Oswald de Andrade
Oswald de Andrade nasceu em 11 de janeiro de 1890, na cidade de São Paulo. Em 1911, o escritor foi um dos fundadores da revista O Pirralho. No ano seguinte, fez uma viagem à Europa e teve contato com o futurismo, um movimento de vanguarda. Assim, em 1922, participou da organização da Semana de Arte Moderna, que inaugurou o modernismo no Brasil.
Como integrante da primeira geração modernista, o autor produziu obras marcadas pela liberdade formal e pelo nacionalismo crítico. Seus textos apresentam humor, ironia e fragmentação, além de questões ideológicas, pois o autor, que morreu em 22 de outubro de 1954, foi integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) de 1931 a 1945.
Leia também: Parnasianismo – movimento literário que era combatido pelos modernistas
Biografia de Oswald de Andrade
Oswald de Andrade (ou José Oswald de Sousa Andrade) nasceu em 11 de janeiro de 1890, na cidade de São Paulo. Assim, em sua infância, presenciou a transição de uma São Paulo rural para uma cidade industrializada e aberta aos avanços tecnológicos. Oswald era sobrinho do escritor naturalista Inglês de Sousa (1853-1918) e pertencia a uma família rica e aristocrática, mas que valorizava a literatura e apoiava o jovem autor.
Com 19 anos, Oswald de Andrade escrevia para o Diário Popular, e, em 1911, com o advogado Dolor de Brito, fundou a revista literária e política O Pirralho. No ano seguinte, fez uma viagem à Europa, onde teve contato com movimentos de vanguarda, como o futurismo. Mais tarde, em 1919, concluiu o curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco.
Em 1922, foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, evento que inaugurou o modernismo no Brasil. Uma integrante desse movimento era Tarsila do Amaral (1886-1973), com quem o escritor casou-se em 1926. Dois anos depois, Oswald escreveu o Manifesto antropófago, uma das principais obras do movimento modernista brasileiro.
A quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929, prejudicou financeiramente a sua família. Nesse mesmo ano, o casamento com Tarsila chegou ao fim, pois o autor envolveu-se com a escritora Patrícia Galvão (1910-1962), a jovem Pagu. Em 1931, Oswald de Andrade filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), cuja ideologia influenciou sua obra até 1945, quando deixou o partido.
Em 1934, seu casamento com Pagu também chegou ao fim. Nessa época, além de comunista, Oswald era contra o nazismo e o fascismo. Mais tarde, opôs-se ao Estado Novo (1937-1945) e ao governo ditatorial de Getúlio Vargas (1882-1954). Em 1940, o escritor, que morreu em 22 de outubro de 1954, em São Paulo, candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, mas não foi eleito, provavelmente devido a suas críticas à instituição.
Leia também: Mário de Andrade – escritor modernista e amigo de Oswald de Andrade
Características literárias de Oswald de Andrade
Oswald de Andrade foi um escritor da primeira fase modernista (1922-1930), a qual apresentou as seguintes características:
- Inovação estética
- Crítica à tradição literária
- Liberdade formal
- Nacionalismo crítico
- Regionalismo
- Uso da linguagem coloquial
- Elementos sociopolíticos
As obras do autor apresentam também as seguintes peculiaridades:
- Humor
- Fragmentação
- Ironia
- Caráter ideológico
- Metalinguagem
- Prosa com frases curtas
- Sátira da vida burguesa
- Poesia ágil ou sintética
- Presença de neologismos
Obras de Oswald de Andrade
→ Poesia
- Pau-brasil (1925)
- Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927)
- Cântico dos cânticos para flauta e violão (1942)
- O escaravelho de ouro (1946)
- O cavalo azul (1947)
- Manhã (1947)
- O santeiro do mangue (1950)
→ Romances
- Os condenados (1922)
- Memórias sentimentais de João Miramar (1924)
- A estrela de absinto (1927)
- Serafim Ponte Grande (1933)
- A escada vermelha (1934)
- Marco zero I: a revolução melancólica (1943)
- Marco zero II: chão (1945)
→ Teatro
- O homem e o cavalo (1934)
- A morta (1937)
- O rei da vela (1937)
→ Ensaios
- Ponta de lança (1945)
- A Arcádia e a Inconfidência (1945)
- A crise da filosofia messiânica (1950)
- A marcha das utopias (1953)
→ Manifestos
- Manifesto da poesia pau-brasil (1924)
- Manifesto antropófago (1928)
→ Memórias
- Um homem sem profissão (1954)
Veja também: Modernismo em Portugal – fases e características
→ Pau-brasil
Um dos livros de poesia mais famosos de Oswald de Andrade é Pau-brasil, pois traz, de forma crítica, a busca da identidade brasileira, além do sentimento de nacionalidade. Desse modo, o poema “Digestão” é um exemplar do regionalismo modernista. Nesse poema, em versos livres, o eu lírico valoriza a cultura mineira:
Digestão
A couve mineira tem gosto de bife inglês
Depois do café e da pinga
O gozo de acender a palha
Enrolando o fumo
De Barbacena ou de Goiás
Cigarro cavado
Conversa sentada
Já o poema “Hípica”, do livro Pau-brasil, é considerado, pela crítica especializada, um exemplo de poesia cubista, devido à sua fragmentação. Além disso, ele apresenta um caráter regional e nacionalista, já que mostra um aspecto da vida burguesa na cidade de São Paulo:
Hípica
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
→ Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade
Por fim, do livro Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, o poema “Brinquedo” enaltece a modernização da cidade de São Paulo, com destaque para os bondes, telefones e automóveis. Assim, a valorização da tecnologia é um traço futurista do poema.
No mais, o crescimento da cidade, com o surgimento de arranha-céus, não exclui o aspecto da cultura regional, como a presença de “comadres” e “mexericos”:
Brinquedo
Roda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá
Da minha janela eu avistava
Uma cidade pequena
Pouca gente passava
Nas ruas. Era uma pena
[...]
Os bondes da Light bateram
Telefones na ciranda
Os automóveis correram
Em redor da varanda
Roda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá
Brinquedos de comadre
Começaram pela vida
Pela vida começaram
Comadres e mexericos
Roda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá
Depois entrou no brinquedo
Um menino grandão
Foi o primeiro arranha-céu
Que rodou no meu céu
Do quintal eu avistei
Casas torres e pontes
Rodaram como gigantes
Até que enfim parei
[...]
Crédito da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)