Gás lacrimogêneo
Gás lacrimogênio é um termo genérico que se refere a um conjunto de 15 substâncias que são irritantes aos olhos, à pele e às vias aéreas, produzindo lacrimação e sensibilidade. Esses gases possuem baixa toxicidade e seus sintomas são reversíveis.
Essa substância é empregada como arma não letal por forças armadas de segurança pública para conter motins em ambientes abertos, agindo de forma imediata sobre os alvos, sem causar danos permanentes ou fatalidades.
As substâncias irritantes já são conhecidas desde o século XV, mas foi após a Primeira Guerra Mundial que o conhecimento e a aplicação de tais compostos foram ampliados.
Saiba mais: Uso de haletos orgânicos em armas químicas
Resumo sobre gás lacrimogêneo
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Gás lacrimogênio é um termo genérico empregado para se referir a um conjunto de 15 substâncias irritantes.
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Os agentes lacrimogênios são irritantes aos olhos, às vias respiratórias, às mucosas e à pele, causando lacrimejo e extrema sensibilidade.
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São classificados como armas não letais, pois possuem baixa toxicidade.
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Seu uso é proibido em guerras, mas permitido para forças policiais para conter conflitos internos.
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Não deve ser utilizado em ambientes fechados ou com ventilação reduzida, pois a alta concentração pode causar morte.
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As substâncias irritantes mais utilizadas são ortoclorobenzil malononitrila (CS), cloroacetofenona (CN) e dibenzoxazepina (CR).
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Os efeitos causados pelo gás lacrimogênio não são permanentes.
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Permanecer exposto a correntes de ar e lavar o corpo com água fria ou com solução de bicarbonato de sódio são ações que auxiliam na recuperação dos efeitos.
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Não se deve aplicar vinagre doméstico sobre as áreas atingidas, uma vez que ele irrita ainda mais a região.
O que é gás lacrimogêneo?
Gás lacrimogêneo é o nome genérico de um conjunto de substâncias que possuem a capacidade de causar irritação à pele, aos olhos e às vias respiratórias, gerando lacrimejo e sensibilidade. A origem desse termo deriva do latim lacrima, que se refere a “lágrima”.
Essa substância é composta por substâncias químicas irritantes e de baixa toxicidade e pertence ao grupo de armas não letais, que inclui instrumentos como as balas de borracha e as armas de choque.
Sua função é incapacitar o alvo de forma imediata, sem causar ferimentos permanentes ou fatalidades, ou seja, seus efeitos são reversíveis. Forças armadas de segurança pública usam gás lacrimogêneo para controlar motins e manifestações violentas e para dispersão de multidões. O uso em ambientes fechados é totalmente desaconselhável, pois, em alta concentração, a substância pode levar à morte.
Os gases lacrimogêneos podem ser divididos em dois grupos, de acordo com o mecanismo de ação. Assim:
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quando atacam essencialmente os olhos, são constituídos pelas substâncias químicas orgânicas ortoclorobenzil malononitrila (CS), cloroacetofenona (CN) e dibenzoxazepina (CR);
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quando atacam principalmente as vias respiratórias, são constituídos pelo composto químico capsaicina e conhecidos como spray de pimenta. O spray de pimenta tem alcance de menor escala, sendo seu uso mais indicado para defesa pessoal.
As substâncias irritantes que compõem o gás lacrimogêneo, na realidade, não são gases. Elas estão sob a forma de suspensão em aerossol, isto é, pequenas partículas de sólido ou líquido suspensas em um gás propelente.
Essa mistura é pressurizada dentro de granadas ou projéteis que, ao serem acionados, provocam a dispersão do agente químico no ambiente. No instante de acionamento da granada, o calor promove um processo de sublimação, e as substâncias estocadas passam diretamente ao estado gasoso, dispersando-se no ambiente.
Qual a fórmula do gás lacrimogênio?
Compostos químicos que ocasionam lacrimejamento ou irritação ocular podem ser caracterizados como lacrimogêneos. No entanto, o termo “gás lacrimogêneo” se refere ao conjunto de 15 substâncias químicas que são irritantes aos tecidos oculares e às vias respiratórias, mas que possuem baixa toxicidade, baixa letalidade e não são inflamáveis. Por isso, são empregadas como agentes antimotim.
Apesar desse grande conjunto, apenas três dessas substâncias são de uso mais recorrente: a ortoclorobenzil malononitrila (CS), a cloroacetofenona (CN) e a dibenzoxazepina (CR).
Os compostos CS e CN são haletos orgânicos, isto é, compostos derivados de hidrocarbonetos substituídos com pelo menos um átomo de halogênio (cloro, flúor, bromo, iodo). O CS pertence ao grupo das nitrilas, e o CN é uma cetona. Já a estrutura do CR apresenta dois anéis aromáticos e um ciclo de sete membros contendo heteroátomos, sendo representante da classe das oxazepinas.
Por se tratar de moléculas contendo anéis aromáticos, essas substâncias são pouco ou apenas moderadamente solúveis em água e são voláteis à temperatura ambiente. A característica de serem voláteis é primordial no seu espalhamento após a ativação das granadas.
As estruturas dessas moléculas e algumas das características dessas substâncias químicas estão listadas na tabela abaixo|1|.
Nome |
Ortoclorobenzil malononitrila |
Cloroacetofenona |
Dibenzoxazepina |
Sigla |
CS |
CN |
CR |
Fórmula molecular |
C10H5N2Cl |
C8H7ClO |
C13H9NO |
Fórmula estrutural |
|
|
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Volatilidade (mg/m3) |
10 |
105 |
— |
Dose letal* (mg min/m3) |
25.000 |
11.000 |
100.000 |
*Dose letal significa a dosagem química considerada letal para 50% das pessoas expostas a tais substâncias.
O CS é a substância mais utilizada atualmente na composição do gás lacrimogênio, em razão de ser menos tóxica e mais eficiente em comparação às outras espécies químicas da mesma classe. Isso significa que esse gás age mais rapidamente.
O CN já foi a principal substância irritante empregada, mas foi sendo substituído pelo CS, por este ser menos tóxico. O CN possui maior volatilidade em relação ao CS, sendo mais rapidamente disperso após a sua liberação no ambiente. O CS, por ser menos volátil, persiste por mais tempo, portanto sua ação é mais prolongada.
A CR apresenta maior potência e menor toxicidade do que o CS e o CN, porém algumas pesquisas indicam que essa substância causa uma dor mais potente, e seu efeito persiste por maior tempo.
Veja também: Clorofórmio — outro composto pertencente ao grupo dos haletos orgânicos
Aplicações do gás lacrimogêneo
O gás lacrimogêneo é um agente antimotim, classificado como arma não letal por não causar lesões permanentes e irreversíveis, mas incapacitando o alvo de modo imediato e temporário, desde que empregado da maneira correta.
Forças de segurança pública, como policiais e exército, têm permissão de usar o gás lacrimogêneo para o controle de motins e manifestações violentas e na dispersão de multidões. Ou seja, seu uso é legítimo se o objetivo for manter ou restabelecer a ordem pública interna, pois, nesse caso, as concentrações utilizadas e a forma de aplicação promovem apenas danos não permanentes aos alvos atingidos.
No entanto, o gás lacrimogêneo passa a ser classificado como arma química se empregado como método de guerra, sendo essa conduta proibida de acordo com a Convenção de Armas Químicas. Nesse caso, ele pode causar a morte se utilizado em alta concentração.
Gases lacrimogêneos são ativados por meio de sprays ou aerossóis, em formato de granada ou de projéteis, em que ficam pressurizados com gás propelente. Esses recipientes podem liberar o agente lacrimogêneo de forma contínua ou de forma explosiva.
Efeitos causados pelo gás lacrimogênio
O uso de agentes lacrimogêneos em ambientes abertos é permitido. Em ambientes fechados ou com pouca ventilação, seu uso é fortemente desaconselhado. Nesses casos, a alta concentração dos gases que pode ser atingida pode levar à morte, desviando-se do único uso permitido a essas substâncias, que é a de controle de motins.
Sendo agentes principalmente de irritação, os principais sintomas da exposição a tais substâncias são:
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irritação nas áreas expostas aos gases;
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dor nos olhos e lacrimejamento;
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sensação de queimação nas mucosas da boca e narinas;
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tosse e espirros,
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sensação de aperto no peito;
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produção de secreção na traqueia e pulmões.
O início dos sintomas é rápido, apenas após alguns segundos de exposição ao agente químico, mas pode se prolongar por dezenas de minutos ou até algumas horas, diminuindo de intensidade nesse período.
Precauções com o gás lacrimogênio
Ao entrar em contato com agentes lacrimogêneos, o ideal é se afastar da região de contaminação o mais rápido possível, pois suas moléculas permanecem dispersas no ambiente por algum tempo. É importante manter as regiões do corpo que foram atingidas em contato com correntes de ar e não coçar ou esfregar os olhos.
Nos casos de contaminações graves, recomenda-se lavar o corpo com água fria em abundância e, se possível, aplicar solução de bicarbonato de sódio (NaHCO3) 5%. Essa solução age neutralizando as moléculas dos agentes lacrimogêneos.
De acordo com o conhecimento popular, seria indicado o uso de vinagre doméstico (solução aquosa de ácido acético) para a lavagem das regiões atingidas pelo gás lacrimogêneo, acalmando o desconforto gerado. Mas, na realidade, o uso de vinagre não é recomendado, pois é uma substância que também irrita os tecidos, principalmente a região dos olhos.
Os agentes de segurança que executam abordagens com o gás lacrimogêneo devem utilizar óculos vedados, que impedem ou minimizam o contato dos gases com os olhos, e usar máscaras com filtro, impedindo a inalação das espécies químicas irritantes.
Origem do gás lacrimogênio
Ao que tudo indica, a descoberta do gás lacrimogêneo ocorreu de forma empírica. Os primeiros registros datam do final do século XV, quando índios mexicanos criaram uma fumaça lacrimogênea e tóxica por meio da queima da pimenta.
No Brasil, existem registros da descoberta por índios tupinambás do processo de queima da pimenta e geração de uma fumaça tóxica e lacrimejante, a qual passou a ser usada como estratégia de guerra nos conflitos contra inimigos.
O uso controlado de agentes lacrimogêneos por servidores da segurança pública no controle de motins e na dispersão de multidões teve início apenas no século XX. O primeiro registro foi na França — soldados franceses utilizaram bromoacetato de etila na contenção de criminosos.
Os agentes lacrimogêneos se tornaram armas de guerra na Primeira Guerra Mundial e foram amplamente empregados. O conhecimento científico sobre tais espécies químicas foi ampliado nos anos posteriores à Primeira Guerra.
O CS é conhecido desde 1928, quando foi descoberto pela dupla de cientistas americanos Ben Corson e Roger Stoughton. Porém, apenas a partir de 1950 esse gás começou a ser utilizado como substância irritante na composição de armas não letais.
O primeiro registro de síntese da CN em laboratório data de 1869, sob responsabilidade de Carl Graebe, um químico alemão. Seu uso na composição de armas não letais só foi registrado em 1920, ocasião em que foi muito utilizado em conflitos internos na França. Após esse período, o CN foi o agente lacrimogêneo mais empregado no mundo, sendo posteriormente substituído pelo CS.
O CR é a mais recente e a menos conhecida dentre as substâncias irritantes, mesmo tendo sido sintetizada inicialmente em 1962. Alguns estudos indicam que essa substância pode ser até cinco vezes mais potente do que o CS. Até o momento, não há fatos que comprovem o seu emprego contra populações, apesar de haver especulações de seu uso em conflitos mais recentes no Sri Lanka, Egito, Turquia e Ucrânia.
Saiba também: Principais fenóis no cotidiano — quais são eles?
Exercícios resolvidos sobre gás lacrimogêneo
Questão 1
(UFSC 2014 — adaptada) As bombas de gás lacrimogêneo, utilizadas por forças de segurança do mundo inteiro para dispersar manifestações, tiveram destaque em julho de 2013 nas imagens da repressão aos protestos em diversas cidades brasileiras. Os efeitos causados pela exposição ao gás lacrimogêneo demoram cerca de 20 a 45 minutos para desaparecer. Os gases lacrimogêneos comumente utilizados são os irritantes oculares, que apresentam composição química variável, podendo, entre outros, ter agentes ativos como: clorobenzilidenomalononitrilo (I), cloroacetofenona (II), brometo de benzila (III) ou cloro-propanona (IV).
Disponível em: Adaptado. Acesso em: 14 ago. 2013.
A seguir, estão apresentadas as fórmulas estruturais dos agentes ativos do gás lacrimogêneo:
Assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
01. A ordem decrescente do raio atômico dos elementos químicos presentes em I é cloro > nitrogênio > carbono > hidrogênio.
02. As moléculas II e IV apresentam átomo de cloro ligado a átomo de carbono insaturado.
04. A fórmula molecular de I é C10H5N2Cℓ.
08. Os átomos de nitrogênio, cloro e bromo apresentam cinco elétrons na sua camada de
valência.
16. Em II e IV, o átomo de carbono da carbonila apresenta hibridização sp2.
32. Os substituintes do átomo de carbono ligado ao átomo de cloro em IV estão arranjados de acordo com uma estrutura trigonal plana.
64. Em I, II e III, as cadeias carbônicas são classificadas como alicíclicas, normais e
heterogêneas.
Dados: Cℓ (Z = 17), N (Z = 7), C (Z = 6), H (Z = 1), Br (Z=35).
Resolução:
Soma: 01 + 04 + 16 = 21
01. Correta
Com base nos dados de número atômico (Z), sabemos a quantidade de prótons. Quanto maior a quantidade de prótons, maior o raio atômico. Com isso, podemos ordenar esses elementos em ordem decrescente de raio atômico: Cl > N > C > H.
02. Incorreta
As moléculas II e IV apresentam átomo de cloro ligado a átomo de carbono saturado, ou seja, contêm apenas ligações simples.
04. Correta
Ao fazer a contagem dos átomos da molécula, concluímos que sua fórmula molecular é C10H5N2Cℓ.
08. Incorreta
Átomos que pertencem a um mesmo grupo (ou coluna) da tabela periódica possuem o mesmo número atômico. Os elementos cloro e bromo pertencem ao grupo 17 e têm sete elétrons na camada de valência. O nitrogênio faz parte do grupo 15, possuindo cinco elétrons na camada de valência.
16. Correta
O átomo de carbono da carbonila faz uma ligação dupla, caracterizando a hibridização sp2.
32. Incorreta
Os substituintes do átomo de carbono ligado ao átomo de cloro em IV estão arranjados de acordo com uma estrutura tetraédrica, pois possuem hibridização sp3.
64. Incorreta
As estruturas I, II e III possuem cadeias classificadas como aromáticas (e não alicíclicas), mistas (não apenas normais) e homogêneas.
Questão 2
(UEMG 2014) Bombas de gás lacrimogêneo são agentes incapacitantes utilizados para dispersar multidões. Em contato com os olhos, causam lacrimejamento intenso e queimação. Ao serem lançadas, liberam, no momento da explosão, um gás que é composto, basicamente, de 2-clorobenzilideno malononitrilo, o conhecido gás CS. Trata-se, na verdade, de uma substância sólida que, misturada a solventes, toma a forma de aerossol.
Sobre o 2-clorobenzilideno malononitrilo, representado acima, é CORRETO afirmar que
A) possui solubilidade ilimitada em água.
B) é um composto orgânico aromático.
C) apresenta carbonos com geometria tetraédrica.
D) a interação intermolecular predominante é a ligação de hidrogênio.
Resolução:
Alternativa B
A alternativa A está incorreta. A molécula de CS não é solúvel em água de forma ilimitada. Na realidade, ela é parcialmente solúvel em água, pois contém um caráter apolar em razão de ser uma molécula orgânica relativamente grande e ainda conter anéis aromáticos e insaturações.
A alternativa B está correta. Como a estrutura mostra, há a presença de um anel formado por átomos de carbono e hidrogênio com ligações simples e duplas alternadas, caracterizando um anel aromático.
A alternativa C está incorreta. A estrutura não apresenta carbonos com geometria tetraédrica, pois todos os carbonos da molécula formam ligações duplas, possuindo hibridização sp2.
A alternativa D está incorreta. A força intermolecular predominante na molécula é do tipo dipolo induzido ou forças de Van der Waals, que são de fraca interação.
Notas
|1| AMORIM, N. M. et al. Química e armas não letais: gás lacrimogêneo em foco. Química Nova Na Escola. v. 37, n. 2, p. 88-92, mai. 2015.
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