II e III.

c) Apenas I e III.

d) Todas estão corretas.

Alternativa C

A Revolução Iraniana se iniciou com um amplo movimento de contestação à monarquia do xá Reza Pahlevi formado por diversos grupos. O processo revolucionário, no entanto, acabou sendo conduzido pelas lideranças xiitas, a principal delas: o aiatolá Khomeini. Em 1979, estudantes iranianos invadiram a embaixada dos Estados Unidos, iniciando a crise dos reféns que só se encerraria 444 dias depois. O Irã não entrou em guerra com a União Soviética.

2 - (ESPM) Em 1979, há 30 anos, uma revolução popular no Irã derrubou a ditadura do Xá Reza Pahlevi. Batizada, retroativamente, de ‘Revolução Islâmica’, por causa do papel hegemônico exercido pelo clero xiita, liderado pelo aiatolá Khomeini, o movimento mudou o mapa político do Oriente Médio.

(Revista História Viva. No 65)

Sobre a mudança no mapa político do Oriente Médio mencionada no texto, é correto assinalar:

a) o governo iraniano, nascido da Revolução Islâmica de 1979, estabeleceu profundo laço de cooperação com os EUA.

b) o novo governo iraniano, nascido da Revolução Islâmica, redirecionou a política externa praticada pelo Xá Reza Pahlevi, tendo firmado uma parceria com Israel.

c) com a Revolução Islâmica, dirigida do exterior pelo aiatolá Khomeini, o Irã tornou-se um Estado teocrático fechando-se para o Ocidente.

d) o Estado iraniano constituído com a Revolução Islâmica, adotou uma política totalmente isolacionista em temas como as relações com a maioria xiita (que predomina no Iraque e o movimento palestino).

Alternativa C

Após a Revolução Iraniana, o governo do país cortou relações com os países do Ocidente. Por outro lado, o país passou a treinar grupos políticos e armados em diversos países do Oriente Médio, com o objetivo de espalhar a Revolução Islâmica para toda a região.

Créditos das imagens

[1] saeediex / Shutterstock

[2] Khamenei.ir / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

COGGIOLA, Osvaldo. A Revolução Iraniana. Editora da UNESP, São Paulo, 2008.

GOLDSCHMIDT, Arthur. Uma história concisa do Oriente Médio. Editora Vozes, São Paulo, 2021.

Publicado por Jair Messias Ferreira Junior

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